Indicadores mostram desaceleração da economia no segundo trimestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 11 de agosto de 2023

A divulgação ontem das estatísticas mais recentes do setor de serviços pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) parece reforçar as análises que sugerem um desaquecimento importante da atividade econômica no segundo trimestre deste ano, depois do avanço de 1,9% registrado no trimestre anterior por força quase exclusiva dos bons resultados alcançados pelo setor agrícola. “No cômputo geral, o PIB (Produto Interno Bruto) não seria um desastre, considerando que o produto cresceu fortemente no primeiro trimestre. Seria um milagre o PIB do segundo trimestre crescer”, comenta a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Numa avaliação preliminar e ainda sujeita a revisões, o Ibre trabalhava, até recentemente, com a perspectiva de uma queda de 0,4% para o PIB do segundo trimestre, na comparação com os resultados acumulados nos três primeiros anos deste ano. O resultado seria uma combinação do esgotamento dos efeitos sobre o PIB da safra recorde produzida pelo País neste ano, com a colheita concentrada até abril. Para recordar, no primeiro trimestre, o PIB da agropecuária havia apresentado um salto de 21,6%, diante de recuo de 0,1% para a indústria e avanço de 0,6% no setor de serviços. Adicionalmente, a economista contabiliza ainda os efeitos retardatários da política de juros altos sobre a atividade, lembrando que, mesmo diante do ciclo de cortes na taxa básica iniciado no começo deste mês pelo Comitê de Política Monetária (Copom), os juros em termos reais (depois de descontada a inflação) tendem a se manter ainda altos por um período ainda prolongado.

Menor avanço relativo

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Os números do setor de serviços mostraram desaceleração junho, com variação de 0,2% frente a maio, quando o IBGE havia anotado variação de 1,4%. Em Goiás, o crescimento de 4,9% registrado em maio deu lugar a uma variação apenas modesta de 0,6%, sempre em relação ao mês imediatamente anterior. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a atividade naquele setor saiu de um crescimento de 5,1% em maio para 4,1% na média de todo o País, passando de 10,5% para 9,8% em Goiás nos mesmos períodos – um dado ainda vigoroso, mas que não deixa de embutir algum desaquecimento. No semestre, o nível da atividade nos serviços avançou 4,7% no País e cresceu 8,3% no Estado, mesma taxa observada no primeiro semestre do ano passado. 

Balanço

  • Os índices produzidos pelo IBGE, já contemplando ajustes sazonais, com a exclusão de fatores e eventos que se repetem sempre nos mesmos períodos do ano e poderiam distorcer qualquer comparação, apontam mais claramente a tendência de desaquecimento mais recente em três grandes setores da economia. O desempenho final, portanto, dependerá em boa medida de como a agropecuária vai se comportar depois de crescer a taxas históricas no primeiro trimestre. O salto de 21,6% foi o mais elevado para um primeiro trimestre em toda a série do IBGE, iniciada em 1996, e a segunda maior taxa desde o incremento de 23,4% no quarto trimestre daquele ano.
  • Em anos de alta mais vigorosa da agropecuária no primeiro trimestre, o resultado seguinte tem sido negativo. Em 2017, o PIB da agropecuária havia crescido 12,0% nos três primeiros meses, sempre em relação ao trimestre anterior, e caiu 3,2% no segundo trimestre, diante da base mais alta de comparação. Em 2021, o crescimento de 6,0% observado para o setor foi seguido de redução de 5,3%.
  • O índice de atividade do IBGE, sazonalmente ajustado, havia experimentado altas de praticamente 3,0% e de 7,5% para o comércio varejista restrito e para o varejo amplo, respectivamente, na comparação entre março deste ano e dezembro do ano passado, com aumentos de 4,6% e de 7,4% em iguais períodos para os mesmos segmentos na média geral do País. Entre março e junho, o volume de vendas do varejo tradicional caiu 2,5% em Goiás e recuou 0,8% no restante do País. Para o varejo amplo, o volume de vendas despencou quase 6,9% entre lojistas goianos, caindo 1,4% no média brasileira.
  • A produção industrial em Goiás, considerando ainda os índices dessazonalizados, saiu de leve variação de 0,6% entre dezembro do ano passado e março deste ano para redução de 1,8% em junho na comparação com março. Na mesma sequência, a produção da indústria brasileira havia estagnado no primeiro período, recuando 0,15%, e avançou levemente de março para junho, variando 0,6%.
  • Para o setor de serviços, a série estatística do IBGE registra salto de 8,0% em Goiás, já com redução de 1,5% na média do País entre dezembro do ano passado e março deste ano. Dali em diante, até junho, os dados não registram crescimento.
  • Numa avaliação ainda preliminar, o Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Pesquisas Socioeconômicas (IMB), ligado à Secretaria Geral de Governo (SGG), produziu uma estimativa para o PIB goiano ainda em abril, estimando redução de 0,4% em relação a março, e uma variação de 1,7% em relação a abril do ano passado, num dado não dessazonalizado. Descontados fatores sazonais, o PIB teria murchado 4,9% naquela mesma comparação.