Massa de rendimentos ganha fôlego com reação do emprego

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 01 de março de 2024

No trimestre finalizado em janeiro deste ano, a massa de rendimentos reais dos trabalhadores e o número de pessoas ocupadas em toda a economia, que vinham experimentando desaceleração nos últimos trimestres, voltaram a registrar crescimento ligeiramente mais acelerado, sugerindo uma mudança de tendência – a ser confirmada (ou não) pelas próximas pesquisas. De toda forma, os dados da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), assinalam um avanço de 6,0% para a soma de todos os rendimentos recebidos entre novembro de 2023 e janeiro deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, a valores atualizados até janeiro de 2024 com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

A massa de rendimentos avançou de R$ 287,768 bilhões para R$ 305,125 bilhões, num ganho real de R$ 17,357 bilhões, elevando seus valores para os níveis mais elevados na série histórica mais recente da pesquisa, iniciada em 2012. Para comparação, no trimestre encerrado em outubro do ano passado, a massa salarial havia avançado a um ritmo e 4,7% em 12 meses, acrescentando R$ 13,315 bilhões ao orçamento das famílias, sempre considerando apenas os rendimentos do trabalho. No trimestre final de 2023, a taxa de crescimento variou discretamente, atingindo 5,0% na comparação anual, trazendo um ganho de R$ 14,471 bilhões para o total de ocupados.

Injeção de ânimo

Continua após a publicidade

A variação mais acentuada no período mais recente pode injetar ânimo renovado no consumo doméstico, caso a tendência seja mantida nas próximas medições. Até porque o avanço veio na esteira de um crescimento relativamente mais acelerado do emprego, que chegou a crescer 0,5% no trimestre agosto-outubro de 2023 frente ao mesmo período de um ano antes, correspondendo à contratação adicional de 545,0 mil trabalhadores. No dado mais recente, aferido entre novembro de 2023 e janeiro deste ano, o total de ocupados alcançou o recorde (ao menos em valores absolutos) de 100,593 milhões de pessoas, crescendo 2,0% em relação ao mesmo trimestre de 2023, quando aquele número havia atingido 98,636 milhões, significando 1,957 milhão a mais. Quer dizer, a economia criou de três vezes e meia mais vagas do que o acréscimo registrado no trimestre encerrado em outubro do ano passado (em relação aos mesmos três meses de 2022).

Balanço

  • Os indicadores da PNADC mostram certa estabilização na taxa de desemprego, que praticamente repetiu aquela observada no trimestre agosto-outubro de 2023, mantendo-se em 7,6%. De toda forma, houve redução de 0,8 pontos percentuais na comparação com a taxa de 8,4% registrada no trimestre novembro de 2022 a janeiro de 2023.
  • O total de pessoas ainda desocupadas variou 0,4% entre outubro do ano passado e janeiro deste ano, sempre na leitura trimestral, saindo de 8,259 milhões para 8,292 milhões (o que, em termos estatísticos, tem sido avaliado como estabilização pelo IBGE). Na comparação com o janeiro de 2023, quando a PNADC apontava 8,995 milhões de desempregados, o total de pessoas desocupadas caiu 7,8%, representando 703,0 mil a menos.
  • A informalidade tem se mantido ao redor de 39,0% desde outubro de 2022, embora o total de trabalhadores informais tenha anotado alguma variação, embora inferior ao avanço registrado pelo número total de ocupados. Esse número saiu de 38,453 milhões no trimestre novembro de 2022 a janeiro de 2023 para 39,180 milhões entre agosto e outubro de 2023, avançando até 39,217 milhões nos três meses entre novembro do ano passado e janeiro deste ano.
  • Como se percebe, a variação no trimestre foi quase nula, num avanço de 0,4% (o que significou 32,0 mil trabalhadores a mais na informalidade). Em 12 meses, no entanto, o número de informais cresceu praticamente 2,0%, correspondendo a 764,0 mil a mais – neste caso, a informalidade contribuiu com quase 40% para o crescimento do total de pessoas ocupadas.
  • Descontados os servidores públicos sem carteira, que por algum motivo não entram no cálculo da informalidade feito pelo IBGE, os trabalhadores formais, incluindo aqueles com carteira assinada e que trabalham por conta própria com registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), aumentaram 0,8% entre outubro de 2023 e janeiro deste ano (de novo, na medição trimestral). Isso representou a abertura de 487,0 mil vagas informais, já que o total passou de 57,923 milhões para 58,410 milhões. Em 12 meses, tomando o total de 57,406 milhões de ocupações formais em janeiro de 2023, a pesquisa registra um avanço de 1,8%, com abertura de 1,004 milhão de vagas.
  • Os setores de serviços e comércio concentraram 71,9% do total de ocupados, somando 72,356 milhões de trabalhadores, o que correspondeu a um crescimento de quase 3,0% em relação ao trimestre finalizado em janeiro do ano passado, com a contratação de mais 2,088 milhões de pessoas (o que significa dizer que o restante da economia desempregou 131,0 mil trabalhadores).
  • Entre os setores de atividade que fecharam empregos, o destaque vai para agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, que reduziu o total de ocupados em 6,9% em 12 meses com demissão de 582,0 mil pessoas, reduzindo o contingente de ocupados nesta área de 8,446 milhões para 7,865 milhões. O rendimento médio real avançou 1,8% em 12 meses, numa variação inferior ao avanço de 3,8% acumulado no período pelo rendimento total médio dos ocupados. Numa estimativa própria, a massa de rendimentos na agropecuária pode ter encolhido 5,2% no mesmo intervalo.