Informalidade respondeu por todo avanço do emprego em 12 meses

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 01 de setembro de 2021

A celebrada recuperação do emprego no País e em Goiás tem sido sustentada pela volta dos informais às ruas, literalmente invadidas por milhões de trabalhadores sem direitos a férias, 13º salário, Previdência, ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Mais claramente, sem apoio de políticas públicas, sem garantias e sem emprego real, portanto. Essa invasão de desvalidos tem sido apontada como sinal de uma retomada por economistas, consultores a soldo dos mercados e parte do empresariado identificado com a agenda liberaloide do senhor Paulo Guedes, ocupante ocasional do Ministério da Economia.

Nos últimos quatro trimestres, como mostram as séries estatísticas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia como um todo abriu 4,444 milhões de vagas, elevando o total de pessoas ocupadas de 83,347 milhões no segundo trimestre de 2020 para 87,791 milhões em igual período deste ano, numa elevação de 5,3%. O número de trabalhadores empurrados para a informalidade por falta de opções no setor dito formal avançou ainda mais rapidamente, saltando de 30,768 milhões para 35,618 milhões, numa variação de 15,8%. Desembarcaram nesse mercado mais 4,850 milhões de trabalhadores sem carteira, sem registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) ou para prestar serviços não remunerados a suas respectivas famílias.

Feitas as contas, todo o restante do mercado, que envolve empregados dos setores público e privado com carteira assinada, trabalhadores domésticos também com registro em carteira, trabalhadores por conta própria com inscrição no CNPJ e empregadores igualmente inscritos no mesmo cadastro, encerrou 406,0 mil vagas, em grandes números. Eram 52,579 milhões entre abril e junho de 2020 e passaram a somar 52,173 milhões no mesmo trimestre deste ano. Ou seja, a tal retomada não teve fôlego sequer para sustentar o mesmo número de empregos formais registrado há um ano.

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O atraso, o atraso

Numa comparação com o primeiro trimestre de 2020, quando a pandemia iniciou sua trajetória dramática no Brasil, o mercado de trabalho hoje ainda conta 4,432 milhões de empregos a menos, considerando os 92,223 milhões de trabalhadores ocupados nos primeiros três meses do ano passado, numa queda de 4,8%. O total de informais, que era de 36,806 milhões lá atrás, encolheu 3,2%, significando o fechamento de 1,188 milhão de ocupações. Mas, no segmento formal, o corte deixou 3,244 milhões de trabalhadores em colocação, o que correspondeu a uma redução de praticamente 5,9% no número de vagas nesta área, saindo de 55,417 milhões para aqueles 52,173 milhões já mencionados. Os números da PNADC novamente colocam em cheque a recuperação sugerida pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Balanço

  • A tendência, descontada diferenças e proporções, segue aproximadamente a mesma toada em Goiás. O total de ocupados avançou de 3,034 milhões para 3,167 milhões entre o segundo trimestre do ano passado e igual período deste ano, correspondendo à abertura de 132,0 mil ocupações, numa variação de 4,4%. O número de trabalhadores na informalidade, ao mesmo tempo, passou de 1,139 milhão para 1,322 milhão, o que significou um acréscimo de 183,0 mil novos informais, com alta de 16,1%.
  • Quer dizer, desembarcou mais trabalhadores no mercado informal do que o total de ocupações criadas no mesmo intervalo. Isso porque o contingente de trabalhadores e empregadores formais foi reduzido em 2,6%, recuando de 1,895 milhão para 1,845 milhão. Quer dizer, foram perdidos 50,0 mil empregos formais. A taxa de informalidade no Estado avançou de 37,5% para 41,7% – acima da média no País, que girou ao redor de 40,6% no segundo trimestre deste ano.
  • A taxa de desocupação, ao contrário, ficou menor em Goiás. Depois de subir de 12,8% no segundo trimestre de 2020 para 13,5% no primeiro trimestre deste ano, o desemprego baixou para 12,4% no segundo trimestre deste ano, com 447,0 mil desempregos em todo o Estado (praticamente o mesmo número de igual período de 2020, quando 446,0 mil estavam sem emprego). Houve redução de 8,0% frente aos três meses iniciais deste ano, com 39,0 mil desempregados a menos, o que pode parecer um desafogo, mas ainda muito modesto. Na comparação com o segundo trimestre de 2019, num exemplo, o número de desempregos ainda acumula salto de 13,7%, pois esse número era de 393,0 mil até ali.
  • Conforme já anotado neste espaço, os dados do desemprego têm sido de certa forma camuflados pelo número ainda muito elevado de pessoas fora do mercado. Em Goiás, no segundo trimestre deste ano, 2,371 milhões de pessoas em idade de trabalhar estavam fora do mercado, porque desistiram de buscar um emprego – mesmo contingente registrado no trimestre anterior e virtualmente estável em relação aos 2,339 milhões registrados no segundo trimestre de 2020. A taxa de participação dos trabalhadores na força de trabalho (empregados e desempregados) em relação ao total de pessoas em idade de trabalhar, ainda em Goiás, caiu de 66,7% no final de 2019 para 60,4% no segundo trimestre deste ano. Se a mesma taxa fosse mantida atualmente, aquele contingente subiria de 3,613 milhões para 3,991 milhões de pessoas. Como a economia conseguiu gerar 3,167 milhões de empregos, o número de desempregados subiria de 447,0 mil para 824,0 mil, saltando 88,4%. A taxa de desemprego, nesta hipótese, subiria de 12,4% para pouco menos de 20,7%.
  • No caso do Brasil, a taxa de participação baixou de 62,1% no segundo trimestre de 2019 para 57,7% no mesmo trimestre deste ano. Mantida a mesma participação de dois anos atrás, a força de trabalho teria subido de 102,24 milhões para pouco mais de 110,0 milhões. Como o total de ocupados atingiu 87,791 milhões no trimestre encerrado em junho deste ano, o número de desempregados subiria quase 54,0%, saindo daqueles 14,444 milhões para 22,219 milhões, com a taxa de desocupação avançando de 14,1% para 20,2%.