Inflexível, BC mantém arrocho dos juros e antecipa queda lenta em 2024

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 14 de dezembro de 2023

Inabalável em suas convicções, o Banco Central (BC) antecipa que manterá o arrocho monetário ao longo de boa parte do próximo ano, perseverando na programação anunciada ainda em agosto deste ano. Na reunião concluída em 2 de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou que faria cortes de meio ponto percentual sobre a taxa básica de juros, então estacionada em 13,75% há precisos 12 meses, nas quatro reuniões seguintes do colegiado. Em seu último encontro no ano, finalizado ontem, o Copom anunciou mais uma redução de meio ponto, levando a taxa Selic (os juros básicos) para 11,75% e encerrando o período com um corte de dois pontos percentuais em cinco meses.

A se confirmar o cenário aguardado pela autoridade monetária, o conservadorismo tenderá a prevalecer, mesmo diante de todos os sinais de esfriamento da atividade econômica, queda de investimentos, ritmo mais moderado no mercado de trabalho, desaquecimento no mercado de crédito e indicadores de inflação sob controle e em baixa. Sem surpresas à frente e a depender da “evolução da dinâmica inflacionária”, afirma o Copom em nota à imprensa divulgada ontem à noite, ao final de sua reunião, “os membros do comitê anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, quer dizer, de queda das taxas de inflação.

Conservadorismo em excesso

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Mas a avaliação do BC, ainda que as decisões do Copom sejam tomadas pelo conjunto de diretores da autoridade monetária, parece ainda “contaminada” por uma visão excessivamente conservadora de política econômica, para dizer o mínimo.  Em sua versão, ao justificar a decisão de ontem, o Copom alega, entre outros pontos, que o “processo desinflacionário” tende a ser mais lento na conjuntura atual, marcada ainda por “expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador”. O cenário global, de fato, mantém níveis ainda elevados de incerteza, mas a “desinflação” brasileira não parece ser caracterizado pela “lentidão”. Para refrescar a memória, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses aproximava-se e mesmo superava os 12,0% entre abril e junho do ano passado, passando a girar mais recentemente a uma taxa de 4,68%. Como já registrado, a taxa mensal média registrada nos últimos três meses, quando anualizada, aponta para uma variação próxima a 3,0% e, portanto, abaixo do centro da meta, fixada em 3,25% para este ano.

Balanço

  • Em termos reais, descontada a inflação esperada para 2024, a taxa básica de juros continua extravagante, nos níveis mais altos em todo o mundo, algo em torno de 7,56% ao ano. Mantida a intenção antecipada pelo Copom de manter cortes de meio ponto percentual a cada reunião programada para o próximo ano, por volta de 20 de junho, os juros recuariam para 9,75%, o que corresponderia a uma taxa real ao redor de 5,6% a se confirmar um IPCA de 3,50% no ano que vem.
  • Ao final de 2024, se a teimosia do BC prevalecer, a economia brasileira estará convivendo com juros na faixa de 7,75% ao ano, mais moderada, mas se estaria diante de mais um ano praticamente perdido em termos de atividade econômica, que estaria submetida a juros mais elevados do que aqueles durante boa parte do exercício.
  • Ontem mesmo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os resultados de sua pesquisa mensal sobre a atividade no setor de serviços, que acumula três meses consecutivos de queda na comparação mês a mês e a segunda queda mensal quando comparado a igual mês do ano passado na média de todo o País.
  • Em agosto, setembro e outubro, portanto, comparado ao mês imediatamente anterior, o faturamento real do setor caiu, pela ordem, 1,4%, 0,3% e 0,6%. No período entre agosto e outubro, os serviços acumularam perda de 2,3%. O desempenho não foi muito melhor em Goiás, com baixas de 1,9%, de 3,9% e de 0,2% também em agosto, setembro e outubro, com queda acumulada de 5,9%.
  • Na avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a tendência em outubro, analisando o desempenho por área, difere dos meses anteriores porque “uma parcela minoritária dos segmentos de serviços ficou no vermelho: dois dos cinco identificados pelo IBGE, embora valha notar que o ramo de outros serviços ficou estagnado”.
  • Os dados mais negativos atingiram os serviços prestados às famílias, “que têm apresentado um comportamento volátil recentemente, intercalando altas e baixas”, além do setor de transportes, correios e serviços auxiliares, “que por estarem mais vinculados ao desempenho geral da atividade econômica, refletem a desaceleração do PIB na virada do semestre”, pontua o Iedi.
  • Na comparação com iguais meses de 2022, os serviços sofreram baixas de 1,1% e 0,4% m setembro e outubro, na média do País, saindo de um ligeiro avanço de 0,6% em agosto. Essa tendência terminou reduzindo a variação acumulada no ano e nos últimos 12 meses. No primeiro período, a taxa acumulada saiu de 4,1% até agosto para 3,1% na comparação entre janeiro a outubro deste ano e os mesmos 10 meses de 2022. A variação em 12 meses, que havia alcançado 5,3% em agosto, chegou a 3,6% em outubro. “Isto é, a indicação tanto na margem como na comparação interanual é de uma perda de dinamismo neste setor que vinha sendo um pilar importante para a expansão do PIB nacional em 2023”, assinala o Iedi.
  • Para Goiás, o desempenho na comparação anual tem sido melhor do que a média brasileira, mas também aponta desaquecimento. Em agosto, setembro e outubro deste ano, comparado aos mesmos meses de 2022, os serviços cresceram 10,1%, 3,8% e 4,8%.