Desemprego recorde, queda na renda das famílias e fechamento de empregos

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de maio de 2021

Para um País que se recusou a adotar medidas mais duras contra a pandemia a pretexto de preservar a economia e salvar empregos, os dados da mais recente edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desabam como uma bomba neste começo de ano. As estatísticas divulgadas ontem pelo instituto mostram a destruição de empregos causada pela escalada descontrolada dos casos de contágios e dos mortos pelo Sars-CoV-2 e pelos erros em série na condução da política econômica, com avanço recorde do desemprego em todo o País e também em Goiás, a perda continuada de renda para as famílias e alta ainda no número de pessoas desalentadas diante das dificuldades de conseguir uma ocupação.

O retrato do mercado de trabalho não favorece e na prática desautoriza a retórica do desgoverno federal e de alguns empresários. A melhoria alardeada não veio e, na verdade, houve uma piora em todos os principais indicadores nesta área. Na contramão dos dados trazidos pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a PNADC aponta o fechamento de 529,0 mil empregos no primeiro trimestre deste ano, em relação ao trimestre final de 2020, com o total de ocupações saindo de 86,179 milhões para 85,650 milhões, num recuo de 0,6%. Na comparação com o trimestre finalizado em março de 2020, quando a pesquisa registrava 92,223 milhões de ocupados, houve um corte de 6,573 milhões de vagas, representando 7,1% a menos.

O total de pessoas desempregadas, assim como a taxa de desemprego, além do número de pessoas desalentadas e de trabalhadores subutilizados atingiram os níveis mais altos em toda a série histórica, iniciada em 2012. A pesquisa passou a relacionar 14,805 milhões de desempregados, numa lata de 6,3% em relação ao último trimestre do ano passado, quando haviam sido registrados 13,925 milhões de trabalhadores em emprego (ou seja, mais 880,0 mil pessoas engrossaram a fila do desemprego). A taxa de desocupação saiu de 13,9% no quarto trimestre de 2020 para 14,7% no trimestre seguinte, depois de chegar a 12,2% nos três primeiros meses de 2020, momento em que a economia observava 12,850 milhões desempregados. Em um ano, o número saltou 15,2%, o que significou 1,956 milhão de desocupados a mais.

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Os “descartáveis”

Os trabalhadores em desalento passaram a somar 5,970 milhões ao final do primeiro trimestre deste ano, quase 1,2 milhão mais do que os 4,770 milhões de desalentados registrados em igual período do ano passado. O total de trabalhadores desempregados, em desalento ou incluídos na força de trabalho potencial (que inclui aqueles desempregados que desistiram e procurar emprego, mas continuam dispostos a trabalhar), classificados em conjunto na categoria de “subutilizados”, avançou de 27,620 milhões nos três primeiros meses de 2020 para 32,031 milhões no trimestre final daquele ano, alcançando o recorde de 32,202 milhões no trimestre inicial de 2021. Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, a alta foi de 3,7% (com 1,171 milhão de trabalhadores a mais incluídos naquela categoria). Em 12 meses, o salto chegou a 20,2%, representando mais 5,582 milhões de pessoas “descartáveis” para o mercado de trabalho, ou seja, em situação de subutilização.

Balanço

  • Conforme já comentado neste espaço, os dados do desemprego têm sido de certa forma camuflados pelo número ainda muito elevado de pessoas fora do mercado. Esse contingente manteve-se próximo a 76,483 milhões de pessoas no primeiro trimestre do ano, praticamente repetindo o dado do quarto trimestre, mas 9,202 milhões acima do dado do trimestre inicial de 2020 (em alta de 13,7%).
  • Desalentados e aqueles incluídos na força de trabalho potencial representavam pouco mais de um quinto daquele total (mais precisamente 22,7%), diante de uma participação de 19,4% nos primeiros três meses do ano passado. Somando as duas categorias ao total de desempregados, o resultado mostraria 32,140 milhões de trabalhadores sem emprego, incluindo aqueles que continuaram em busca de uma ocupação (que representavam, até março passado, 46,1% daquele total).
  • Neste caso, a taxa de desemprego “potencial” (na falta de um termo mais apropriado) estaria em torno de 31,2%, ou seja, pouco mais de duas vezes acima da taxa de desocupação apontada pela pesquisa. No mesmo cálculo, o número chegava a 25,923 milhões nos três meses iniciais de 2020, o que demonstra uma alta de 24,0% desde lá.
  • Ao contrário do que vinha ocorrendo nos primeiros meses da pandemia, neste ano o emprego formal tem sido mais castigado, contrariando mais uma vez os dados do Caged. Em um ano, entre o primeiro trimestre do ano passado e o mesmo período deste ano, o número de trabalhadores informais passou de 36,806 milhões para 33,960 milhões, numa redução de 7,7%. Foram encerrados, portanto, 2,846 milhões de ocupações informais, representando 43,3% do total de empregos perdidos no período.
  • Enquanto os informais mantiveram certa estabilidade na passagem do quarto para o primeiro trimestre, numa variação de -0,2%, o total de empregos formais (em contraposição à conta da informalidade feita pelo IBGE) baixou 0,9%, saindo de 52,150 milhões para 51,690 milhões. Foram encerradas 460,0 mil vagas, perto de 87,0% do total de ocupações perdidas no período. Essa variação, na contabilidade do IBGE, é classificada como “estabilidade”.
  • Mas, desde o primeiro trimestre do ano passado, quando se estimava um total de 55,417 milhões de ocupações formais, a queda foi de 6,7%, correspondendo ao encerramento de 3,727 milhões de vagas. Em outros termos, o setor formal do mercado de trabalho foi responsável por 56,7% dos empregos encerrados nos 12 meses analisados.
  • Em Goiás, o desemprego foi igualmente recorde, atingindo 485,0 mil trabalhadores, em alta de 10,3% em relação ao trimestre imediatamente anterior e de 14,7% frente ao primeiro trimestre de 2020. A taxa de desemprego avançou de 11,3% no começo do ano passado para 13,5% no trimestre inicial deste ano, também a mais elevada da série histórica, depois de alcançar 12,4% no quarto trimestre de 2020.
  • O total de ocupados manteve-se estagnado na saída do último trimestre do ano passado para o primeiro deste ano, somando 3,1 milhões de pessoas. Mas registrou-se o encerramento de 211,0 mil ocupações desde os primeiros três meses de 2020, representando queda de 6,4% no número de pessoas ocupadas.