Coluna

Lado conservador do pensamento econômico fala em mais gastos para animar economia

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 05 de julho de 2019

O
desespero parece ter “batido” forte lá pelos lados mais conversadores do
pensamento econômico, a ponto de um dos arautos mais destacados do arrocho
fiscal sem fim se dobrar à visão de que alguma coisa precisa ser feita pela
equipe econômica, ainda que isso represente aumentar o déficit e a dívida
pública (credo em cruz!!!), antes que o caldo da economia entorne de vez, com todas
as suas dramáticas consequências sociais (que já atingem limites críticos em função
do desemprego prolongado).

Depois
de anos martelando a necessidade de cortes de gastos, com redução permanente do
tamanho do Estado brasileiro, elegendo a crise fiscal como o grande problema a
ser enfrentado, o tal economista, físico por formação, agora acredita, não sem
certo embaraço, que talvez, quem sabe, tenha chegado o momento de se pensar em
medidas fiscais para atenuar a crise e injetar alguma esperança na economia.
Numa concessão à sua “turma”, sustenta que medidas de estímulo fiscal só
deveriam ser tomadas, com toda a cautela, depois de aprovada a reforma da
Previdência.

O
reconhecimento em si da necessidade de mudanças na política econômica merece,
de qualquer forma, ser louvado. Até há dias, a simples menção a medidas fiscais
(que significam, grosso e curto, aumentar gastos) mereceria nada menos do que o
apedrejamento público. Mas de que se trata? Na proposta envergonhada do
economista-colunista, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), a esta altura da crise, alguns pontos a
mais na dívida pública federal não tenderiam a ter impactos tão deletérios
assim.

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Além
do mais, tomando uma base de conhecimento já bastante disseminada lá fora,
sobretudo depois do desastre econômico de 2008/2009, um aumento nas despesas
públicas (especialmente no caso do investimento) poderia ter seus efeitos
fiscais negativos compensados, ora quem diria, pelo crescimento da atividade
econômica e, portanto, da arrecadação de impostos, ajudando a diluir os
reflexos negativos na conta dos gastos e, possivelmente, até a reduzir a
relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB).

Alvíssaras. Alguém viu a luz. Como já
comentou uma economista mais progressista, antes tarde do que nunca. Para
reforçar, deve-se lembrar que aumentos na despesa pública correspondem a mais
rendimento recebido pelos funcionários, maiores gastos de consumo no setor
privado e a receitas adicionais para as empresas privadas.

Juros? Que
juros?

A
medida sugerida, por enquanto, limita-se a uma expansão dos gastos com o
programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), beneficiando o setor de construção, que
continua se arrastando em crise, fortemente atingido pela retração da demanda
(e do investimento em particular) e pelo tranco produzido pela Lava Jato. O
economista descarta novas reduções dos juros (coitadinho dos rentistas, afinal)
por considerar que mais cortes na taxa básica não trariam estímulos para a
atividade econômica, embora esta não seja a visão de outros pesquisadores do
próprio Ibre.

Balanço

·  
Uma
das preocupações que parecem ter levado a essa mudança repentina pode estar na
constatação, expressa pelo economista Luiz Guilherme Schymura, também do Ibre/FGV,
de que o desemprego prolongado já estaria causando perdas permanentes para a
economia.

·  
Mais
claramente, ao permanecer desemprego por tempo demasiadamente longo, o
trabalhador perderia capacitação e se veria “inabilitado” para ser reintegrado
ao mercado quando a economia voltar a crescer. Isso criaria problemas
estruturais para uma retomada futura, já que isso só poderá ocorrer se houver
trabalhadores em condições de rapidamente retomarem a atividade.

·  
Assim,
a criação de estímulos fiscais (vale dizer, um aumento nas despesas) permitiria
assegurar algum crescimento, evitar perda de capacidade de trabalho e ainda
gerar aumentos na arrecadação, compensando adiante o gasto adicional realizado
lá atrás pelo governo. Parece óbvio, não? Mas a ortodoxia e a predominância dos
mercados no debate econômico vinham obliterando a tomada de decisões que
contrariassem a lógica do setor financeiro.

·  
Outros
pesquisadores do instituto sugerem, ainda, o lançamento de um programa de
retomada de obras públicas paralisadas e de recuperação de obras de
infraestrutura atualmente deterioradas, num pacote de R$ 35,0 bilhões (algo
como 0,5% do Produto Interno Bruto).

Uma terceira sugestão seria a redução de
impostos sobre produtos de consumo de massa, que têm poder de disseminar mais
rapidamente o crescimento por toda a economia. Nesses setores, cálculos mostram
que a cada real investido pode-se ter impacto em dobro sobre a produção ao
longo dos demais setores econômicos.