Produção industrial desmancha em Goiás e vendas do varejo fraquejam

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 12 de agosto de 2021

A economia goiana emitiu sinais de debilidade em junho, com redução donível da atividade na indústria e virtual estagnação nas vendas do comércio em seu conceito mais amplo, sempre na comparação com maio, conforme mostram os dados das pesquisas mensais da produção industrial regional e do varejo, realizadas pelo Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE). No primeiro caso, o desempenho negativo tem sido influenciado principalmente pela retração da produção de alimentos, etanol e biodiesel e medicamentos. No setor varejista, o comportamento do volume de vendas segue de perto a deterioração observada no segmento de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, numa tendência que parece atingir em cheio a produção da indústria do mesmo setor.

A alta da inflação, turbinada pelos preços dos combustíveis, da energia e dos alimentos, destacadamente, pode estar por trás dos resultados menos promissores registrados pelos principais setores do comércio varejista, na hipótese considerada pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) ao analisar o desempenho do setor em todo o País. De acordo com o instituto, “a aceleração inflacionária pode estar começando a pesar sobre a expansão de suas vendas, já que retira poder de compra da população”.

Na sequência, os analistas do Iedi consideram que o avanço recente das taxas de inflação, com combustíveis e alimentos surgindo como “vetores importantes” (ou seja, duas das causas principais para a alta dos preços em geral), parece afetar “negativamente não apenas as suas vendas (referindo-se aos dois setores já mencionados), mas também a de outros produtos, já que por sua essencialidade existe um limite para a redução de seu consumo”. O Iedi acrescenta ainda que o preço da energia elétrica corresponde a “outro vetor que vem ganhando força com a crise hídrica”.

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“Efeito bola de neve”

Mais claramente, a capacidade de o consumidor se defender dos aumentos nos preços da gasolina, do etanol e dos alimentos em geral, reduzindo suas compras naquelas áreas, é limitada, exatamente porque são produtos essenciais, conforme destaca o Iedi. Além disso, ainda no caso dos combustíveis, o consumidor é atingido também por meio do aumento das tarifas do transporte coletivo urbano. Na prática, as famílias terminam sendo obrigadas a reduzir as compras em outras áreas, o que tenderia a agravar a retração das vendas no restante do varejo, num efeito de “bola de neve”.

Balanço

  • A indústria goiana, definitivamente, não teve um bom primeiro semestre e mais do que devolveu todo o ganho acumulado em igual período do ano passado, exatamente numa fase de medidas mais duras de distanciamento social. O fato é que praticamente todo o parque industrial goiano, ou sua principal fatia, conseguiu preservar suas operações em 2020, com a exceção provável da indústria de montagem de veículos, que experimentou perdas severas ao longo de praticamente todo o ano passado.
  • De maio para junho, a produção retrocedeu 1,1% em Goiás, depois de registrar alta de 4,0% em maio, enquanto a indústria brasileira como um todo não saiu do lugar na mesma comparação, com variação nula. Tomando igual período do ano passado, a indústria goiana acumulou cinco resultados negativos e apenas um único mês positivo. Ainda assim, em março, a variação foi mínima, próxima de 0,2% diante do mesmo mês de 2020.
  • O resultado daqueles movimentos foi uma retração de 4,2% no primeiro semestre, enquanto a produção no País saltava 12,9% em relação à primeira metade do ano passado. Os sinais sofreram nítida inversão entre aqueles dois períodos. A produção brasileira havia mergulhado em queda de 10,0% nos seis primeiros meses de 2020 e praticamente repôs as perdas com o avanço realizado no mesmo intervalo deste ano. Na prática, a produção não saiu do lugar e mantinha-se, em junho deste ano, nos mesmos níveis de fevereiro de 2020, antes da pandemia.
  • Em Goiás, ao contrário, puxada pelas indústrias de alimentos, medicamentos e biocombustíveis, a produção chegou a crescer 3,1% na primeira metade do ano passado, para depois mergulhar em baixa nos mesmos seis meses deste ano. Comparada a fevereiro de 2020, a produção da indústria goiana ainda observava, em junho, baixa de 1,4%.
  • O comportamento discrepante surge com clareza também na comparação trimestral. A indústria goiana sofreu perdas de 5,3% e de 3,5% no primeiro e no segundo trimestres deste ano, em comparação aos mesmos períodos de 2020. No ano passado, a produção goiana havia recuado 0,8% no primeiro trimestre, mas saltou 5,9% no segundo, enquanto a produção brasileira caiu 1,7% nos primeiros três meses de 2020 para desabar 19,4% no trimestre seguinte. Neste ano, ao contrário, a indústria em todo o País avançou 4,3% no primeiro trimestre e 22,6% no segundo.
  • No lado do comércio, as lojas exclusivamente de varejo registraram o segundo mês seguido de perdas, com recuo de 0,9% em junho frente a maio, quando houve baixa de 0,3%. Mas em relação ao mesmo período do ano passado, quando o distanciamento social havia sido mais rigoroso, fazendo os negócios desabarem, as vendas cresceram 6,3% em junho. O detalhe é que esse número, embora muito positivo, considerando-se a base de comparação muito achatada, significa forte desaceleração frente às taxas registradas em abril e maio, com saltos de 23,7% e de 15,9% respectivamente.
  • No chamado varejo ampliado, que inclui revendas de veículos, motos e autopeças e lojas de materiais de construção, que também operam no mercado atacadista, o avanço foi zero na saída de maio para junho, depois de uma variação de 0,7% em maio. Na comparação com igual mês do ano passado, o volume vendido pelo setor cresceu 21,5% em junho, depois de altas de 51,2% e de 26,0% em abril e maio, respectivamente.