Economia perdeu pouco mais de 8,6 milhões de empregos desde 2019

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 02 de julho de 2021

Na fase mais dura das medidas de distanciamento e de restrições aos negócios e empresas, o mercado de trabalho chegou a perder 12,886 milhões de empregos, o que significou uma queda de 13,6% quando comparado o último trimestre de 2019 e os três meses finalizados em agosto do ano passado. O total de pessoas ocupadas despencou de 94,552 milhões para 81,666 milhões, menor nível da série histórica. Dali em diante, até o trimestre móvel encerrado em abril deste ano, foram retomadas 4,274 milhões de ocupações, pouco menos de um terço dos empregos perdidos a partir do final de 2019, como mostram as séries de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mesmo essa tímida reação, que ocorre apenas em relação aos dados muitos ruins de 2020, deve ser considerada com cautela. Trabalhadores informais responderam por mais de 74 a cada 100 novos empregos gerados naquele período mais recente, o que coincide precisamente com uma fase de liberação gradual das atividades econômicas e com o fim do auxílio emergencial, elevando o número de trabalhadores sem registro formal. Pelos critérios do IBGE, o total de informais no mercado de trabalho avançou de 31,043 milhões para 34,222 milhões entre o trimestre finalizado em agosto de 2020 e abril deste ano, correspondendo a 3,179 milhões de ocupações a mais (alta de 10,2%). No segmento formal do mercado, por contraposição, o avançou ficou limitado a 2,2%, com número de empregados e empregadores com registro avançando de 50,623 milhões para 51,718 milhões (mais 1,095 milhões).

“Déficit” de emprego

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Persiste ainda um saldo negativo em todo o mercado de trabalho na comparação entre abril deste ano e dezembro de 2019, correspondendo ao encerramento de 8,612 milhões de vagas, sinalizando queda de 9,1% no período – sempre considerando os trimestres móveis terminados em cada um dos meses mencionados. Um dos pontos a demonstrar a crise instalada no setor está precisamente no fato de o emprego continuar murchando, ao mesmo tempo em que o desemprego mantém uma trajetória firme de crescimento, confirmando que a melhoria sugerida por alguns indicadores econômicos não tem sido acompanhada pelo mercado de trabalho. E este continua sendo um obstáculo de peso para uma recuperação sustentada e de prazos mais longos da atividade econômica.

Balanço

  • O número de trabalhadores desempregados havia subido 18,6% entre o trimestre final de 2019 e os três meses terminados em agosto de 2020, saindo de 11,632 milhões para 13,794 milhões, com mais 2,162 milhões de pessoas lançadas ao desemprego. O total de desocupados avançou mais 7,0% até o trimestre fevereiro-abril deste ano, passando a somar 14,761 milhões, praticamente 3,129 milhões a mais do que em dezembro de 2019 (num salto de 26,9%).
  • O dado, embora dramático, não reflete a realidade totalmente, já que os números da desocupação no País continuam sendo “camuflados” pelo número ainda muito elevado de pessoas fora do mercado de trabalho, parcela das quais em situação de desalento. Ao final do trimestre fevereiro-abril deste ano, pouco mais de 76,383 milhões de trabalhadores estavam fora da força de trabalho porque simplesmente desistiram de buscar uma colocação diante da falta de opções.
  • Comparado ao trimestre final de 2019, aquele contingenteapresentou alta de 16,7%, o que significou um acréscimo de 10,954 milhões no total de pessoas fora do mercado. Ainda em 2019, o pessoal fora da força representava 38,13% da população em idade ativa, com 14 anos ou mais de idade, percentual elevado para 43,13% em abril deste ano. Supondo que esse contingente retomasse níveis semelhantes aos registrados no último trimestre de 2019, em torno de 8,86 milhões teriam retornado à força de trabalho, o que faria o total de desempregados aumentar 60,0%, para 23,622 milhões.
  • Entre os trabalhadores que estão fora da força de trabalho, o número de desalentados bateu em 5,967 milhões em abril deste ano, acumulando alta de 29,2% em relação ao último trimestre de 2019, quando as pessoas em desalento chegavam a 4,620 milhões.
  • Nos primeiros meses da pandemia, o mercado informal chegou a ser mais afetado, perdendo 7,325 milhões de ocupações entre dezembro de 2019 e agosto do ano seguinte (novamente considerando os trimestres encerrados naqueles meses). O número de informais caiu de 38,368 milhões para 31,043 milhões. O segmento foi responsável por quase 57,0% das perdas de empregos registradas no período.No setor formal, foram perdidos 5,561 milhões de empregos, numa redução de 9,9% (de 56,184 milhões para 50,623 milhões).
  • Entre agosto de 2020 e abril deste ano, conforme já anotado acima, a informalidade voltou mais forte, até pelas opções menores abertas no setor formal do mercado. Mas, considerando o período todo analisado, ou seja, entre o trimestre final de 2019 e o trimestre fevereiro-abril de 2021, os dados mostram impactos nas duas áreas, com baixa de 10,8% entre os informais, que caíram de 38,368 milhões para 34,222 milhões, com fechamento de 4,146 milhões de ocupações. O total de formais apresentou queda de quase 8,0%, saindo de 56,184 milhões para 51,718 milhões, encerrando-se perto de 4,466 milhões de vagas. Ou seja, o mercado formal respondeu pelo fechamento de 51,9% de todos os empregos perdidos no período, com contribuição negativa de 48,1% para o segmento informal.