Indústria brasileira sofre perda de 12,8%, enquanto setor avança 9,6% no mundo

Publicado por: Redação | Postado em: 14 de junho de 2019

Em
queda livre, a indústria brasileira perde substância internamente e vai ficando
para trás no cenário internacional, especialmente em setores que serão a base
para o novo paradigma do setor em todo o mundo, ancorado em plataformas
digitais, integração de sistemas e doses maciças de tecnologia embutida em
processos e equipamentos. A edição deste ano do relatório anual da Organização
das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), analisado pelo Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), mostra que a indústria
continuou em todo o mundo no ano passado, ainda que em velocidade menor, mas
retrocedeu no Brasil, fazendo murchar a fatia do País no valor da transformação
industrial (VTI).

O
VTI nada mais é do que o resultado final do processo industrial, descontados
custos com insumos, incluindo a energia consumida, matérias primas, embalagens
e ainda equipamentos e a mão de obra utilizados no processo. Reflete o valor
agregado pela indústria a todos aqueles fatores. Considerando-se valores
constantes em dólares de 2010, nas contas da Unido, o VTI no Brasil desabou
quase 12,8% entre 2014 e 2017 (e recuou mais 0,4% em 2018) diante de aumento de
9,6% no mundo todo e de 5,7% entre as nações mais industrializadas. No grupo do
qual o Brasil faz parte, os países emergentes e em desenvolvimento, o valor da
transformação saltou quase 15% no mesmo período.

O
País manteve a 9ª colocação entre aqueles com os maiores VTI, mas seu posto
está ameaçado pela Indonésia, que vem logo atrás e tem mantido trajetória de
firme crescimento, acumulando alta de 14,6% entre 2014 e 2017. A participação
da indústria brasileira no VTI global caiu de 2,81% em 2005 para 2,68% em 2010,
encolhendo para 1,83% no ano passado, num dado ainda estimado pela Unido. A
Indonésia saiu de 1,52% em 2005 para 1,83% em 2018, num empate virtual com o
Brasil.

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Ritmos desiguais

Os
dados preliminares da Unido para 2018 sugerem elevação de 3,6% para o VTI
mundial, frente a 2017, em valores corrigidos, levemente abaixo dos 3,8%
observados em 2017 – ainda assim, um dado positivo. Ainda no ano passado,
enquanto nas economias mais industrializadas o valor da transformação
industrial avançou 2,3% (frente a variação de 2,6% em 2017), os emergentes e em
desenvolvimento anotaram alta de 3,8% (4,1% em 2017). NO Brasil, foram dois
anos de perdas, ainda que o resultado de 2018 mostrasse redução menos intensa,
num recuo de 0,4% depois de retroceder 1,4% em 2017. “Vamos ficando, assim,
mais e mais para trás em um mundo industrial que não apenas cresce, mas também
se transforma com a introdução de novas tecnologias”, observa o Iedi.

Balanço

·  
Na
média, igualmente em dólares de 2010, o VTI no Brasil chegou a crescer a uma
taxa anual de 1,6% entre 2005 e 2009 – o que não foi muita vantagem assim, já
que o mundo avançou 2,2% puxado pelo crescimento de 7,7% da indústria nos
países emergentes e em desenvolvimento.

·  
Mas
entre 2010 e 2017, enquanto o mundo e os emergentes apresentaram crescimento de
3,1% e de 5,4%, pela ordem, na média anual, a indústria brasileira viu o valor
da transformação cair 2,1% ao ano.

·  
Apenas
oito países, alguns em regiões conflagradas por guerras e outros conflitos,
outros muito menos desenvolvidos, tiveram desempenho igual ou pior. O Suriname,
por exemplo, apresentou a mesma taxa brasileira (-2,1%). A Grécia sofreu
redução de 0,5% na média anual entre 2010 e 2017.

·  
Bermuda,
Ucrânia e Venezuela, pela ordem, anotaram tombos de 6%, 5,7% e 4,1% naquele
mesmo período. Na Argentina, o recuo foi de 1,1% ao ano. Aliás, entre os
emergentes, apenas três alcançaram números piores do que os brasileiros: além
da Ucrânia e da Venezuela, já mencionadas, Chipre surge com baixa de 3,0%.

·  
O
Iedi classifica como muito mais grave “a divergência das rotas da indústria de
maior intensidade tecnológica no Brasil e no restante do mundo”. Enquanto nos
países desenvolvidos a participação do setor de computadores, produtos
eletrônicos e óticos no VTI atingiu 10,1% em 2017, muito próxima do setor de
alimentos (10,7%), no Brasil o segmento mais tecnológico representava apenas
2,56% do VTI. A indústria de bens alimentícios, por sua vez, respondia por
22,6%.

Entre emergentes e em desenvolvimento,
computadores, eletrônicos e óticos detinham 7,7% do VTI.