Inflação bem-comportada em julho e a alta enganosa em 12 meses

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 12 de agosto de 2023

Para quem não se recorda, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em julho do ano passado, na aferição do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia sido artificialmente baixa por conta do teto imposto pelo governo federal à cobrança de impostos estaduais sobre combustíveis, energia e comunicações e pela decisão de zerar as alíquotas de contribuições federais naqueles setores. Na verdade, a inflação de julho havia sido negativa em 0,68%, mesmo diante da alta de 1,30% nos custos da alimentação. A inflação acumulada em 12 meses até ali havia cedido de 11,89% em junho para 10,07% em julho.

O IPCA de julho deste ano, divulgado ontem, alcançou 0,12%, saindo de uma taxa negativa de 0,08% em junho, lembrando que o índice acumulado em quatro semanas até o dia 13 de julho havia apontado baixa de 0,07%. Essa ligeira e já esperada mudança nas taxas mensais, em função do fim do programa de descontos para os preços de automóveis novos, criado para ser temporário mesmo, e da tendência de elevação nos preços da gasolina, fez com que a inflação acumulada em 12 meses avançasse de 3,16% até junho para os atuais 3,99%, significando um acréscimo de 0,83 pontos percentuais. A alta na taxa, no entanto, sofreu maior influência da saída da deflação de 0,68% observada em julho do ano passado do cálculo do índice acumulado em 12 meses. Mais claramente, nessa conta, saiu a deflação daquele mês e entrou, na outra ponta, a inflação levemente positiva anotada em julho deste ano.

Excluídos aqueles itens – energia, combustíveis e gás de cozinha e comunicações –, a inflação em 12 meses baixou de 4,71% até junho para 4,58% ao final de julho, o que se compara, pelo mesmo critério, a uma taxa próxima a 9,45% nos 12 meses encerrados em julho do ano passado. A alimentação tem cumprido papel destacado na contenção do ritmo de alta dos preços em geral, ajudando a segurar a inflação e, ao fim, levando o Banco Central (BC) a iniciar a tão aguarda redução dos juros básicos – ainda que timidamente reduzidos das alturas de 13,75% para as alturas de 13,25%.

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Alimentos e energia

Agora mesmo, em julho, a redução média de 0,46% nos custos da alimentação contribuiu para compensar, mesmo que parcialmente, os efeitos da alta de 4,75% nos preços da gasolina sobre a inflação mensal – afinal, considerado de forma isolada, esse item gerou um impacto de 0,23 pontos percentuais sobre uma inflação de 0,12%. Dito de outra forma, considerado o conjunto de todos os demais preços, com a devida exclusão da gasolina, a alta média ficou negativa em 0,11%. A moderação do IPCA cheio em julho deveu-se igualmente à queda ainda mais acelerada das tarifas da energia residencial, que já haviam recuado 3,45% nos 30 dias terminados em 13 de julho e passaram a anotar baixa de 3,89% nas quatro semanas do mês passado.

Balanço

  • Obviamente, esse tipo de desagregação, levada ao limite, conduziria a inflação a zero, mas ajuda a entender a contribuição dos principais itens na formação do resultado final colhido pela pesquisa de preços do IBGE. Apenas comparando, mais uma vez, agora desconsiderado o grupo alimentação e bebidas, a elevação do IPCA acumulado em 12 meses teria sido mais acentuada, com a taxa saindo de 2,29% em junho para 3,52%.
  • De uma forma ou de outra, o fato concreto é que a taxa tem preservado uma tendência de desinflação que já alcança setores até aqui considerados inflacionários ou pelo menos mais resistentes ao processo mais geral de baixa no ritmo de alta dos preços. A inflação mensal dos serviços vem cedendo, devendo-se lembrar que o setor vem sendo mencionado seguidamente nas atas do Comitê de Política Monetária (Copom) como “ameaça inflacionária” a ser considerada, numa espécie de justificativa para manter os juros na estratosfera.
  • Na desagregação feita pelo Itaú Unibanco, a inflação mensal dos serviços saiu de 0,63% em junho para 0,36% nas quatro semanas encerradas em 13 de julho e desde lá baixou um pouco mais, até 0,25% nos 30 dias fechados daquele mês, inferior à projeção de 0,38% sustentada pelo mercado. Em 12 meses, o IPCA dos serviços  recuou de 7,8% em fevereiro deste ano para 5,6% em julho, sando de 6,2% no mês anterior.
  • O IPCA dos produtos industriais, que incluem bens como eletroeletrônicos, eletrodomésticos, móveis e vestuário, entre outros setores, caiu à metade, saindo de 8,4% em janeiro para 4,2% em julho (neste caso, levemente acima dos 4,0% anotados ao final de junho, o que não anula a tendência predominante de desinflação).
  • Na análise do Itaú Unibanco, o IPCA de julho, veio ligeiramente acima da projeção da casa, mais próxima de 0,10%, assim como superou a estimativa de 0,08% mantida na média pelo mercado financeiro. “A leitura (do IPCA do mês passado) se beneficiou das deflações de energia elétrica (refletindo impacto do desconto nas contas de julho em função do saldo positivo na conta de Itaipu) e de alimentação no domicílio. Por outro lado, a inflação de (bens) industriais voltou a acelerar, depois de registrar deflação em junho, em função do fim do programa de descontos em automóveis novos”, anota ainda o boletim macro do banco.
  • De toda forma, os analistas do banco consideram que a taxa de 0,12% no mês passado “confirmou mais uma vez o processo de desinflação gradual, puxado por itens comercializáveis (alimentação e produtos industriais). Na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, a média dos núcleos recuou mais uma vez, para 3,8% (saindo de 4,8% no mês anterior). Mas vale notar que as últimas leituras foram influenciadas pelo programa de desconto de automóveis”, acrescentam eles.
  • O chamado índice de difusão, que mede o percentual de itens, artigos e produtos em alta ao longo do mês, baixou para apenas 46,15%, frente a 49,60% em junho. Aquele percentual compara-se com 62,86% em julho do ano passado. O percentual mais baixo está no grupo alimentos, com aumentos verificados em 38% dos produtos (significando que perto de 62,0% não subiram ou registraram queda). Entre os produtos anão alimentícios, 53% anotaram alta em alguma intensidade.