Salto nas vendas de gasolina e etanol explica quase todo avanço do comércio

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 10 de novembro de 2022

Nos últimos meses, o comércio vinha apresentando desempenho sofrível, com quedas em sequência alternadas com ausência de crescimento, a exemplo de agosto, quando o volume de vendas do setor varejista ampliado, na classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), literalmente estacionou, com variação nula. O avanço observado em setembro parece destoar da tendência observada até então e poderia sugerir uma mudança eventual de tendência, não fossem dois detalhes nada desprezíveis.

Em primeiro lugar, o crescimento registrado em relação ao mesmo período do ano passado deu-se sobre uma base relativamente achatada pela redução observada no volume vendido por todo o varejo em setembro de 2021. No comércio mais convencional, que inclui lojas exclusivamente varejistas, as vendas aumentaram 3,2% na comparação entre setembro deste ano e igual mês deste ano. No setor varejista ampliado, que inclui concessionárias de veículos e motos, lojas de autopeças e de materiais de construção, a variação limitou-se a 1,0% frente a setembro de 2021, em função das quedas de 1,2% e de 7,9% nos segmentos de veículos, motos e peças, no primeiro caso, e de materiais de construção, no segundo.

Ao longo de setembro do ano passado, comparado a igual mês de 2020, as vendas haviam sofrido perdas de 5,2% e de 4,0% respectivamente no varejo tradicional e no comércio varejista ampliado. Parte dessa queda, à época, poderia ser explicada em função dos valores mais elevados do auxílio emergencial que vigorou em 2020, pelo desemprego mais elevado já em 2021, com redução nos rendimentos médios das famílias e o início da arrancada dos preços na economia, sob liderança então dos alimentos. A despeito das mudanças na conjuntura econômica, o fato é que as vendas avançaram em setembro deste ano sobre uma base reduzida.

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Combustível para vendas

Um segundo fator ajuda a entender como o movimento agora ensaiado pelo varejo pode ter pouca sustentação e apresentar, portanto, fôlego curto. Uma parcela relevante do crescimento observado em setembro deveu-se ao avanço vigoroso das vendas de combustíveis, aparentemente impulsionadas pela redução das alíquotas do no Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o setor, o que trouxe uma baixa momentânea dos preços da gasolina e do etanol, principalmente. Adicionalmente, ao longo do período eleitoral, a Petrobrás nitidamente evitou aumentos de preços. Comparadas a iguais períodos de 2021, como consequência, o volume de combustíveis vendidos pelo varejo experimentou alta vigorosa, saltando 30,3% em agosto e mais 34,8% em setembro, na taxa mais elevada em toda a série histórica do setor, segundo o IBGE. No ano passado, as vendas haviam anotado variação de 0,4% em agosto e baixa de 4,2% em setembro, em relação aos mesmos meses de 2020.

Balanço

  • Conforme o IBGE, o setor de combustíveis acumulou em setembro deste ano o oitavo mês de crescimento em sequência. “O setor também alcançou a maior contribuição para a composição absoluta da taxa interanual, contribuindo com 3,2 pontos percentuais no total de 3,2% de variação do comércio varejista e 2,2 pontos percentuais no total de 1,0% de variação do varejo ampliado”, registra ainda o IBGE.
  • Neste caso, o que se percebe é que, excluído o setor de combustíveis, as vendas no varejo restrito não teriam saído do lugar e o resultado do varejo ampliado passaria a ser negativo, com redução próxima de 1,2%.
  • Ainda na comparação com setembro do ano passado, as vendas do setor de super e hipermercados cresceu 3,8%, com altas ainda para farmácias (mais 5,9%), livrarias e papelarias (num salto de 31,8% para um setor que foi muito penalizado desde a pandemia) e equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (mais 6,8%).
  • Mas sofreram baixas as lojas de tecidos, vestuário e calçados (-9,5%), móveis e eletrodomésticos (-5,9%), artigos de uso pessoal e doméstico (-10,0%), além de veículos, motos e peças (-1,2%) e materiais de construção (num tombo de 7,9%). Na visão do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), “o encarecimento do crédito, o alto endividamento de uma parcela das famílias e a possibilidade de adiamento da compra de bens duráveis tendem a restringir o desempenho de ramos como móveis e eletrodomésticos, veículos e autopeças, material de construção e outros artigos de uso pessoal e doméstico, cujas vendas em alguma medida demandam crédito”.
  • Na comparação com o mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal, as vendas subiram 1,1% em setembro, no varejo tradicional, e avançaram 1,5% no comércio em seu conceito ampliado.
  • Em Goiás, o varejo continuou derrapando e registrou recuo de 0,6% no segmento mais restrito e baixa de 3,6% no comércio ampliado na passagem de agosto para setembro. Nas lojas estritamente varejistas, o volume de vendas avançou 1,9% em relação a setembro do ano passado, com alta de 10,0% no setor de combustíveis. O varejo ampliado vendeu 3,4% a menos do que em setembro de 2021, sofrendo perdas de 8,0% nas concessionárias de veículos e peças e de 15,6% no segmento de materiais de construção.
  • Chama a atenção, ainda em Goiás, a queda persistente das vendas em hipermercados e supermercados, que registraram baixa de 2,1% em relação a setembro do ano passado, depois de já terem desabado 7,2% em agosto (igualmente em relação ao mesmo mês de 2021). No acumulado entre janeiro e setembro deste ano, o setor reduziu suas vendas em 3,5%, num sinal de fragilidade no poder de consumo das famílias.