Coluna

“Investimento” brasileiro em paraísos fiscais cresce 18,6% na relação a 2018

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 29 de janeiro de 2020

Pouco
mais de meia década depois de iniciada a operação Lava Jato, as empresas
brasileiras voltaram a concentrar seus “investimentos” no exterior em países
classificados pelo próprio Banco Central (BC) como paraísos fiscais – ou seja,
regiões que isentam ou cobram impostos muito baixos de investidores em geral,
asseguram alguma forma de sigilo nas transações bancárias e facilitam operações
muito pouco ou nada ortodoxas, sob o ponto de vista do ordenamento fiscal e
jurídico em vigor nas demais regiões do globo. No ano passado, embora as saídas
de dólares supostamente destinados a investimentos brasileiros no exterior em
participação de capital (compra de ações de empresas instaladas lá fora) tenham
sofrido queda de 21,9%, as operações brasileiras em paraísos fiscais aumentaram
18,6%.

Sem
considerar os lucros reinvestidos pelas empresas brasileiras no exterior, os
investimentos em participação no capital lá fora baixaram de US$ 14,795 bilhões
em 2018 para US$ 11,555 bilhões no ano passado. Mas os dólares investidos com o
mesmo propósito em paraísos fiscais (como Cayman, Bahamas, Ilhas Virgens
Britânicas, Luxemburgo, Panamá e outros) avançaram de US$ 5,325 bilhões para
US$ 6,317 bilhões. Se em 2018 a participação dos paraísos fiscais havia ficado
restrita a menos de 36% dessa modalidade de operação, em 2019 a fatia aumentou
para 54,7%.

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Desta
vez, as Bermudas foram o “paraíso” preferido das empresas brasileiras e destino
de quase 27% de todo aquele investimento no ano passado. O dinheiro aplicado na
vasta e próspera economia daquela região do Caribe mais do que triplicou,
saindo de US$ 467,754 milhões para US$ 1,670 bilhão, num salto de 263,4%. A
Lava Jato pode ter inibido alguns, mas os dados do BC mostram que pelo menos
uma parte do empresariado não esqueceu o caminho para o paraíso.

Liquidação

Os
dados do BC mostraram, igualmente, que o investimento estrangeiro direto no
Brasil se manteve praticamente estável no ano passado, somando US$ 78,559
bilhões (com leve avanço de 0,51% sobre 2018). Mas os ingressos brutos (sem
considerar a saída de dólares na mesma modalidade de operação) de investimentos
de estrangeiros na compra parcial ou integral de empresas instaladas no Brasil
(participação no capital) cresceram em torno de 6,0% no ano passado, evoluindo
de US$ 46,165 bilhões para US$ 48,951 bilhões. O grosso dos ingressos
destinou-se, no entanto, à compra de ativos da Petrobrás no segmento de
extração de petróleo e concessões de campos petrolíferos leiloados pelo
governo. O investimento em participações no setor de petróleo e gás saltou
89,1% no ano passado, somando US$ 9,907 bilhões diante de US$ 5,240 bilhões em
2018. O investimento na indústria em geral desabou 41,04% na mesma comparação,
despencando de US$ 16,835 bilhões para US$ 9,927 bilhões (ou seja, US$ 6,908
bilhões a menos).

Balanço

·  
A
queda do investimento no setor industrial foi liderada pelas montadoras de
veículos, que reduziram suas compras de participação em 44,6% no ano passado,
para pouco menos de US$ 2,502 bilhões, saindo de US$
4,518 bilhões em 2018 (US$ 2,016 bilhões a menos).

·  
A
indústria de produtos químicos recebeu investimentos de US$ 912,225 milhões nos
12 meses de 2019, o que se compara com quase US$ 2,365 bilhões em 2018 – um
tombo de 61,42% entre os dois períodos (quer dizer, US$ 1,452 bilhão a menos).

·  

o setor de celulose, papel e produtos de papel anotou retração de 37,36% nos
investimentos recebidos, que encolheram de US$ 2,0 bilhões para US$ 1,253
bilhão, em números aproximados (US$ 747,37 milhões a menos).

·  
Somados,
os três setores responderam por quase dois terços da redução total dos
investimentos brutos realizados por estrangeiros no conjunto da indústria. A
retração suplantou o ganho anotado pelo setor de extração mineral, que teve
investimentos reforçados em 53,6% (de US$ 8,544 bilhões para US$ 13,123
bilhões), destacadamente por conta da alta no segmento de extração de petróleo
e gás natural.

·  
O
setor de serviços compensou as perdas e ajudou a engordar a conta, no entanto,
já que o investimento ali cresceu praticamente 25% no ano passado, atingindo
US$ 25,708 bilhões e respondendo por 52,5% de todos os dólares que ingressaram
no País a título de participação no capital. Houve um aumento equivalente a US$
5,118 bilhões na comparação com os US$ 20,590 bilhões investidos em serviços
nos 12 meses de 2018.

·  
Praticamente
metade desse ganho veio do segmento de serviços de eletricidade, onde o
investimento quase dobrou ao passar de US$ 2,495 bilhões para US$ 4,984 bilhões
(alta de 99,76% ou US$ 2,489 bilhões a mais). Em torno de 40% desses recursos
vieram do Reino Unido, que investiu US$ 1,999 bilhão em serviços de
eletricidade no Brasil, pouco mais de 12 vezes o total investido em 2018 (US$
152,083 milhões).

·  
Ainda
no mesmo setor, os serviços de transportes, ainda envolto em polêmica por conta
do tabelamento do frete, conseguiu atrair investimentos de US$ 2,824 bilhões,
frente a US$ 1,056 bilhão em 2018, refletindo uma alta de 167,4%.

·  
Excluído
os negócios de compra e venda de veículos, o comércio recebeu injeção de US$
4,246 bilhões, perto de 34,3% a mais do que em 2018 (US$ 3,162 bilhões).