Ocupação menos qualificada responde por 2 terços da reação do emprego desde 2021

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 01 de fevereiro de 2024

Num efeito da pandemia sobre a atividade econômica e, claro, das medidas de restrição a aglomerações e à movimentação das pessoas adotadas no período, o mercado de trabalho havia detonado em torno de 8,433 milhões de vagas entre o quarto trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2021, quando atingiu o fundo do poço em toda a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e iniciada em 2012. Até então, o melhor resultado da pesquisa havia sido anotado no trimestre encerrado em dezembro de 2019, quando 95,515 milhões de pessoas exerciam algum tipo de ocupação, formal ou informalmente. Aquele número murchou para 87,082 milhões na média dos primeiros três meses de 2021, numa queda levemente superior a 8,8%.

Nos sete trimestres seguintes, com a economia oscilando entre uma fase inicial de avanço mais acelerado, na saída da crise, e um período mais recente de perda de ímpeto no crescimento, o mercado abriu 13,903 milhões de ocupações, repondo com alguma folga o retrocesso observado nos anos mais críticos da pandemia. A criação de novos empregos elevou o número total de pessoas ocupadas para o recorde de 100,985 milhões no trimestre final do ano passado, conforme registra a última edição de 2023 da PNADC. O crescimento acumulado desde o início de 2021 chegou a quase 16,0%.

As ocupações que demandam qualificação menos especializada, numa classificação generosa, incluindo agricultura, construção, alojamento e alimentação, transporte, serviço doméstico e outros serviços, o número de pessoas ocupadas experimentou salto de 17,8% entre o primeiro trimestre de 2021 e o quarto trimestre do ano passado, saindo de 48,679 milhões para 57,363 milhões e adicionando ao mercado 8,684 milhões de vagas – ou seja, perto de 62,5% do número de ocupações novas agregadas à economia ao longo daqueles sete trimestres.

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Informais e formais

Em outra classificação, a informalidade respondeu por 39,4% do aumento acumulado no mesmo período pelo total de ocupações e manteve a taxa de informalidade praticamente estável, ao redor de 39,1%. O contingente de informais na economia avançou 16,1% entre o trimestre inicial de 2021 e o último trimestre de 2023, passando de 34,054 milhões para 39,533 milhões de pessoas, quer dizer, 5,479 milhões a mais. As ocupações “formais”, numa aproximação que exclui informais e trabalhadores do setor público sem carteira do total de ocupados, cresceram 14,3% aproximadamente e responderam por pouco mais de metade (52,4%) do avanço experimentado pelo total de ocupados, evoluindo de 51,108 milhões para 58,389 milhões de trabalhadores (7,281 milhões a mais). Apenas como informação adicional, o número de trabalhadores sem carteira no setor público disparou naquele período, saltando quase 60,0%, de 1,920 milhão para 3,063 milhões, coma entrada de mais 1,143 milhão de pessoas nessa categoria, que sozinha respondeu por 8,2% do aumento das ocupações em sua totalidade – ainda que represente pouco mais de 3,0% do total de ocupados.

Balanço

  • As ocupações que exigem uma qualificação maior, numa classificação sujeita a filtros mais específicos e dependente ainda de dados mais detalhados da base de informações desagregadas da PNADC, tiveram participação menos relevante na reação experimentada pelo emprego a partir dos primeiros meses de 2021. Foram incluídas nessa classificação os setores de indústria em geral; informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas; administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais.
  • Na soma daquelas áreas, as ocupações avançaram de 38,358 milhões para 43,579 milhões, correspondendo a uma variação de 13,6%. Foram geradas 5,221 milhões de vagas, representando 37,5% do número total de ocupações criadas nos sete trimestre avaliados aqui. A participação dos setores com algum conteúdo tecnológico a mais no emprego recuou de 44,1% para 43,2%.
  • Vale dizer, a economia brasileira no pós-pandemia manteve a trajetória de perda de especialização e de perda de complexidade que tem marcado o País nas últimas décadas. Diante dos custos mais elevados para formação de mão de obra mais especializada, os setores mais sofisticados tecnologicamente buscaram nitidamente evitar demissões na fase mais crítica da Covid-19. Entre o quatro trimestre de 2019 e o primeiro trimestre de 2021, aqueles setores demitiram 1,179 milhão de trabalhadores, numa queda de quase 3,0%.
  • Os setores menos especializados cortaram 7,307 milhões de empregos no mesmo período, numa redução de 13,1% em pouco mais de um ano, com o total de ocupações nestas áreas caindo de 55,956 milhões para 48,679 milhões. Em resumo, foram responsáveis por 86,6% dos cortes realizados por todos os setores da economia naquele intervalo.
  • De toda forma, os dados divulgados ontem pelo IBGE conformam que 2023 de fato foi um ano de recordes no mercado de trabalho, com números históricos para o total de pessoas ocupadas, assim como para o número de empregados com carteira e também para aqueles sem carteira, levando a massa de rendimentos reais, quer dizer, a soma dos rendimentos habitualmente recebidos pelos trabalhadores em todas as suas ocupações, ao seu maior valor na série da PNADC, iniciada em 2012.
  • O total de ocupados aumentou 1,6% entre o último trimestre de 2022 e igual período do ano passado, com o número avançando de 99,370 milhões para 100,985 milhões, quer dizer, 1,615 milhão a mais (dos quais, perto de 1,146 milhão (ou 71,0%) criadas na passagem do terceiro para o quarto trimestre de 2023. O número de desempregados caiu 5,7% na comparação entre o quarto trimestre de 2022 e o mesmo trimestre de 2023, saindo de 8,572 milhões para 8,082 milhões, o que derrubou a taxa de desemprego de 7,9% para 7,4% – nível mais baixo desde o trimestre finalizado em janeiro de 2015, quando a taxa havia alcançado 6,9%.
  • O rendimento real médio, já descontado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), chegou a recuar 0,4% entre o trimestre finalizado em novembro para o trimestre concluído em dezembro do ano passado, de R$ 3.045 para R$ 3.032. Mas avançou 3,1% em 12 meses.
  • A massa salarial atingiu o maior valor real desde que a PNADC foi iniciada, atingindo R$ 301,602 bilhões, em alta de 5,0% frente aos R$ 287,198 bilhões alcançados no trimestre final de 2022, num ganho de R$ 14,404 bilhões.