Coluna Foco econômico
Consultas ao BNDES saltam 87,6% puxadas por projetos de infraestrutura
Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 05 de março de 2024A intenção futura de investimento na economia aparentemente ganhou fôlego ao longo do ano passado, conforme sugerem os dados das consultas encaminhadas pelas empresas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Essa comparação, de toda forma, deve ser considerada com alguma cautela diante dos níveis historicamente baixos registrados nesta área nos últimos anos. Num dado adicional e nada desprezível, o desempenho vigoroso das consultas esteve associado ao salto no valor das consultas relacionadas a projetos de investimento no setor de infraestrutura e, dentro do mesmo setor, com destaque para o segmento de atividades auxiliares dos transportes.Em valores correntes, o valor das consultas saltou de R$ 144,330 bilhões para R$ 270,761 bilhões entre 2022 e 2023, num crescimento nominal de 87,60%. Descontada a inflação, o avanço atingiu 79,78% depois de ter avançado 8,76% em 2022. Para relembrar, as consultas naquele ano haviam representado menos de um terço, em valores reais, do que os valores registrados em 2014, quando as consultas haviam alcançado R$ 404,484 bilhões. Há um longo caminho ainda a ser percorrido caso o País pretenda reeditar os níveis de investimento em 2013 e 2014. O dado do ano passado, novamente limitado às consultas, significa uma queda de 32,1% frente ao recorde histórico atingido em 2014 (mas também corresponde ao maior valor na série desde aquele ano, quase uma década atrás).Goiás respondeu por 3,46% do total das consultas registradas pelo BNDES em todo o País no ano passado, o que se compara com uma participação de 2,88% em 2022, refletindo um aumento nominal de 125,49% entre um ano e outro. Em dados não atualizados, as consultas realizadas pelas empresas goianas subiram de R$ 4,150 bilhões para quase R$ 9,359 bilhões. Aqui, cabem as mesmas ponderações devido ao desempenho nada expressivo dos projetos de investimento nos anos anteriores. Tudo considerado, no entanto, os dados indicam uma recuperação a ser melhor avaliada mais à frente, a depender dos próximos números.Novos ventos?O avanço das consultas no ano passado foi liderado pelo setor de infraestrutura, que elevou o valor dos projetos submetidos à análise do BNDES de R$ 59,255 bilhões em 2022 para R$ 126,155 bilhões, num salto de 112,90% em termos nominais (algo como 104,55% depois de descontada a inflação do período). Isso significa que o setor sozinho respondeu por 52,91% do crescimento registrado pelo total das consultas no País. Empresas que atuam no segmento de atividades auxiliares dos transportes apresentaram ao banco de fomento propostas para financiar um total de R$ 38,363 bilhões em novos projetos, correspondendo a 30,41% das consultas no setor de infraestrutura. Na comparação com 2022, quando sua participação no setor havia sido de apenas 3,13%, somando propostas de R$ 1,855 bilhão, as consultas para atividades auxiliares dos transportes aumentou pouco mais de vinte vezes, o que explicou mais da metade (54,57%) do aumento experimentado pelas consultas em infraestrutura.Balanço Ainda na área de infraestrutura, as consultas no setor de energia elétrica avançaram de R$ 17,232 bilhões para R$ 31,533 bilhões, em números aproximados, em alta nominal de 82,99% (ou 76,43% depois de descontada a inflação). Proporcionalmente, no entanto, o grande destaque nesta área ficou para o setor de transporte ferroviário, que teve aprovada recentemente a possibilidade de realização de projetos apenas com autorização do poder concedente (no caso, a Agência Nacional de Transporte Terrestre, a ANTT).As consultas no setor de ferrovias dispararam de R$ 709,579 milhões para R$ 15,553 bilhões, praticamente 22 vezes mais, num salto de 1.996,65% em termos reais. Ainda que em valores mais elevados, as consultas no segmento de transporte rodoviário tiveram desempenho mais modesto, com variação nominal de 39,69% (numa alta de 33,61% depois de descontada a inflação). A valores correntes, os projetos no setor rodoviário somaram R$ 22,457 bilhões no ano passado, saindo de R$ 16,076 bilhões em 2022.O crescimento experimentado pela indústria extrativa parece ter estimulado os projetos nesta área, com o valor das consultas escalando de apenas R$ 315,186 milhões para pouco mais de R$ 9,648 bilhões, num salto de 2.961%. Na indústria de transformação, as consultas subiram de R$ 28,361 bilhões para R$ 50,431 bilhões, correspondendo a uma variação de 77,82%. A principal influência veio do segmento “outros equipamentos de transporte”, com alta de 216,30% nas consultas, que dispararam de R$ 4,899 bilhões para R$ 15,497 bilhões.Ao contrário das tendências indicadas pelos desembolsos e aprovações concedidas pelo BNDES, as consultas experimentaram uma desconcentração quando considerados o porte das empresas. Micro, pequenas e médias empresas, em conjunto, explicaram dois terços do crescimento do total das consultas (mais precisamente, 63,53%), com a contribuição das grandes empresas limitada a 36,46%. Proporcionalmente, as microempresas alcançaram o maior crescimento ao apresentarem ao BNDES projetos no valor de R$ 61,420 bilhões diante de R$ 14,297 bilhões em 2022, representando um salto de 329,61%. Sozinhas, as microempresas responderam por 37,27% do aumento observado para o total das consultas, o que elevou sua participação de 9,91% para 22,68%.No caso das pequenas empresas, as consultas aumentaram 81,13% em termos nominais, saindo de R$ 27,175 bilhões para R$ 49,223 bilhões, enquanto as médias elevaram as propostas de investimento de R$ 34,174 bilhões para R$ 45,331 bilhões, algo como 32,65% a mais. Entre as empresas de maior porte, as consultas registraram elevação de 67,12%, saindo de R$ 68,684 bilhões para R$ 114,786 bilhões, enquanto sua participação no total recuou de 47,59% para 42,39%.