Indústria goiana reage em junho, mas fecha o semestre sem avanços

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 09 de agosto de 2023

O crescimento registrado pelos setores de alimentos e de biocombustíveis, com destaque respectivamente para carnes e leite e para o biodiesel, impulsionou a produção da indústria goiana em junho e evitou que o setor como um todo encerrasse a primeira metade do ano no vermelho. Segundo a pesquisa mensal sobre a produção industrial regional, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção estadual avançou 1,8% na passagem de maio para junho, no segundo resultado positivo em sequência – ainda que o avanço registrado em maio tenha se limitado a um modestíssimo 0,2% em relação a abril.

Junho respondeu ainda pelo segundo melhor resultado do ano, atrás do crescimento de 4,8% anotado em janeiro na comparação com dezembro, já descontados fatores e eventos que se repetem ano a ano em iguais períodos, quer dizer, com dados dessazonalizados, para não interferir na comparação. Os avanços observados em maio e junho vieram depois de três quedas mensais consecutivas, anotadas em fevereiro, março e abril, quando a produção havia sofrido baixas de 4,8%, de 1,6% e 1,5% na mesma sequência. A reação observada ainda não foi suficiente para que a produção retomasse os níveis alcançados em janeiro, com o setor acumulando redução de 5,7% entre janeiro e junho.

Tomando junho do ano passado como base, a produção da indústria goiana em geral observou alta de 4,7% no mesmo mês deste ano, melhor resultado em sete meses e também o segundo dado mensal positivo, considerando-se a variação de apenas 0,4% anotada em maio (diante de idêntico mês de 2022). O aumento em junho veio sobre uma base achatada pelo tombo de 5,5% computado pela pesquisa do IBGE na comparação entre junho do ano passado e o mesmo mês de 2021, o que pode ter influído na melhora ocorrida agora.

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Crescimento nulo

O fato é que o incremento observado no sexto mês do ano reverteu a queda de 1,3% acumulada nos primeiros cinco meses do ano, zerando os resultados do setor no primeiro semestre. O crescimento nulo do setor em Goiás compara-se com o recuo de 0,3% anotado por toda a indústria brasileira no primeiro semestre. Os níveis de produção no Estado mantiveram-se ainda levemente inferiores àqueles alcançados em fevereiro de 2020, no pré-pandemia, num recuo de 0,6%. Outros dez Estados não conseguiram retomar os volumes produzidos naquele mês e apenas em cinco – Mato Grosso, Minas Gerais, Amazonas, Rio de Janeiro e Santa Catarina – a produção supera aquela realizada em fevereiro de 2020, deixando a indústria como um todo ainda 1,4% aquém dos níveis que antecederam a pandemia.

Balanço

  • Na comparação mês a mês, o IBGE não abre os dados dessazonalizados para todos os segmentos da indústria, divulgando apenas o resultado geral. Ao contrário do que ocorre na comparação com iguais períodos do ano imediatamente anterior. Pode-se inferir, no entanto, que alimentos e biocombustíveis igualmente parecem explicar o desempenho de junho frente a maio, dado o histórico recente da produção naquelas duas áreas.
  • Nessa comparação, por exemplo, a produção somada de etanol e de biodiesel avançou 3,7%, saindo de 812,751 milhões para 842,857 milhões de litros, conforme estatísticas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Analisados separadamente, os números da agência mostram elevação de 3,36% para a produção de etanol, saindo de 707,460 milhões de litros em maio para 731,221 milhões em junho. A produção de biodiesel cresceu 6,03% entre aqueles dois meses, saindo de 105,291 milhões para 111,636 milhões de litros.
  • A indústria de biocombustíveis elevou sua produção de 4,4% na comparação entre junho deste ano e idêntico mês de 2022, depois de ter sofrido tombos de 12,6% e de 5,9% em abril e maio, pela ordem. O setor acumula baixa de 3,6% no semestre, num desempenho corroborado pelos dados da ANP. A produção de biodiesel até cresceu no primeiro semestre, saindo de 490,867 milhões de litros nos primeiros seis meses do ano passado para 535,113 milhões neste ano, em alta de 9,01%. Mas a produção de etanol, mais expressiva em volume, recuou de 1,854 bilhão para quase 1,773 bilhão de litros, numa redução de 4,39%.
  • A maior influência veio da indústria de alimentos, que vem numa tendência de crescimento mais expressivo ao registrar altas de 7,7%, 9,7% e de 9,6% em abril, maio e junho, diante dos mesmos meses do ano passado, acumulando variação de 3,8% no semestre (depois de ter crescido 5,7% entre os seis meses iniciais de 2022 e igual intervalo de 2021). O resultado final do setor no semestre foi influenciado ainda pelas quedas de 6,4% e de 4,3% respectivamente em fevereiro e março. Desconsiderando o setor de alimentação, o restante da indústria reduziu sua produção em 1,6% no primeiro semestre deste ano.
  • Os setores de produção de minerais não metálicos (cimento, concreto, asfalto, estruturas pré-fabricadas para o setor da construção) e de confecções experimentaram saltos de 18,0% e de 15,2% em junho. Mas seguem trajetórias distintas. A indústria de confecções, por exemplo, que passou a fazer parte da pesquisa neste ano, havia despencado 76,9% em abril e 42,6% em maio, encerrando o semestre num retrocesso de 34,4%.
  • A fabricação de produtos não metálicos chegou a cair 2,6% em abril e variou modestamente em maio, avançando 0,7%, para fechar a primeira metade do ano numa variação de 4,8%, com altas para a produção de misturas betuminosas produzidas a partir de asfalto, pré-fabricados de cimento e concreto, clínquer e cimento.
  • Depois de duas quedas em sequência, com perdas de 5,2% e de 2,4% em maio e junho, a indústria de fármacos e produtos farmacêuticos ainda conseguiu uma elevação de 9,0% no semestre (depois de ter recuado 0,4% nos mesmos seis meses de 2022).
  • As indústrias de máquinas e equipamentos e de veículos encerraram o primeiro semestre com perdas severas, em baixa de 15,2% e de 21,4% respectivamente. Numa sinalização de como têm se comportado os investimentos na indústria, a produção de máquinas e equipamentos desabou 28,6% em abril e 67,3% em maio, com baixa ainda de 8,9% em junho.