Consultas ao BNDES em Goiás saltam 125%, crédito avança e aprovação cai

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 06 de março de 2024

Os dados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para Goiás sugerem um cenário de possível retomada do investimento, a se considerar o desempenho mais do que vigoroso apresentado pelas consultas – primeira etapa no processo de contratação de empréstimos e financiamentos do banco de fomento por empresas e governos. As consultas expressam, teoricamente, a disposição daqueles setores para investir em novos projetos, com o suporte financeiro da instituição. No ano passado, o BNDES recebeu propostas de financiamento no valor de R$ 9,359 bilhões em Goiás, o que correspondeu a um incremento de R$ 5,208 bilhões em comparação com consultas totais de R$ 4,150 bilhões em 2022, num salto de 125,49% em termos nominais. Descontada a inflação, registrou-se uma elevação real de 116,09%.

As estatísticas do BNDES, divulgadas no começo da semana, não incluem dados desagregados por setor de atividade, o que torna mais difícil avaliar em quais áreas de fato a demanda por crédito para investimento tem crescido e onde, eventualmente, o fôlego é menor. De toda forma, trata-se de uma sinalização positiva depois de um período de retração do investimento. Em todo o País, como já registrado, as consultas cresceram quase 80% em termos reais, aproximando-se de R$ 270,761 bilhões, correspondendo a 2,49% do Produto Interno Bruto (PIB), acima da participação de 1,43% registrada em 2022.

Incertezas

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A etapa seguinte no processo de contratação de crédito no BNDES, ao contrário, sugere um possível (mas não obrigatório) recuo dos desembolsos nos próximos meses no Estado. O valor dos projetos aprovados para Goiás pela equipe técnica e pelo comitê de crédito do BNDES sofreu baixa de 11,22% em termos nominais, baixando de quase R$ 6,40 bilhões em 2022 para R$ 5,681 bilhões em 2023. Essa relação entre aprovações e desembolsos não é automática, já que a liberação do crédito pode ocorrer ao longo de períodos superiores ao exercício civil. Apenas como referência, as aprovações entre 2021 e 2022 mais do que triplicaram, avançando de R$ 1,993 bilhão para aqueles quase R$ 6,40 bilhões. Mas os desembolsos no ano passado anotaram variação de 15,07% em termos nominais ou quase 10,3% a valores de dezembro de 2023. Assim como no caso das consultas, as estatísticas sobre as aprovações não trazem dados abertos por segmento da economia, dificultando comparações mais detalhadas.

Balanço

  • Diante do avanço anotado no ano passado, os desembolsos atingiram R$ 3,614 bilhões diante de R$ 3,141 bilhões em 2022, num incremento equivalente a R$ 473,215 milhões. Em 2022, o crescimento havia sido de 76,72% em termos nominais, considerando um desembolso próximo de R$ 1,777 bilhão em 2021.
  • Considerando os dados de 2023, o desempenho dos desembolsos no Estado foi determinado principalmente pelo crescimento observado no setor agropecuário, que tomou emprestado perto de R$ 1,490 bilhão no período, respondendo por 41,21% do desembolso total. Em relação a 2022, os desembolsos destinados ao setor aumentaram 25,67% a valores não atualizados com base na inflação, diante de R$ 1,185 bilhão liberados naquele ano, correspondendo a 37,74% do crédito total.
  • A contribuição do setor para o crescimento total dos desembolsos chegou a 64,30%, a se considerar o acréscimo de R$ 304,30 milhões anotado pelos recursos liberados pelo banco para a agropecuária goiana. Dentro do setor, quase dois terços do crescimento anotado podem ser explicados pelo desempenho dos 20 maiores projetos contemplados pelo banco de fomento. Embora essas duas dezenas de projetos tenham respondido por 27,54% do crédito liberado para o setor como um todo.
  • A indústria de transformação surge como segundo destaque quando considerada sua contribuição para o crescimento geral dos desembolsos. Os recursos contratados e liberados para o setor subiram de R$ 426,276 milhões em 2022 para R$ 650,274 milhões no ano passado, num salto nominal de 52,55% (ou seja, R$ 223,998 milhões a mais).
  • Todo o crescimento experimentado naquela área, de toda forma, deveu-se quase exclusivamente à indústria de alimentos e bebidas, que recebeu R$ 313,342 milhões em 2023, passando a responder por 48,19% do crédito contratado pela indústria. No ano anterior, o segmento de alimentos e bebidas havia contratado R$ 57,607 milhões, apenas 13,51% do crédito recebido pelo setor industrial como um todo. Na comparação entre os dois números, os desembolsos para a indústria de alimentos e bebidas disparou, saltando 443,93%. Essa variação correspondeu a um acréscimo, em valores nominais, de R$ 255,735 milhões.
  • Os desembolsos para o restante da indústria, excluído o setor de alimentos e bebidas, baixaram 8,61%, saindo de R$ 368,669 milhões para R$ 336,932 milhões (quer dizer, R$ 31,737 milhões a menos).
  • O crédito para a infraestrutura encolheu 18,19% na passagem de 2022 para 2023, caindo de R$ 1,146 bilhão para R$ 937,609 milhões, numa perda de R$ 208,464 milhões. O desempenho dos subsetores indica alguma disparidade e extremos. As atividades auxiliares dos transportes, por exemplo, contrataram R$ 394,874 milhões no ano passado, diante de apenas R$ 46,047 milhões em 2022, num incremento de nada menos do que 757,55% (R$ 348,827 milhões adicionais).
  • Mas o crescimento foi ofuscado pelos tombos de 99,85% e de 13,13% registrados nos subsetores de construção e de transporte rodoviário. Pela ordem, os desembolsos desabaram de R$ 481,091 milhões para meros R$ 740,0 mil e baixaram, no segundo caso, de R$ 530,633 milhões para R$ 460,961 milhões.