Indústria tropeça em janeiro, mas custos industriais voltam a cair

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 07 de março de 2024

A indústria devolveu em janeiro todo o ganho realizado em dezembro do ano passado, quando a produção industrial havia registrado elevação de 1,6% no segundo avanço mensal consecutivo depois da estagnação observada em outubro, descontados fatores sazonais, ou seja, ocorrências e eventos que se repetem nos mesmos períodos todos os anos (a exemplo de feriados). No primeiro mês deste ano, o setor experimentou recuo de 1,6%, com perdas de 6,1% para a indústria extrativa e recuo de 0,3% no setor de transformação, sempre tomando dezembro do ano passado como base. O movimento veio acompanhado de uma redução nos custos industriais, medidos pelo Índice de Preços ao Produtor (IPP) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que acompanha os preços de bens industriais “na porta de fábrica” nas indústrias extrativas e de transformação.

O IPP ficou negativo pelo terceiro mês consecutivos, num período em que o levantamento do IBGE anotou baixas de 0,34% em novembro, de 0,20% em dezembro e de 0,31% em janeiro deste ano, sempre em relação aos meses imediatamente anteriores já com ajustes sazonais, numa queda acumulada de 0,85% no período. O indicador havia saído de uma sequência de três altas mensais registradas entre agosto e outubro, quando chegou a acumular um avanço de 2,91%. Na comparação entre janeiro deste ano e o primeiro mês de 2023, o IPP anota variação negativa de 5,56% – em grande medida por conta do tombo de 7,44% ocorrido entre janeiro e julho do ano passado.

A principal influência na queda do IPP em janeiro, comparado a dezembro, veio da redução de 4,77% registada no segmento de refino de petróleo e biocombustíveis, responsável por uma contribuição negativa de 0,51 pontos percentuais no indicador geral (o que significa dizer que, na média, os demais produtos e insumos industriais subiram 0,2%). Entre janeiro de 2023 e o mesmo mês deste ano, os preços no mesmo setor desabaram 18,26%, respondendo por 2,15 pontos percentuais negativos na composição do índice geral ou 38,7% da queda de 5,56% do IPP. Mas houve baixas de 15,87% para outros produtos químicos, de 12,88% no segmento de papel e celulose e de 8,85% na metalurgia.

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Nem tudo perdido

Ainda segundo o IBGE, responsável também pela pesquisa mensal da produção industrial, a queda em janeiro deste ano “eliminou parte da expansão de 2,9% acumulada no período agosto-dezembro de 2023”. De fato, na comparação entre janeiro último e julho do ano passado, o ganho foi reduzido a menos da metade, para alguma coisa inferior a 1,3%.

De toda forma, analisa o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), nem todo o avanço anterior foi dissipado. “Dezembro trouxe um alento passageiro, mas não totalmente perdido”, sugere o instituto. Entre outros motivos porque a produção cresceu 3,6% em relação ao mês inicial do ano passado, muito embora a base utilizada para comparação seja muito baixa, o que não anula a tendência mais recente de alguma melhoria nesta área.

Balanço 

  • O resultado negativo de janeiro, novamente tomando dezembro de 2023 para comparação, concentrou-se em duas das quatro grandes categorias econômicas investigadas, com perdas de 2,4% para os bens intermediários e recuo de 1,0% na produção de bens semiduráveis e não duráveis, afetando ainda seis ou 24% dos 25 ramos industriais pesquisados.
  • As quedas mais expressivas atingiram os setores de confecções, que reduziu a produção em 6,4%; indústria extrativa, em baixa de 6,3% diante de dezembro; e produtos alimentícios, numa queda de 5,0% na mesma comparação, depois de ter crescido 4,3% na saída de novembro para dezembro. As indústrias dedicadas à extração de minérios e petróleo, registra o IBGE, haviam crescido fortemente entre julho e dezembro do ano passado, num salto de 11,3% no acumulado do período.
  • O Iedi destaca que a variação de 3,6% registrada frente a janeiro do ano passado, ainda que as bases de comparação muito modestas tenham ajudado, “foi a mais elevada desde junho de 2021 (alta de 12,1%), quando o setor ainda respondia aos efeitos negativos da pandemia de Covid-19 do ano anterior.
  • Nessa mesma comparação, a indústria de bens de capital chegou a avançar 0,4%, mas havia desabado 15,9% em dezembro, quando fechou um ciclo de nove meses de perdas em sequência. O setor igualmente conseguiu elevar a produção em relação a janeiro de 2023, operando um avanço de 5,2% (o maior desde a alta de 5,4% registrada em agosto, diante de julho). Em 12 meses, no entanto, persiste uma queda de 10,6%.
  • A produção de bens de capital para a própria indústria, aponta o Iedi, anotou expansão de 2,6% em relação a janeiro do ano passado, um sinal de todo modo positivo. “Este resultado, que funciona como uma proxy (aproximação) parcial dos investimentos industriais, pode vir a ser uma quebra de tendência importante, já que, trimestre após trimestre, só se verificou sinal negativo neste segmento da indústria de bens de capital desde o final de 2021”, observa o instituto.
  • Embora sua produção tenha sido reduzida em 2,4% de dezembro para janeiro deste ano, o setor de bens intermediários cresceu 4,8% em relação a janeiro do ano passado, na sexta elevação consecutiva, passando a acumular ligeiro ganho de 0,9% em 12 meses.
  • A indústria de bens duráveis aumentou sua produção em 1,4% tanto na comparação com dezembro do ano passado, no dado dessazonalizado, quanto frente a janeiro de 2023, acumulando variação de meros 0,4% em 12 meses. A situação foi menos promissora para a indústria de bens semiduráveis e não duráveis em função da queda de 1,0% observada em janeiro na comparação com dezembro (quando o setor não havia registrado crescimento). Em relação ao primeiro mês de 2023, no entanto, a produção avançou 2,6% e passou a registrar elevação de 1,9% em 12 meses.
  • A comparação interanual aponta ainda crescimento de 3,1% para a indústria de transformação e salto de 6,5% para a extrativa, levando o resultado acumulado em 12 meses para 7,4% no segundo caso e reduzindo a perda, no primeiro setor, de 1,0% para 0,8% igualmente em 12 meses.
  • O setor de transformação voltou a conviver com uma espécie de “efeito gangorra” nos últimos meses, agora considerando dados mensais dessazonalizados. Depois de recuar em junho e julho (-0,3% e -0,4% respectivamente), a indústria do setor cresceu 1,3% em agosto, mas sofreu baixa de 0,7% em setembro para avançar 0,2% em outubro e retomar a queda em novembro, recuando 0,1%. O dado de dezembro havia trazido alta de 0,7%, mas foi seguido por mais uma queda em janeiro deste ano, quando a produção encolheu 0,3%.