Coluna

Indústria goiana encerra 2019 com tendência de desaceleração

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 12 de fevereiro de 2020

Nos últimos quatro meses do ano passado, entre altos e baixos, a produção industrial em Goiás acumulou redução de 0,53%, encerrando 2019 com tendência de desaceleração puxada pelas indústrias de extração mineral (amianto, destacadamente), alimentos, biocombustíveis e de medicamentos. O setor chegou a experimentar um salto de 5,3% na passagem de setembro (quando a variação havia sido nula) para outubro, mas sofreu perdas de 4,3% em novembro e de 1,5% em dezembro, sempre em relação ao mês imediatamente anterior. Para agravar, o dado de novembro foi revisado para baixo pelo IBGE. A pesquisa divulgada em janeiro, referente aos resultados da produção industrial em novembro, apontava uma redução de 2,1% em Goiás. A retração agora atualizada atingiu 4,3%.

Na comparação com igual período de 2018, a indústria goiana saiu de três resultados positivos (altas de 1,6%, de 11,3% e de 9,5% respectivamente em setembro, outubro e novembro) para uma redução de 2,6% no último mês do ano, o quarto pior resultado entre as regiões pesquisadas. As principais quedas em dezembro vieram dos quatro segmentos mencionados no parágrafo acima, que juntos respondem por 72,58% de toda a produção industrial, segundo a pesquisa regional sobre a produção industrial divulgada mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Detalhe: na medição anterior, a pesquisa do IBGE havia indicado incremento de 10,3% para a produção goiana em novembro (na comparação com idêntico período de 2018), levemente superior ao número divulgado agora.

Na indústria extrativa, a produção desabou 26,8% no mês, o que se explica em função da virtual paralisação na extração de amianto e na queda da produção de fosfato.Nos 12 meses do ano passado, o setor de extração mineral sofreu recuo de 3,0%. O tombo na produção de medicamentos, por sua vez, esteve por trás da redução de 7,3% observada para a indústria de produtos farmoquímicos e farmacêuticos, em relação a dezembro de 2018. No ano, a produção no setor avançou 3,2%.

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O desaquecimento na reta final de 2019 sinaliza uma tendência menos favorável para o setor no começo de 2020, especialmente por conta da “herança” deixada para os primeiros meses do ano novo. Numa visão um tanto mais otimista a respeito do desempenho da indústria no ano passado, a produção encerrou os 12 meses do período em terreno positivo, numa variação de 2,9% em relação ao exercício anterior, recuperando parcialmente a perda de 4,7% registrada em 2018.

Entre avanços e recuos

Nos últimos cinco anos, a produção goiana alternou avanços e recuos, nas estatísticas do IBGE, com altas de 0,5%, 4,4% e de 2,9% em 2015, 2017 e 2019, pela ordem, e quedas de 2,8% e 4,7% em 2016 e 2018, conforme já registrado. Os níveis alcançados em dezembro, indica ainda a série de dados do instituto, encontravam-se ainda levemente inferiores aos de abril de 2018, antes da greve dos caminhoneiros, o que sugere certa dificuldade para retomar um ritmo mais acelerado de crescimento. O cenário no Estado, diante do perfil da indústria goiana, amplamente concentrada em bens de consumo (o setor de produtos alimentícios, num exemplo, tem participação de quase 48,1% na produção geral), parece moderadamente mais positivo do que na média do Brasil, já que a produção apresentava redução de 4,2% frente também a abril de 2018.

Balanço

·   A indústria instalada em Goiás apresentou, no acumulado dos 12 meses do ano passado, o terceiro melhor desempenho entre as regiões acompanhadas pelo IBGE, ao anotar variação de 2,9%. Em torno de 72,8% desse crescimento, no entanto, concentrou-se das indústrias de bens alimentícios e de biocombustíveis (etanol e biodiesel).

·   A alta na produção de açúcar, carnes e miudezas de aves congeladas e de rações para animais impulsionou o setor de alimentos, que apresentou variação de 1,8% na comparação entre 2019 e 2018 (mas sofreu baixa de 0,7% em dezembro).

·   As usinas de biodiesel e biocombustíveis, por sua vez, tiveram a produção ampliada em 6,4% entre os mesmos períodos e, sozinhas, responderam por quase 40% do avanço acumulado pela produção industrial como um todo.

·   Por conta daqueles resultados, complementados pelo salto de 19,2% na produção de veículos (sobretudo automóveis a gasolina, a etanol ou bicombustíveis), a indústria de transformação registrou variação de 3,2% no ano, embora tenha recuado 0,4% em dezembro de 2019 (frente ao mesmo mês de 2018).

·   No acompanhamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a produção goiana de etanol anotou salto de praticamente 22,0% no ano passado, saindo de 4,497 bilhões para 5,485 bilhões de litros. A produção goiana de biodiesel, sob liderança da Caramuru, aumentou de 757,67 milhões para 864,64 milhões de litros, em alta de 14,12%.

·   A Caramuru, que processa o biodiesel a partir de derivados do esmagamento da soja em grão nas plantas de São Simão e Ipameri, produziu 322,99 milhões de litros no ano passado, respondendo por 37,4% da produção estadual. Em relação a 2018, quando sua produção havia alcançado 281,47 milhões de litros, anotou-se um avanço de 14,75%.

·   Comparado a dezembro de 2018, no entanto, as usinas de etanol produziram 12,20% a menos no último mês de 2019, com a produção saindo de 135,86 milhões para 119,29 milhões de litros (mas 107,4% maior do que em dezembro de 2017, que teve o segundo pior desempenho para o mês na década). A elevação de 14,18% na produção de biodiesel (que saiu de 66,827 milhões para 76,306 milhões de litros entre dezembro de 2018 e igual mês de 2019) foi claramente insuficiente para compensar a retração no setor de etanol.

·   O segmento de montagem de veículos havia sofrido perdas intensas nos primeiros meses do ano, chegando a outubro com baixa de 8,3% no acumulado em 12 meses. No encerramento de 2019, afinal, a produção de veículos cresceu 19,2% frente a 2018. Em outubro, novembro e dezembro de 2019, frente aos mesmos meses de 2018, a produção experimentou saltos de 96,1%, 79,3% e de 92,5%.