Desemprego de longa duração cai e explica queda na desocupação total

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 23 de agosto de 2023

A tendência mais recente de redução no total de pessoas sem ocupação pode ser explicada, inicialmente, pelo crescimento no número de trabalhadores fora da força de trabalho, ou seja, que desistiram de buscar uma colocação no mercado, seja qual o motivo para isso. Mas outra parte da explicação está na queda expressiva do chamado desemprego de longa duração, envolvendo aqueles trabalhadores que estavam desempregados a mais de um ano e especialmente entre os que estavam à procura de uma ocupação há dois ou mais anos.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), conforme já divulgado, mostraram no segundo trimestre deste ano uma redução expressiva no total de desempregados, num recuo de 14,2% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Em números absolutos, o número de pessoas desocupadas caiu de 10,080 milhões no segundo trimestre de 2022 para 8,647 milhões em igual período deste ano, significando que perto de 1,433 milhão de trabalhadores teriam deixado o desemprego.

De toda forma, a conclusão acima não é inteiramente verdadeira, já que o mercado de trabalho conseguiu absorver apenas 641,0 mil dos trabalhadores que haviam há pouco deixado a situação de desocupados, pois o total de ocupados variou apenas 0,7% na mesma comparação, saindo de 98,269 milhões para 98,910 milhões. Mais claramente, em torno de 55,3% daquele contingente, algo como 793,0 mil trabalhadores, não conseguiram uma ocupação, ainda que no setor informal. Esse grupo simplesmente deixou a força de trabalho, o que evitou que o desemprego fosse maior, com uma parcela adicional de trabalhadores desistindo de procurar emprego.

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Fora da força

A população total em idade ativa (aqueles com 14 anos ou mais de idade), evidentemente, continuou crescendo, num avanço de 0,9% entre o segundo trimestre de 2022 e o mesmo período deste ano, passando de 173,068 milhões para 174,607 milhões, deixando mais 1,539 milhão de pessoas aptas a participar do mercado de trabalho. O resultado foi um aumento de 3,6% no total de trabalhadores fora da força de trabalho entre os dois períodos analisados, saindo de 64,719 milhões para 67,051 milhões – quer dizer, mais 2,332 milhões de trabalhadores (incluindo 1,539 milhão de pessoas recém-chegadas à população em idade ativa e 793,0 mil que deixaram a condição de desocupados, mas que não haviam conseguido algum tipo de colocação no período da pesquisa). A situação se complica porque, como já analisado neste espaço, a relação entre o número de trabalhadores na força de trabalho e o total de pessoas em idade ativa recuou de 62,5% no segundo trimestre de 2022 para 61,6% no mesmo intervalo deste ano.

Balanço

  • Aquele percentual corresponde à “taxa de participação na força de trabalho”, ou seja, à relação entre as pessoas que continuaram ocupadas ou desocupadas, mas ainda em busca de colocação, e o total de brasileiras e brasileiros com 14 anos de idade ou mais. Numa estimativa, caso aquela taxa tivesse se mantido nos mesmos 62,5%, provavelmente a taxa de desemprego teria alcançado 9,5% – quer dizer, um ponto percentual e meio acima dos 8,0% de fato verificados pelo IBGE.
  • Naquela hipótese, a força de trabalho teria registrado perto de 109,312 milhões de trabalhadores, em torno de 1,755 milhão de pessoas a mais do que o dado efetivamente registrado pela PNADC, mais próximo de 107,557 milhões (perto de 793,0 mil a menos do que os 108,349 milhões observados no segundo trimestre do passado, numa redução de 0,7%). Dada a dinâmica atual observada no mercado de trabalho, pode-se considerar que dificilmente seria possível gerar ocupações para todos aqueles 1,755 milhão de trabalhadores que passariam a engrossar a força de trabalho.
  • Isso corresponderia a um aumento na mesma proporção para o total de desempregados, que tenderia a crescer qualquer coisa ao redor de 20,3%. Assim, com uma taxa de participação mais alta do que a realmente anotada pela pesquisa, perto de 10,402 milhões de trabalhadores estariam no desemprego.
  • Na visão de economistas mais ortodoxos, isso deixaria o mercado de trabalho “menos pressionado”, acionando uma tendência de redução nos rendimentos médios, com efeitos sobre o consumo das famílias e, em consequência, sobre os preços de bens e serviços, derrubando a inflação. O custo, obviamente, seria um desemprego mais alto, com sequelas físicas e emocionais sobre o bem-estar das famílias.
  • Considerando as estatísticas aferidas pela PNADC, observa-se ainda uma alteração na composição dos desocupados, como já anotado, refletida numa redução nos números do desemprego de longa duração. Esses dados mostram que o total de desocupados foi reduzido de 10,080 milhões para 8,647 milhões entre o segundo trimestre do ano passado e igual período deste ano, com 1,433 milhão de desempregados a menos. O total de trabalhadores desempregados e que continuaram tentando uma colocação a mais de um ano, por sua vez, baixou de 4,212 milhões para 2,992 milhões, num tombo de praticamente 29,0% – ou seja, 1,220 milhão a menos, numa contribuição de 85,1% para a queda no desemprego total. A participação desse contingente no total de desocupados baixou de 41,8% para 34,6%, aproximando-se dos 34,4% registrados no segundo trimestre de 2012.
  • Entre esses desempregados de longa duração, aqueles sem uma ocupação a dois ou mais anos foram reduzidos em 31,7%, caindo de 2,985 milhões para 2,040 milhões, o que significa dizer que 945,0 mil deixaram aquela condição. Aqueles desempregados há mais de um ano e menos de dois anos registraram baixa de 22,4%, de 1,227 milhão para 952,0 mil (275,0 mil a menos).