Indicadores disponíveis apontam dias ruins à frente para economia

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 11 de janeiro de 2022

Os últimos meses do ano que já se encerrou trouxeram indicadores pouco animadores sobre o ritmo da atividade econômica, sugerindo um começo de 2022 igualmente cercado por nuvens de tormenta. Os sinais já não eram muito promissores mesmo antes da divulgação dos números mais recentes, que agora reforçam uma herança pouco atrativa para os próximos 12 meses. Nitidamente, a indústria não tem conseguido vencer os obstáculos criados pela pandemia, com consequente desorganização das cadeias de suprimento em todo o mundo gerada pela paralisação de setores inteiros durante os meses mais críticos da crise sanitária, pela alta de custos, pela fraca demanda doméstica e pelo novo ciclo de encarecimento do crédito determinado pelo aumento dos juros básicos.

No mercado de trabalho, a queda no número de desempregados e na taxa de desocupação tem sido ditada muito mais pelo avanço da informalidade, resultando em degradação dos empregos que a economia passou a criar ao longo do ano passado, com perda de renda para as famílias em função das ocupações de baixa qualidade geradas e pelo avanço da inflação. A mudança de direção da política monetária nos Estados Unidos, com a revisão gradual da política de compra de títulos do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), o que significará reduzir a oferta de moeda no mercado, e a perspectiva de alta dos juros, incrementa as incertezas já presentes e coloca novos desafios para a economia em todo o mundo, Brasil incluído.

Para complicar, a escalada nos casos de Covid-19, deflagrada pela variante Ômicron, começa a paralisar as atividades em setores ainda limitados ao redor do mundo e surge como novo complicador para uma economia que já não vinha apresentando números muito brilhantes. Longe disso, aliás. A pesquisa mensal sobre produção industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na primeira semana do ano, mostrou que a atividade no setor, em novembro do ano passado, só conseguiu ser maior do que os níveis registrados em igual mês de 2003 – o que dá uma precisa dimensão dos desafios que a indústria brasileira terá que enfrentar para se recompor e retomar algum crescimento nos próximos meses.

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Na comparação com o mês imediatamente anterior, a produção industrial experimentou nove resultados negativos nos 11 primeiros meses de 2021, chegando a novembro numa sequência de seis meses de queda. Comparada a janeiro do ano passado, a produção havia encolhido 7,7% e passou a anotar baixa de 4,3% frente a fevereiro de 2020, mês que antecedeu o início da pandemia no País. Para relembrar, naquele mesmo janeiro de 2021, a produção chegou a apresentar elevação de 3,7% em relação a fevereiro do ano anterior. Nitidamente, a recuperação teve pernas curtas e não conseguiu se sustentar nos 10 meses seguintes, aguardando-se novas perdas para dezembro, tendência que deverá comprometer os resultados esperados para os primeiros meses deste ano.

Regressão

De fato, não há muitos fatores que permitam antever uma melhora no desempenho da indústria no cenário de curto e médio prazos. Na avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os dados mais recentes do IBGE confirmam que a crise provocada pela pandemia não chegou de fato a ser superada. “Demanda fragilizada, gargalos logísticos e nas cadeias de suprimento e pressões de custo são desdobramentos que ainda estão bastante presentes no setor”, sustenta o Iedi. Na visão do instituto, a indústria regrediu “nada menos do que 16 meses”, retornando a “um ponto não muito distante daquele” em que estava em julho de 2020. “A sinalização é clara: as condições que possibilitaram a reação do setor na segunda metade de 2020 não mais se verificam”, aponta.

Balanço

  • A preocupação com o que virá torna-se mais premente, conforme o instituto, quando se considera a evolução mais recente da produção industrial, “dada a magnitude das perdas com a pandemia e sua sobreposição à grave crise de 2015-2016”. Especialmente porque, prossegueo Iedi, “a indústria global está passando por um processo profundo de transformação tecnológica e de busca por resiliência, apoiado por políticas industriais ambiciosas em todas as principais potências mundiais, a exemplo dos EUA, União Europeia e China” – perspectiva que nem de longe se observa no País, com o boqueio exercido pelo pensamento econômico dominante sobre qualquer debate que envolva a busca de soluções duradouras para a indústria brasileira.
  • Os números iniciais do setor em 2021 chegaram a criar a ilusão de um crescimento vigoroso, capitalizado politicamente pelo desgoverno de Brasília, com a irresponsabilidade de sempre. Os dados só apresentaram crescimento em relação a uma base muito achatada. À medida que a produção passou a ser comparada com números menos piores, registrados a partir do começo da segunda metade de 2020, os sinais voltaram a ser negativos.
  • A produção passou a cair sistematicamente a partir de agosto do ano passado, agora na comparação com os mesmos meses de 2020. Foram quatro meses de baixas entre agosto e novembro, com perdas de 0,6%, de 4,0%, de 7,8% e de 4,4%. Apenas 39,4% dos itens produzidos pela indústria apresentaram crescimento em novembro, a menor taxa para o mês desde novembro de 2014.
  • “Os revezes mais expressivos atingem os bens de consumo, refletindo a escalada da inflação e o alto desemprego, que deterioram o poder de compra da população, bem como as rupturas das cadeias produtivas, já que muitos de seus setores reúnem um grande número de partes e componentes em sua produção”, avalia o Iedi. Os setores de fabricação de bens duráveis, semi e não duráveis amargavam, até novembro do ano passado, cinco meses sucessivos de perdas. Comparada a seu melhor momento na série histórica, registrado em junho de 2013, antes da recessão de 2015-2016, a produção de duráveis havia encolhido nada menos do que 45,0%. O setor de semiduráveis e não duráveis, que incluem indústrias mais relacionadas à demanda imediata das famílias, como as de produtos alimentícios, vestuário, calçados e medicamentos, encontrava-se 17,8% abaixo do seu melhor desempenho histórico, depois de cair 1,9% (julho), 1,2% (agosto), 5,6% (setembro), 10,3% (outubro) e 6,3% (novembro) – sempre em comparação com iguais meses de 2020.
  • A desorganização das cadeias de produção afetou especialmente a indústria de bens intermediários, que passou a apresentar em novembro do ano passado recuo de 1,0% em relação a fevereiro de 2020, depois de ter avançado 4,7% na comparação entre o último mês daquele ano e o mesmo mês de fevereiro. Foram cinco meses de perdas entre agosto e novembro do ano passado (tomado os mesmos meses de 2020 como base) e um retrocesso de 17,2% desde fevereiro de 2011, quando o setor havia anotado seus melhores números na série histórica do IBGE.