Indicadores de confiança experimentam novas baixas no comércio e nos serviços

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 30 de novembro de 2023

A perspectiva de vendas no mês da Black Friday e a proximidade dos festejos de final de ano não chegaram a animar o varejo em todo o País, conforme sugere o Índice de Confiança do Comércio (Icom) divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), com o indicador aplicado ao setor de serviços apontando igualmente uma sequência de baixas. O comércio contabilizou o terceiro mês de redução na confiança, com os serviços chegando ao quarto mês consecutivo de queda – tendências associadas à uma perspectiva menos favorável para o desempenho em cada um daqueles setores no momento atual e, para o comércio, também pela expectativa mais pessimista em relação aos próximos meses.

Essa sinalização, embora não possa ser tomada como um dado já definitivo sobre o que poderá acontecer naquelas duas áreas daqui para frente, acompanha dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicando desaquecimento tanto para as vendas do comércio quanto para o ritmo da atividade dos serviços em períodos mais recentes. Assim, os levantamentos conduzidos pela equipe do Ibre/FGV mostram que o indicador de confiança do comércio encolheu 7,8% entre agosto e novembro deste ano, com recuo de 3,7% para os serviços de julho deste ano a novembro, em dados dessazonalizados (descontados fatores que ocorrem todos os anos nos mesmos períodos).

“A variação da confiança descontada dos fatores sazonais evidencia que apesar da melhora do ambiente macroeconômico e do início das vendas de fim de ano o desempenho do comércio ficou aquém do esperado para o período (…).O enfraquecimento da demanda atual, somado às previsões pessimistas de redução nas vendas dos próximos meses, geram apreensão entre os comerciantes, que é agravada pela inversão da confiança dos consumidores nos últimos meses de 2023”, avalia a economista Geórgia Veloso, do Ibre.

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Falta demanda

Conforme o instituto, o Índice de Situação Atual do Comércio (ISA-COM), que tenta capturar o clima atual dos negócios na avaliação dos empresários do setor, tem apresentado tendência negativa e, no trimestre encerrado em novembro deste ano, perto de 29,4% das empresas entrevistadas apontaram a demanda insuficiente como “fator limitativo à expansão dos negócios”, conforme assessoria do Ibre. Na avaliação da economista, “o resultado de novembro confirma as previsões de que o cenário no quarto trimestre seria ainda desafiador para o comércio, apesar dos eventos que tendem a movimentar o setor no período.”

Balanço

  • A redução do Índice de Confiança de Serviços (ICS), numa tendência muito próxima àquela registrada pelo comércio, avalia Stéfano Pacini, também economista do Ibre, foi influenciada “por piores avaliações em relação à demanda e à situação atual dos negócios”, com perdas “bastante disseminadas entre os segmentos do setor”. Ainda segundo o economista, “a tendência de queda na taxa de juros e de redução do endividamento das famílias ainda não se refletem em uma reaceleração no setor, que ainda dependerá da melhora da confiança dos consumidores e da continuidade do bom momento do mercado de trabalho. Os empresários ainda demonstram cautela frente ao cenário macroeconômico desafiador”.
  • A queda do indicador em novembro, ainda na área de serviços, refletiu “exclusivamente” a piora nas avaliações sobre o cenário atual no setor, já que o indicador de expectativas voltou a subir, mas na sequência de três meses de retração, persistindo uma queda de 4,8% desde julho.
  • Conforme o Ibre, “após um início de ano positivo, o setor de serviços vem perdendo fôlego e os empresários demonstram cautela frente aos desafios macroeconômicos, como níveis elevados na taxa de juros e endividamento das famílias”, com os dados dos últimos meses mostrando a dificuldade dos vários segmentos do setor de preservarem sua capacidade de reação.
  • As ondas sucessivas de calor em várias regiões do País, na avaliação da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), estimularam um crescimento de 11,1% no consumo de eletricidade na comparação entre a primeira quinzena de novembro deste ano e o mesmo período do ano passado, chegando a 69.859 megawatts médios. Na leitura da câmara, a variação foi a mais intensa desde abril de 2021, “quando o setor começou a se recuperar do período mais crítico da pandemia de Covid-19”. Em Goiás, o consumo avançou 16,9% (a oitava maior variação entre os Estados).
  • Quase dois terços da energia, algo como 44.784 MW médios, foram destinados ao mercado regulado e consumidos por residências e pequenas empresas, o que representou um salto de 15,5% em relação aos primeiros 15 dias de novembro do ano passado – maior taxa da série histórica iniciada em janeiro de 2014. Os restantes 25.075 MW médios foram consumidos no mercado livre por indústrias e empresas de grande porte, numa variação de 4,1%.
  • O sistema de geração reagiu à altura, com a produção de energia pelas hidrelétricas avançando em torno de 6% no mesmo intervalo, saindo de 47.414 para 49.971 MW médios, e saltos de 40,3% e de 91,5% para a geração das fontes eólica e solar respectivamente. A energia fornecida pelas plantas eólicas elevou-se de 8.358 para 11.727 MW médios, com as fazendas solares fornecendo 3.125 MW médios em comparação com 1.632 nas duas primeiras semanas de novembro de 2022. As termelétricas, em contraposição, reduziram a geração em 1,5%, de 8.226 para 8.104 MW médios.
  • Somadas, as fontes eólica e solar passaram a responder por 20,36% de toda a energia fornecida à rede na primeira quinzena deste ano mês, diante de 15,28% no ano passado. Da mesma forma, em conjunto, parques eólicos e fazendas solares contribuíram com 64,25% para o aumento na geração de energia no período considerado.