Indústria de transformação em Goiás cai há 11 meses seguidos

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 09 de outubro de 2021

A dimensão da crise instalada na indústria goiana pode ser medida pelo comportamento da produção no setor de transformação desde a segunda metade do ano passado. A reabertura das atividades do comércio e no setor de serviços em geral, com o fim quase integral das restrições à movimentação das pessoas, aparentemente não tem se traduzido em melhoras na atividade industrial, com exceção para a indústria extrativa, puxada pelas exportações, e por um conjunto de três setores – produtos de minerais não metálicos, veículos e outros produtos químicos, cada com suas peculiaridades e especificidades que não permitem antever um movimento mais dinâmico pelo lado da demanda.

Em português claro, os setores mais diretamente relacionados ao consumidor final continuam naufragando, com a atividade emperrada pelo desemprego elevado, renda em baixa e crédito mais caro a partir da retomada da política de aumento dos juros básicos, em março passado. A pesquisa da produção industrial regional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta uma redução de 0,3% para a produção da indústria goiana em geral na saída de julho para agosto, consolidando uma espécie de “efeito gangorra”, com o setor como um todo alternando números positivos e negativos nos últimos meses.

Na comparação com igual período do ano passado, a produção sofreu perdas em nove dos últimos 12 meses, caindo 3,4% em agosto. A evolução tem sido muito ruim, já que em julho e junho foram registradas baixas de 2,9% e de 4,2%. Em maio, a produção registrou estagnação, depois de despencar 6,4% em abril. Os números são não foram ainda piores porque o setor extrativo mineral tem registrado crescimento vigoroso, sustentando pelo setor externo e pela reação demonstrada até recentemente pela construção civil (numa tendência que parece enfrentar alguma acomodação mais recentemente).

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A exceção

Para situar melhor o cenário na indústria extrativa, o ano de 2020 havia sido muito negativo para a atividade. Em agosto do ano passado, num exemplo, a produção do setor chegou a desabar 14,7% em relação ao mesmo mês de 2019. Em igual mês deste ano, a produção saltou 30,0%, com ganhos para a produção de minérios de cobre bruto ou processado, amianto (a produção continua ocorrendo em Minaçu para atender a compromissos no exterior), brita e calcário, conforme o IBGE. O mercado externo parece preponderante nos dois primeiros casos, quando se observa o aumento de 35,8% nos embarques de amianto (de 9,045 mil para 12,284 mil toneladas entre agosto de 2020 e igual mês deste ano) e o salto de 104% nas vendas externas de cobre (de 10,653 mil para 21,741 mil toneladas).

Balanço

  • Nos primeiros oito meses deste ano, a extrativa avançou 14,3% frente ao acumulado entre janeiro e agosto de 2020, com avanços na produção de amianto, brita e calcário, mas perdas para cobre e fosfato. As exportações de amianto triplicaram naquele mesmo período, saltando de 36,259 mil toneladas nos oito meses iniciais de 2020 para 110,230 mil toneladas neste ano. Já os embarques de cobre e seus minérios sofreram baixa de 17,46% naquela comparação, saindo de 142,883 mil para 117,935 mil toneladas.
  • Na indústria de transformação, os tropeços passaram a ser a regra, numa tendência que não é recente. Pelo contrário. Foram 11 quedas mensais consecutivas na comparação com os mesmos meses do ano imediatamente anterior. Em junho, julho e agosto, para ficar num período mais recente, o setor encolheu 5,3%, 4,6% e 4,8% (lembrando que, em agosto do ano passado, a produção havia avançado 4,9%). No ano, até agosto, o setor encolheu 4,7%.
  • O setor de bens alimentícios segue na mesma toada, com perdas consecutivas pelos últimos 11 meses e baixas de 2,5%, de 4,4% e de estrondosos 9,0% em junho, julho e agosto deste ano (sempre em relação aos mesmos meses de 2020). Em oito meses, a produção da indústria goiana de alimentos caiu 4,8%.
  • A indústria de biocombustíveis, petróleo e coque, numa coincidência, acumulou perda igualmente de 4,8% no ano, resultados de 11 baixas nos últimos 12 meses. A produção chegou a avançar 6,2% maio, mas desabou 8,0% em junho e 6,6% no mês seguinte. Em agosto, a queda perdeu certa intensidade, com a produção sofrendo redução de 4,2%.
  • A sequência de 11 baixas foi registrada também na indústria de produtos farmoquímicos e farmacêuticos, setor que havia registrado números positivos durante a fase de distanciamento social mais acentuado nos primeiros meses da pandemia, em 2020. Aqui, a descontinuidade no suprimento de matérias-primas e insumos importados, com alta nos custos de importação desses materiais, continua ainda afetando negativamente a produção.
  • Como não se percebe desabastecimento em larga escala no setor, pode-se supor que os tombos recentes seriam resultado também de uma retração no consumo doméstico. A produção de medicamentos chegou a despencar 56,0% em abril, sofrendo ainda perdas de 37,6%, 28,3% e de 25,8% em maio, junho e julho. No oitavo mês do ano, a produção recuou 3,8%. No acumulado entre janeiro e agosto, o setor encolheu 29,1%.
  • Produtos de minerais não metálicos (cimento, principalmente), veículos e outros produtos químicos (adubos e fertilizantes) apresentaram crescimento de 20,4%, de 89,1% e de 11,6% no acumulado em todo o ano até agosto. Em igual período do ano passado, as empresas de montagem de veículos haviam sofrido tombo de 39,5%.
  • A inflação de setembro deste ano atingiu o nível mais alto para o mês desde 1994, fechando em 1,16% e acumulando variação de 10,25% em 12 meses. Energia elétrica, com alta mensal de 6,47%, e combustíveis, que subiram 2,43% no mês, representaram 42,1% do Índice Nacional de Preços ao Consumido Amplo (IPCA) de setembro, saindo de uma contribuição de 30,3% em agosto. A “inflação” desses dois componentes, considerados em conjunto, avançou de 0,26% para 0,49%. Todos os demais preços subiram, em média, 0,67% diante de 0,61% em agosto. Ou seja, o grosso do salto na passagem de um mês para o outro (perto de 79%) deveu-se a dois itens que não sofrem influência decisiva da demanda.