Exploração de lítio deve receber investimentos de R$ 2,18 bilhões

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 29 de outubro de 2022

Estimulada pelo avanço dos carros elétricos, a demanda global por lítio deverá experimentar pelo menos uma década de crescimento acentuado, o que vai estimular os investimentos no setor, inclusive no Brasil, acredita Vinícius Alvarenga, CEO da Companhia Brasileira de Lítio (CBL). O mercado brasileiro, complementa Júlio Nery, diretor de sustentabilidade e de assuntos regulatórios do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), deverá receber investimentos estimados em US$ 412,3 milhões nos próximos cinco anos (em torno de R$ 2,18 bilhões), na contagem do governo, concentrados no projeto de instalação das unidades da Sigma Lithium e na expansão da CBL no Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais.

O Brasil registrava, até 2017, reservas lavráveis ao redor de 54,0 mil toneladas, a sexta maior no mundo, mas bem distante dos líderes Bolívia e Chile, com 9,0 milhões e 7,5 milhões de toneladas, respectivamente, conforme dados do United States Geological Survey (USGS), o Serviço Geológico dos Estados Unidos, e da Agência Nacional de Mineração (ANM). A edição em 5 de julho deste ano do decreto 11.120, afirma Nery, imprimiu um “enfoque mais liberal ao comércio de lítio e de produtos que têm o lítio em sua composição”, escancarando o mercado para importações.

As restrições, definidas pelos decretos 2.413/1997 e 10.577/2020, atingiam principalmente a compra de hidróxido de lítio importado, conforme Nery, destinado, entre outras aplicações, ao setor de fabricação de graxas e lubrificantes para a indústria de petróleo e perfurações. “O Brasil tem uma boa base para produzir o lítio a partir do espodumênio (minério no qual está contido o lítio), a custos mais competitivos do que o mineral presente em salares” (caso da Bolívia), comenta. A medida, na sua avaliação, deverá tornar viáveis projetos como o tocado pela Sigma Lithium.

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Comissionamento

Segundo Ana Cabral-Gardner, Co-CEO da empresa, a Sigma deverá realizar entre novembro e dezembro o comissionamento de sua planta de pré-químicos de lítio, em fase final de construção na divisa entre os municípios de Araçuaí e Itinga, no Vale do Jequitinhonha. Em sua primeira fase, o projeto deverá atingir uma produção em torno de 37,0 mil toneladas de carbonato equivalente de lítio. No ano seguinte, a capacidade deverá avançar para 72,0 mil toneladas. Todo o projeto, que envolve a planta industrial e ainda a mina de Grota do Cirilo, na mesma região, deverá exigir um investimento ao redor de R$ 1,2 bilhão.

Balanço

  • Operada pela boutique A10 Investimentos, que detém aproximadamente 40% de suas ações, com participação ainda das gestoras de ativos BlackRock e JGP, entre outros investidores, a Sigma responderá pela “primeira planta greentech de produção de insumo de lítio pré-químico do mundo”, afirma Ana. A capacidade de produção de concentrado de lítio, na primeira fase, deverá alcançar perto de 240,0 mil toneladas, chegando a 450,0 mil toneladas em sua segunda etapa, conforme registros da ANM.
  • A produção do minério acrescenta vantagens competitivas à operação no semiárido mineiro, mas não será o negócio principal da companhia, focada na produção de “pré-químicos de altíssima pureza”, na descrição da executiva, também co-fundadora da A10 Investimentos. “Uma tonelada de minério, a valores atuais, corresponde a US$ 80, diante de aproximadamente US$ 6,5 mil para a tonelada do composto de lítio grau bateria que entregamos ao cliente”, argumenta.
  • Controlada integralmente por capital nacional, a CBL já vem se preparando para acompanhar a evolução projetada para o setor. “Temos investido constantemente em melhorias operacionais, estamos tocando o projeto de indústria 4.0 e nosso objetivo é incrementar a competitividade em toda a operação, que é toda integrada, envolvendo lavra, produção de concentrado e produção de compostos químicos de lítio”, resume Vinícius Alvarenga, CEO da empresa.
  • Há dois anos, a mineradora investiu na expansão de sua operação, elevando a produção de concentrado de espodumênio, de onde é retirado o lítio, de 12,0 mil para 40,0 mil toneladas anuais. O minério é extraído da Mina da Cachoeira, implantada em Itinga (MG), no Vale do Jequitinhonha, com reservas estimadas em perto de 4,0 milhões de toneladas.
  • O concentrado segue para a planta química de Divisa Alegre, onde a empresa adota rota ácida para produzir carbonato de lítio e hidróxido de lítio, e que teve sua capacidade recentemente ampliada de 1,0 mil para 1,5 mil toneladas por ano de carbonato de lítio equivalente. “A produção de químicos de lítio de alta pureza a partir do espodumênio, mais demandados para a produção de baterias, só ocorre na China e no Brasil”, destaca Alvarenga.
  • Por enquanto, diante da ausência de fábricas de bateria de íon-lítio no País, toda a ampliação realizada mais recentemente teve como propósito atender à demanda internacional. “Nosso foco, no entanto, sempre foi o mercado doméstico”, acrescenta Alvarenga. A recente liberação do mercado brasileiro, sugere ele, abriu a perspectiva de aumento das exportações. Atualmente, dois terços da produção de concentrado e aproximadamente um terço dos compostos químicos produzidos pela CBL têm o mercado externo como destino.
  • Sem adiantar valores, Alvarenga acrescenta que a companhia tem intensificado investimentos em pesquisa geológica com o objetivo de identificar novos recursos minerais na região do Jequitinhonha.
  • Segundo ele, os mercados de aplicações industriais para o lítio grau técnico, envolvendo desde graxas lubrificantes, cerâmicas e vidros especiais até o setor de metalurgia, e de compostos químicos de pureza elevada, destinados à indústria farmacêutica para a produção, entre outros, de medicamentos psiquiátricos, têm crescido de forma orgânica ano a ano. Mas o consumo mundial do chamado lítio bateria experimentou aceleração vigorosa nos últimos cinco anos, por conta exatamente do mercado de veículos elétricos.