Queda no saldo comercial faz rombo externo saltar 449%

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 27 de outubro de 2022

Desagregados por trimestre, os dados da conta de transações correntes mostram forte deterioração, explicada principalmente – mas não exclusivamente – pelo tombo registrado na balança comercial (exportações menos importações). Aquela conta consolida todas as despesas e receitas do Brasil no exterior, incluindo exportações e importações de bens e de serviços, pagamento de juros, remessas de lucros e dividendos, investimentos na economia e remessas relacionadas a aplicações financeiras realizadas por estrangeiros aqui dentro e por brasileiros no exterior.

Tudo somado, o País registrou uma “despesa” líquida (quer dizer, descontadas as receitas em dólares) de US$ 15,240 bilhões no terceiro trimestre deste ano, o que se compara com apenas US$ 2,778 bilhões em igual período do ano passado. Nessa comparação, o rombo experimentou um salto correspondente a US$ 12,462 bilhões, num crescimento de 448,6%. Em torno de 44,2% desse aumento esteve relacionado à retração de quase 38,0% no saldo entre exportações e importações de bens, que despencou de US$ 14,483 bilhões para US$ 8,981 bilhões (em torno de US$ 5,502 bilhões a menos).

Outra parcela relevante do crescimento do déficit em transações correntes veio da chamada “renda primária”, onde estão contabilizadas despesas e receitas relacionadas a investimentos no setor real da economia e nos mercados financeiro e de capitais, em movimentos conduzidos tanto por empresas estrangerias quanto por companhias de capital nacional. O déficit na conta de renda primária cresceu 36,09% entre o terceiro trimestre de 2021 e o mesmo trimestre deste ano, subindo de US$ 13,740 bilhões para US$ 18,699 bilhões, num acréscimo de US$ 4,959 bilhões (o que tornou a conta responsável por quase 40,0% do aumento no rombo em transações correntes).

Continua após a publicidade

Lucros para fora do País

Mais de dois terços do aumento no déficit na renda primária foram causados pelas remessas de lucros e dividendos alcançados aqui dentro por estrangeiros que investiram em títulos e ações no mercado de capitais. Aquelas remessas mais do que dobraram no período analisado, avançando 115,45% em relação ao trimestre finalizado em setembro de 2021, quando havia atingido US$ 2,803 bilhões. Nos mesmos três meses deste ano, foram remetidos para fora do País, a título de juros e dividendos sobre investimentos em carteira, qualquer coisa ao redor de US$ 6,039 bilhões, que dizer, US$ 3,236 bilhões a mais.

Balanço

  • Embora as despesas com viagens internacionais tenham voltado a escalar, depois de atingir seus níveis mais baixos na série histórica recente por conta da pandemia, a maior pressão sobre a conta de sérvios veio do segmento de transportes internacionais. As remessas no setor subiram de US$ 1,055 bilhão para US$ 2,483 bilhões também entre o terceiro trimestre do ano passado e idêntico período deste ano, num salto de 140,47%. Foram gastos US$ 1,482 bilhão a mais naquela comparação, que representou em torno de 60,6% do aumento observado pelo rombo de serviços.
  • Os gastos com fretes avançaram 41,69%, passando de US$ 822,424 milhões para US$ 1,165 bilhão, num acréscimo de US$ 342,908 milhões. O transporte de passageiros exigiu gastos de US$ 987,656 bilhões entre julho a setembro deste ano, frente a US$ 228,0 milhões no mesmo período de 2021 – ou seja, essa despesa aumentou mais de quatro vezes, numa variação de 333,18%, mas ainda 13,65% abaixo dos níveis observados em igual trimestre de 2019.
  • As despesas com viagens internacionais aumentaram ainda mais, num aumento de 167,55% entre aqueles dois trimestres, passando de US$ 662,041 milhões para US$ 1,771 bilhão, numa variação de US$ 1,109 bilhão, o que correspondeu a uma contribuição de 47,04% para o crescimento do déficit na conta de serviços. Como ressalva, as viagens internacionais haviam exigido remessas praticamente 2,8 vezes maiores no terceiro trimestre de 2019, num total de US$ 3,077 bilhões, antes, portanto, da pandemia, num indício de que esse tipo de gasto pode continuar a crescer na medida em que o mundo caminha para uma normalização completa das atividades de turismo.
  • O Brasil continua gastando dólares aos milhões para fazer frente a pagamentos relativos ao uso de tecnologias, máquinas e equipamentos importados. O pagamento de royalties por serviços de propriedade intelectual cresceu 26,25%, saindo de US$ 980,447 milhões para US$ 1,257 bilhão. Na área de telecomunicações, computação e informações, as despesas avançaram 53,03%, de US$ 664,527 milhões para US$ 1,017 bilhão. No mesmo período, as remessas para fazer frente ao aluguel de equipamentos (incluindo plataformas de petróleo) variou 9,10%, passando de US$ 1,835 bilhão para US$ 2,002 bilhões. Somados, os três segmentos responderam por pouco mais de um terço do aumento do déficit de serviços.
  • As receitas líquidas com outros serviços, que inclui os segmentos de engenharia e arquitetura, saltaram 65,12%, avançando de quase US$ 1,110 bilhão para US$ 1,833 bilhão. Esse valor, no entanto, corresponde a uma quede de 48,8% em relação ao terceiro trimestre de 2014, quando haviam alcançado perto de US$ 3,582 bilhões. O crescimento neste ano deu-se sobre o segundo pior resultado da série desde 2005, à frente apenas de 2020 (US$ 582,269 milhões).