Mexida nos impostos traz baixa temporária para taxa de inflação

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 27 de julho de 2022

Sob efeito das mexidas em impostos e contribuições decretadas pela União e pelos governos estaduais, a taxa de inflação medida entre 14 de junho a 13 de julho pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baixou para 0,13% e tende a atingir números negativos até o fechamento do mês em curso nas projeções dos mercados. Trata-se de uma queda temporária, já que a redução de impostos nos setores de combustíveis e de energia produzirá efeitos uma única vez sobre os índices inflacionários.

Mas esses efeitos não tenderiam a se estender ao restante dos preços na economia, ajudando a consolidar uma mudança de rumos nesta área? Há sérias dúvidas a respeito diante do momento de incertezas na política e na economia, aqui dentro e lá fora, mas sobretudo pela prevalência de um cenário de pressões inflacionárias ainda não debelado. Os preços internacionais das commodities vêm sinalizando alguma acomodação mais recentemente, ainda que com oscilações para cima e para baixo, sem uma definição clara de tendência, ainda que analistas já venham trabalhando com uma perspectiva de baixa relativa para commodities agrícolas, metais e petróleo num horizonte de médio prazo.

Neste momento, as pressões para cima continuam relevantes. Excluídos os preços dos combustíveis para veículos e as tarifas de energia, num cálculo feito pela coluna, a inflação dos demais itens que formam a cesta de consumo das famílias girou em torno de 0,71% nas quatro semanas encerradas em 13 de julho, um tanto acima do IPCA-15 geral, que alcançou 0,13% para o mesmo período. Houve ligeiro recuo frente ao mesmo indicador obtido ao longo dos 30 dias de junho, quando aquela parcela dos preços chegou a apresentar variação de 0,81%.

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Para baixo

O recuo parece associado ao menor ritmo dos preços de artigos residenciais, que passou de 0,55% nas quatro semanas de junho para 0,39% entre 14 de junho e 13 de julho. Na mesma linha, a variação observada para os custos do vestuário saiu de 1,67% para 1,39%, recuando de 1,24% para 0,71% no grupo saúde e cuidados pessoais. Neste último caso, a alta de 15,5% definida em 26 de maio pela Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS) para os planos de saúde parece já quase inteiramente absorvida pelo IPCA, com variação de 1,04% registrada em 30 dias até 13 de julho diante de elevação de 2,99% nas quatro semanas de junho.

Balanço

  • Para contrabalançar, as despesas pessoais subiram de 0,49% para 0,79% entre junho e julho, consideradas as duas primeiras semanas deste mês. Mas o grande foco de preocupação mantém-se na área dos alimentos, que experimentaram aceleração na saída de junho para julho, com a taxa de alta passando de 0,80% para 1,16% (depois de registrado variação de apenas 0,25% nas quatro semanas terminadas ao final da primeira quinzena daquele mês).
  • O salto nos preços do leite e de seus derivados explica em grande parte o acirramento da carestia no setor de alimentação. Pela ordem, o leite longa vida, requeijão, manteiga e queijo subiram 22,27%, 4,74%, 4,25% e 3,22% nas quatro semanas até 13 de julho passado. Na soma geral, a “inflação” desses quatro itens superou levemente 0,20% no mesmo período, considerando o peso de cada um deles no orçamento das famílias. Isso significou uma contribuição de 83% na composição da inflação dos alimentos.
  • O índice geral respondeu essencialmente às mudanças na área da tributação sobre combustíveis e energia, com redução a zero das alíquotas do PIS e das contribuições para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina e o etanol, redução ainda do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre aqueles dois itens, definidas por alguns governos estaduais e manutenção da bandeira verde, no caso das tarifas de energia (cujo impacto, na verdade, já se deu nas medições anteriores do IPCA).
  • Na avaliação da equipe de macroeconomia do Itaú BBA, “a leitura (do IPCA-15) de julho seguiu indicando inflação alta e disseminada, com índice de difusão próximo de 67,8%. Embora alta, a difusão veio um pouco abaixo daquela registrada no mês anterior (68,9%)”. O indicador de difusão afere o número de itens, entre produtos e serviços, que apresentaram elevação ao longo do período pesquisado, mas não aponta a intensidade desses aumentos. Muito embora a persistência de um índice elevado de difusão sugira a persistência de pressões altistas num número de setores não desprezível.
  • A taxa de variação média dos preços administrados ficou negativa em 1,5% entre 14 de junho e 13 de julho, na comparação com as quatro semanas anteriores, saindo de alta de 0,9% em junho, o que, como já mencionado, explicou praticamente toda a redução do IPCA-15. No setor de serviços, que tem apresentado ritmo de negócios mais expressivo depois do mergulho registrado no primeiro ano da pandemia, a inflação havia atingido 0,9% no IPCA-15 de junho e variou 0,8% nos 30 dias até 13 de julho.
  • Considerando a isenção temporária de PIS/Cofins e da Cide sobre gasolina e etanol, a fixação de um teto para as alíquotas de ICMS sobre energia, combustíveis e telecomunicações, e apostando na adoção pelos Estados da retirada das tarifas de distribuição e transmissão da base de cálculo do ICMS sobre energia, o Itaú BBA antevê deflação de 0,67% para julho e de 0,25% em agosto, com a inflação retomando sinal positivo em setembro, batendo em 0,49%. O mercado em geral aposta em queda de 0,65% no IPCA de julho, com variação de 0,05% em agosto e de 0,50% para setembro.