“Inflação do El Niño” explica quase metade da alta do IPCA-15 deste mês

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 29 de novembro de 2023

Os castigos impostos pelas temperaturas bem acima dos normais históricos, acirradas pela versão atual do fenômeno El Niño, que leva a um clima mais seco e chuvas mais irregulares no Centro-Oeste, em porções do Norte do País e do Sudeste, atingiram como esperado a produção de legumes e verduras, afetando a oferta e a qualidade dos produtos, com impactos sobre os seus preços. O fator El Niño respondeu por quase metade do avanço da inflação entre o final de outubro e as quatro semanas terminadas no dia 14 deste mês.

Na medição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de novembro chegou a 0,33% considerando o período entre 14 de outubro e o mesmo dia de novembro comparado às quatro semanas anteriores. No fechamento de outubro, o IPCA “cheio” havia atingido 0,24%. Na comparação entre os dois períodos, a taxa elevou-se em 0,09 pontos percentuais, dos quais em torno de 46% resultaram das altas nos preços de folhas, raízes e verduras.

Mesmo diante dessas altas, o índice acumulado em 12 meses manteve-se em 4,84%, muito próximo do teto da meta de 4,75% fixado para este ano pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). As apostas mais recentes do mercado financeiro sugerem uma inflação acumulada de 4,53% nos 12 meses deste ano, com o IPCA variando 0,28% nos 30 dias de novembro, pressupondo alguma desaceleração nas duas semanas finais do mês, e de 0,46% em dezembro. Para comparar, no ano passado, o índice havia sofrido variações de 0,41% e 0,62% em novembro e dezembro, respectivamente, taxas mais altas do que as esperadas para os mesmos meses deste ano, o que tenderia a empurrar para baixo a inflação de 2023, saindo de 5,79% em 2022.

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Pressão nas hortas

A variação média dos preços dos tubérculos e legumes saltou de 4,49% para 9,07% entre as quatro semanas de outubro e o período de 30 dias finalizado em 14 de novembro. Em igual período, a velocidade de alta dos preços médios das hortaliças e verduras mais do que dobrou, saindo de 3,0% para 6,14%. Em conjunto, os dois grupos tiveram sua contribuição para a formação do IPCA elevada de praticamente 0,04 para quase 0,08 pontos percentuais e foram ainda responsáveis por metade da inflação dos alimentos, que atingiu 1,06% no IPCA-15 de novembro, o que se compara com apenas 0,27% nas quatro semanas de outubro. Considerando a taxa inflacionária de cada período, a “inflação” de tubérculos, legumes, hortaliças e verduras elevou sua participação no índice geral de 16,7% para 24,2%.

Balanço

  • O IPCA-15 de novembro em Goiânia despencou para apenas 0,15% diante de uma elevação de 0,80% nos 30 dias de outubro. Os preços de alimentos e bebidas, na média, mantiveram praticamente a mesma taxa, saindo de 0,92% para 0,94%, com a inflação dos alimentos no domicílio passando de 1,0% para 1,21% nos mesmos períodos.
  • A energia elétrica residencial continuou pressionando a taxa mensal na capital do Estado depois de subir 5,28% em outubro. A tarifa média nesta área passou a indicar aumento de 7,41%. Daqui em diante, a pressão nesta área tenderá a perder força, considerando que o aumento médio autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para a distribuidora foi de 6,49% em vigor desde 22 de outubro.
  • A redução da taxa em Goiânia explica-se quase exclusivamente por conta da queda ainda mais acentuada dos preços dos combustíveis, que já haviam anotado recuo de 0,24% em outubro. Nas duas primeiras semanas de novembro, a queda chegou a 5,22% (considerando um período de quatro semanas).
  • As “surpresas altistas”, relacionados ao IPCA-15 nacional, vieram dos grupos alimentos no domicílio e passagens aéreas, na anotação da equipe de macroeconomia do Itaú BBA, considerados itens mais voláteis e que, por esse mesmo motivo, são em geral desconsiderados no cálculo dos chamados “núcleos” da inflação. No primeiro caso, como visto, houve nítida influência dos preços de hortaliças, legumes e verduras, com altas motivadas pelo calor excessivo, alternados com temporais.
  • As passagens aéreas registraram certa desaceleração na saída de outubro para novembro. Nos 30 dias do mês passado, as passagens haviam subido 23,70% e chegaram a responder por 60,1% do IPCA. Na quadrissemana terminada no dia 14 deste mês, a alta ficou limitada a 19,03% – correspondendo isoladamente a 47,7% do IPCA-15.
  • Embora o índice geral tenha vindo acima das expectativas para o período, em torno de 0,29% a 0,30% na mediana das projeções do mercado, “a leitura do IPCA-15 trouxe mais uma vez composição benigna, com núcleos abaixo do esperado. A inflação de núcleos seguiu recuando, reforçando uma sequência de dados que confirmam o processo de desinflação em curso. Na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, a leitura do IPCA-EX3 [indicador que exclui preços industriais e de serviços muito voláteis e que não respondem necessariamente ao ritmo da atividade na economia], núcleos de serviços e bens subjacentes, desacelerou para 1,2%, saindo de 2,8% em outubro”, analisa o banco.
  • Na média móvel trimestral, considerando “dados dessazonalizados [com exclusão de fatores que se repetem em iguais períodos todos os anos] e anualizados”, a taxa de variação dos chamados “serviços subjacentes” (excluindo-se comunicação, cursos regulares e passagens aéreas) manteve-se estável em 3,8%, “enquanto o núcleo de (preços) industriais subjacentes desacelerou para -1,5%”, após alta de 1,1%. “Na mesma métrica, a média dos núcleos desacelerou para 3,1%”, depois de ter alcançado 3,9% na medição anterior.