Indústria goiana reage em 2021, em meio à escalada dos custos

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 30 de junho de 2023

Embora a produção industrial, medida em volume, tenha experimentado queda de 3,9% em 2021, saindo de dois anos de crescimento moderado a baixo, os indicadores coletados pela Pesquisa Industrial Anual (PIA), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sugerem uma melhoria relativa do setor em Goiás. A suspensão gradativa das medidas de distanciamento social adotadas desde março de 2020 para enfrentar a pandemia e seus efeitos influenciou o desempenho da indústria goiana ao longo de 2021, ainda que os avanços registrados não tivessem sido suficientes, mais uma vez, para que o setor pudesse retomar as dimensões que havia assumido em 2013.

O setor industrial goiano vinha de anos de desempenho claudicante, com a produção registrando retração de 4,7% em 2018, taxas positivas de 2,8% e 1,6% em 2019 e 2020, em plena pandemia – desempenho praticamente anulado pela redução de 3,9% anotada em 2021. Na comparação entre dezembro daquele ano e outubro de 2017, quando a produção goiana chegou a seu melhor momento na série histórica do IBGE, os dados do instituto mostram uma perda de 3,5% para os volumes produzidos pelo setor no Estado.

Na prática, a atividade industrial no Estado tem andado de lado, no jargão do mercado financeiro, mas o setor conseguiu, no dado mais recente do IBGE, se recompor parcialmente, em meio a uma tendência de disparada ados custos por conta do encarecimento vigoroso de insumos, matérias primas, combustíveis e energia, impulsionados pelos impactos muito negativos da pandemia sobre as cadeias globais de suprimento e logística. Considerando as unidades com cinco ou mais pessoas ocupadas, a indústria chegou a abrir 453 novas fábricas em 2021, na comparação com o ano imediatamente anterior, com o total de indústrias instaladas no Estado passando de 6.532 para 6.985, numa elevação de 6,93%. O número, de toda forma, manteve-se perto de 3,0% inferior às 7.204 unidades que chegaram a operar em Goiás em 2013, ou seja, 219 a mais do que em 2021.

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Mais empregados

O total de pessoas ocupadas no setor industrial, da mesma forma, apresentou alta de 6,53% entre 2020 e 2021, saindo de 232.415 para 247.585 empregados, com a contratação de 15.170 pessoas, com maior contribuição dos setores de produção de alimentos, minerais não metálicos (cimento, areia, brita e outros), confecções e fabricação de produtos de metal (com exclusão de máquinas e equipamentos). E novamente o número de ocupados na indústria continuava abaixo do dado de 2013. Mais objetivamente, naquele ano, o setor empregava 9.246 pessoas a mais, somando 256.831 ocupados. Persistia uma redução de 3,60%. A distância já foi maior, considerando-se que o total de empregados em 2020 indicava uma redução de 9,51%.

Balanço

  • A participação relativa do Estado naqueles dois indicadores de fato experimentou avanços ao longo do período, mas excessivamente modestos. O número de indústrias em Goiás, que havia respondido por 3,52% do total de unidades industriais em funcionamento no País, atingiu 3,66% em 2021. A variação ocorreu também depois da vírgula no caso dos ocupados. Em 2013, a indústria goiana dava empregos para 3,04% do total de pessoas ocupadas por todo o setor no País, percentual que chegou a 3,27% em 2021.
  • A receita líquida com vendas experimentou alta vigorosa, subindo 32,86% entre 2020 e 2021, praticamente três vezes mais a taxa de inflação acumulada nos 12 meses daquele último ano, que havia atingido 10,06%. Em valores nominais, quer dizer, sem atualização com base na inflação, a receita líquida elevou-se de R$ 139,872 bilhões para R$ 185,829 bilhões. Desde 2013, o crescimento chegou a 103,22%, correspondendo a uma variação em termos reais de pouco mais de 25%.
  • Os custos da operação industrial, no entanto, avançaram num ritmo muito mais forte, por conta das distorções trazidas pela pandemia. A indústria goiana teve que desembolsar em 2021 perto de R$ 120,951 bilhões para fazer frente a seus custos, correspondendo a nada menos do que 65,09% de toda sua receita líquida. O ritmo da escalada afetou negativamente a participação dos custos nas receitas líquidas, que havia sido de 47,50% em 2013 e elevou-se para 61,14% em 2020. O crescimento dos custos em relação a 2020, quando a despesa havia somado pouco mais de R$ 85,521 bilhões, foi de 41,43%. Na comparação com 2013, os custos saltaram 177,92%, correspondendo a um incremento próximo de 71,7% em termos reais.
  • A disparada dos custos influenciou também a capacidade de agregação de valor no setor, já que o valor bruto da produção industrial avançou em velocidade menor em relação às despesas necessárias para a operação industrial. De fato, o valor bruto aumentou 39,05% na saída de 2020 para 2021, avançando 157,36% desde 2013. A valores nominais, saiu de R$ 70,265 bilhões em 2013 para R$ 130,047 bilhões em 2020, avançando até R$ 180,830 bilhões no ano seguinte.
  • Os custos pressionaram também o valor da transformação industrial, que retrata basicamente a capacidade de a indústria transformar insumos e matérias primas em produtos finais. Embora na aparência o valor da transformação tenha avançado com algum vigor, o crescimento nesta área foi contido em função da escalada nos preços de insumos e matérias primas. O valor da transformação saiu de R$ 26,744 bilhões em 2013 para R$ 44,516 bilhões em 2020, aumentando para R$ 59,879 bilhões em 2021. Em um ano, cresceu 34,48% e acumulou elevação de 123,90% desde 2013.
  • Mas a relação entre o valor da transformação e o valor bruto da produção industrial, que já havia desabado de 38,06% para 34,24% entre 2013 e 2020, foi reduzida para 33,11% em 2021. Isso significa que a indústria goiana tem perdido sua capacidade de agregar valor à produção final.
  • A produtividade da mão de obra empregada pela indústria no Estado, resultado da divisão entre o valor da transformação por pessoa ocupada, aumentou 26,24% entre 2020 e 2021, passando de R$ 191,580 mil para R$ 241,853 mil. Diante de 2023, quando a produtividade havia sido de R$ 104,132 mil, o aumento foi de 132,26%.