Exportações do agronegócio atingem novo recorde, mas há riscos adiante

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 18 de junho de 2021

Embora venham apresentando um dinamismo menor do que o restante do setor em todo o País, as exportações do agronegócio atingiram novo recorde em maio e passaram a acumular avanço de 21,9% nos cinco meses iniciais deste ano frente ao mesmo período do ano passado. O crescimento tem sido sustentado principalmente pela demanda aquecida por alimentos em todo o mundo, sobretudo na China, pelo novo ciclo de alta nos preços internacionais das principais commodities exportadas pelo setor, pela desvalorização do real frente ao dólar, que tornam os produtos brasileiros proporcionalmente “mais baratos” lá fora, e também pelo aumento dos volumes embarcados – neste caso, com impacto menos acentuado.

Coordenador do Centro de Agronegócio na Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EESP), o ex-ministro Roberto Rodrigues avalia com cautela o que poderá vir nos próximos meses. A quebra na produção em setores relevantes do agronegócio, causada pela seca que atingiu o País nos últimos meses, tende a reduzir a oferta doméstica e, portanto, afetar a capacidade de exportação, especialmente de milho, café, laranja e cana. O desempenho das exportações na segunda metade do ano pode não ser tão brilhante como tem sido até o momento. “Este ano tem sido praticamente uma repetição de 2020”, comenta Rodrigues, referindo-se ao desempenho muito favorável do agronegócio e de suas exportações. “Mas com possível rebate para baixo no segundo semestre”, complementa, lembrando a “seca brutal” registrada a partir de maio. Rodrigues estima perdas em torno de 20,0 milhões de toneladas para a segunda safra de milho, saindo de 85,0 milhões para 67,0 milhões de toneladas, queda entre 15,0% a 20,0% na colheita de café (afetada também pela sazonalidade das safras no setor) e pela redução próxima de 10,0% na produção de laranja em relação à média das últimas 10 safras.

Efeito externo

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Para completar, a produção de cana na região Centro-Sul, nas estimativas de Rodrigues, tende a recuar de alguma coisa ao redor de 600,0 milhões de toneladas para algo mais próximo a 540,0 milhões de toneladas. Somadas, as vendas externas de milho, café, suco de laranja, etanol e açúcar responderam por pouco mais de um quinto do total exportado pelo agronegócio nos 12 meses encerrados em maio deste ano, num valor aproximado de US$ 24,4 bilhões. “Isso não quer dizer que a renda no campo será afetada”, acrescentou, referindo-se aos preços bem mais elevados recebidos pelos produtores na safra 2020/21, o que antecipa elevação da área plantada no ciclo 2021/22, sobretudo para milho e soja. “Mais capitalizados, os produtores também deverá investir em mais tecnologia no plantio”, sugere ainda.

Balanço

  • A alta nos preços das commodities parece ter se intensificado em maio, ajudando decisivamente para a formação do recorde observado no mês, com as vendas externas atingindo US$ 13,938 bilhões. Registrou-se salto de 33,7% frente aos US$ 10,422 bilhões exportados pelo agronegócio em maio do ano passado. No caso dos demais produtos exportados pelo País, no entanto, os dados oficiais apontam salto de 83,3%. Assim, a participação do agronegócio nas exportações totais baixou de 59,5% para 51,7% entre maio de 2020 e o mesmo mês deste ano.
  • Os volumes embarcados aumentaram 9,7% naquela mesma comparação, passando de 23,194 milhões para 25,445 milhões de toneladas. Os preços médios dos produtos exportados pelo setor, no entanto, apresentaram variação de 21,9% e foram responsáveis diretamente por 71,2% do incremento anotado pelas vendas externas totais do agronegócio.
  • O impulso maior veio do complexo soja (grãos, farelo e óleo), com as exportações saltando no mês nada menos do que 53,5% em valor, saindo de US$ 5,427 bilhões para US$ 8,329 bilhões. Saíram daqui praticamente 85,0% de todo o crescimento realizado pelas exportações em maio deste ano (frente ao mesmo período de 2020), com larga participação do mercado chinês, quando consideradas as exportações de soja em grão (que responderam por 88,2% das vendas do complexo).
  • Em volume, as vendas de soja em grão, farelo e óleo somaram 18,387 milhões de toneladas em maio deste ano, crescendo 14,0% frente a igual período do ano passado (16,123 milhões de toneladas). Os preços pagos por tonelada exportada, nesta área, subiram 34,6% – o que significou uma aceleração quando se considera a alta de 25,2% registrada no acumulado entre janeiro e maio deste ano em relação aos mesmos cinco meses de 2020.
  • Entre janeiro e maio, ainda, as exportações totais do agronegócio atingiram US$ 50,242 bilhões neste ano, crescendo 21,9% em relação aos US$ 41,205 bilhões alcançados nos mesmos cinco meses de 2020. Os números históricos contribuíram para elevar as exportações acumuladas em 12 meses até maio para US$ 109,739 bilhões, o mais elevado em toda a série de dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Houve uma alta de 10,7% em relação aos 12 meses imediatamente anteriores, quando o agronegócio havia exportado US$ 99,138 bilhões.
  • Na média dos cinco primeiros meses de 2020 e 2021, os preços recebidos pelos exportadores subiram 12,86%, enquanto os volumes exportados cresceram 8,04%. Os volumes embarcados responderam por 36,6% do aumento geral das exportações do setor, cabendo aos preços uma contribuição de 63,4% na comparação entre aqueles dois períodos.
  • O complexo soja registrou alta de 29,9% nas receitas de exportação, que saíram de US$ 18,323 bilhões para US$ 23,805 bilhões, o que representou US$ 5,482 bilhões adicionais. Considerado de outra forma, o complexo contribuiu com 60,7% do aumento geral acumulado pelas vendas externas totais do agronegócio.