Setor de serviços derrapa e economia perde fôlego

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 14 de dezembro de 2022

O setor de serviços derrapou em outubro, mostrando recuo de 0,6% em relação a setembro nos dados dessazonalizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), num desempenho aquém daquele antecipado pelo mercado e analistas em decorrência das perdas registradas nos serviços prestados às famílias e no segmento de transporte, armazenamento e correios. Na média, os mercados aguardavam baixa de apenas 0,3% na mesma comparação, precisamente metade da taxa de fato observada pela pesquisa mensal realizada pelo instituto. Menos pessimista, a equipe de macroeconomia do Itaú BBA havia colocado suas fichas num recuo de apenas 0,2%.

Foi o primeiro resultado negativo nesse tipo de comparação desde fevereiro deste ano para o setor em todo o País. Em Goiás, a receita do setor de serviços em termos reais vem em queda desde agosto, acumulando uma redução de 5,1% entre julho e outubro deste ano, depois de sofrer baixas de 3,8%, de 0,2% e de 1,2% respectivamente em agosto, setembro e no mês passado, sempre comparado com o mês imediatamente anterior. No caso dos Estados, o IBGE não calcula ou não divulga dados dessazonalizados (quer dizer, que excluem fatores que se repetem em períodos específicos do ano e podem distorcer a comparação), o que dificulta avaliar quais os segmentos têm influenciado nesses dados mais negativos.

A preocupação, como destaca o Itaú BBA, está no comportamento do conjunto da atividade econômica, que tem mostrado perda de fôlego nos últimos meses. O ritmo da atividade no setor de serviços, lembram Natalia Cotarelli e Matheus Fuck, economistas do banco, vinha sendo francamente beneficiado pelo afrouxamento e depois pela extinção das políticas de distanciamento e de restrição à circulação das pessoas. A expectativa, daqui em diante, sugere que o setor de serviços tenda a continuar em desaceleração nos meses seguintes.

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Desaquecimento

“Os efeitos da reabertura estão se dissipando, e os demais setores, como produção industrial e vendas no varejo, já mostram alguma perda de tração”, assinalam ambos em relatório divulgado ontem pelo banco. Os indicadores antecedentes acompanhados pela instituição mostram crescimento nulo para o Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre do ano, numa estimativa revisada agora, frente a uma variação meramente de 0,1% para o período antecipada anteriormente pelo banco (e já muito próxima de zero).

Balanço

  • O banco também elabora o seu “índice diário de atividade econômica” (Idat-Atividade), que considera uma série de indicadores econômicos e busca simular qual seria o comportamento da economia como um todo ao longo dos períodos analisados. Na média móvel de 28 dias, encerrados ao final da primeira semana de dezembro, o índice havia alcançado 107,0 pontos, o que se compara com 116,0 na média de julho. Registra-se, portanto, uma retração de 7,76% desde julho, sinalizando um esfriamento da economia no período.
  • Especificamente em dezembro, numa comparação de mais curto prazo, a queda no indicador foi atribuída pelos macroeconomistas do banco à redução observada no setor de bens, “puxada por volumes mais baixos registrados nos dias de jogo do Brasil na Copa do Mundo”. Resta saber se a eliminação brasileira trará, mais adiante, algum fôlego adicional para as vendas.
  • De volta ao setor de serviços, o crescimento de 9,5% registrado pelo IBGE em outubro, na comparação com igual mês de 2021, também frustrou as apostas dos departamentos de economia do setor financeiro, que estimavam variação um ponto percentual mais elevada, na faixa de 10,5% (o Itaú BBA esperava 10,2%). Na mesma comparação, em Goiás, o setor avançou 8,2% (um ponto menos do que no mês anterior, se considerado o crescimento de 9,2% registrado em setembro).
  • Com exceção do grupo “outros serviços”, que cresceu 6,5% depois de quatro meses no vermelho, e dos serviços de comunicação informação, os demais segmentos sofreram desaceleração no dado nacional. Os serviços prestados às famílias, de longe os mais afetados pelas medidas contra a Covid-19, saíram de altas de 28,1% em junho para 18,0% em setembro, indicando variação de 10,7% no mês passado (agora na comparação com os mesmos períodos de 2021). Detalhe: o setor de serviços prestados às famílias não voltou aos níveis anteriores à pandemia, indicando queda de 6,0% na comparação entre outubro deste ano e fevereiro de 2020.
  • Para Goiás, o ritmo dos serviços oferecidos às famílias manteve-se modesto, com variação de 0,5% em outubro (mesmo índice observado em setembro, frente a igual mês do ano passado). Mas o setor de informação e comunicação experimentou recuo de 0,8%, com o setor de transportes, armazéns e correios saindo de uma elevação de 32,0% em setembro para variação de 26,1% em outubro.
  • O setor de serviços em Goiás superou em 15,8% o nível pré-pandemia, alcançado em fevereiro de 2020, mas a atividade ainda estava 12,5% mais baixa do que em fevereiro de 2014, quando havia alcançado seu melhor desempenho na série histórica do IBGE.
  • As vendas do comércio varejista no Estado avançaram apenas 0,3% na passagem de setembro para outubro, conforme já registrado neste espaço, e acumulavam perda de 4,9% desde março. No varejo ampliado, a variação em outubro havia sido de 5,3% depois de cair 4,4% em setembro e 1,8% em agosto. O nível das vendas do comércio em seu conceito mais amplo, entre oscilações para baixo e para cima, mantinha-se em outubro perto de 1,0% inferior àquele registrado em dezembro no dado dessazonalizado pelo IBGE.