Superávit comercial da indústria desaba 56,4% em quatro meses

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 15 de novembro de 2022

Diante do ritmo mais acelerado das importações, quando comparado ao avanço relativamente mais modesto experimentado pelas exportações, o saldo na balança comercial da indústria goiana de transformação mergulhou em forte baixa nos primeiros quatro meses do segundo semestre. A ampliação na tendência de queda do superávit (exportações menos importações), em relação ao desempenho registrado no primeiro semestre, veio num cenário em que as vendas externas do setor cresceram quase exclusivamente por conta do incremento vigoroso ainda sustentado pelos embarques de farelo de soja, agravando a dependência das exportações realizadas pela indústria em relação a produtos de base agrícola.

Até o final da primeira metade do ano, o superávit comercial havia registrado queda já expressiva de 36,91% frente aos seis meses iniciais do ano passado. Entre julho e outubro deste ano, as vendas externas da indústria cresceram a uma velocidade de 8,57% diante dos mesmos quatro meses do ano passado, saindo de quase US$ 2,046 bilhões para pouco mais de US$ 2,221 bilhões, numa receita adicional de US$ 175,325 milhões. Os dados do Ministério da Economia refletem, portanto, forte desaceleração quando se considera o salto de 40,67% acumulado ao longo do primeiro semestre de 2022 diante de idêntico período de 2021. Da mesma forma, a participação da indústria de transformação nas exportações despencou de 68,78% para 47,38%.

As compras externas registraram desaquecimento, mas em proporção menos intensa, crescendo 22,58% no quadrimestre encerrado em outubro, depois de terem experimentado salto de 59,0% na primeira metade deste ano. Nos quatro meses entre julho e outubro deste ano, a indústria goiana importou algo em torno de US$ 2,063 bilhões, o que se compara com US$ 1,683 bilhão em igual período de 2021, correspondendo a uma variação de US$ 379,966 milhões em valores absolutos.

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Descompasso

O resultado desse descompasso entre as duas pontas da balança comercial foi uma retração de 56,39% no superávit da indústria de transformação em Goiás, quando comparado ao mesmo quadrimestre do ano passado, desabando de US$ 362,877 milhões para algo próximo a US$ 158,236 milhões. O saldo registrou, portanto, perda em torno de US$ 204,641 milhões. A contribuição do setor para a balança comercial total do Estado murchou de 36,52% no acumulado entre julho e outubro do ano passado para meros 6,08% em igual quadrimestre deste ano.

Balanço

  • As vendas externas do setor de transformação foram puxadas especialmente pelo volume crescente de embarques de farelo de soja ao longo do quadrimestre analisado neste espaço, elevando a fatia ocupada pela indústria de esmagamento de soja na pauta de comércio exterior do Estado de 21,90% no mesmo período de 2021 para 28,56% neste ano, considerando apenas as vendas de farelo e óleo de soja.
  • No caso do farelo, a indústria exportou qualquer coisa ao redor de US$ 528,693 milhões entre julho e outubro deste ano, correspondendo a um incremento de 52,02% frente a pouco menos de US$ 347,780 milhões em idêntico quadrimestre de 2021, num ganho ligeiramente superior a US$ 180,913 milhões em receitas. Como o total exportado pela indústria de transformação entre os dois períodos havia registrado variação de US$ 175,325 milhões, como já registrado aqui, nitidamente as vendas de farelo sozinhas sustentaram todo o crescimento.
  • Com o acréscimo do óleo de soja, que teve suas vendas externas ampliadas levemente de US$ 100,135 milhões para 105,615 milhões, numa variação de 5,47%, as exportações da indústria da soja atingiram US$ 634,308 milhões entre julho e outubro deste ano, frente a US$ 447,914 milhões no mesmo intervalo de 2021, correspondendo a uma variação de 41,61% (ou seja, US$ 186,394 milhões a mais). Esses valores não incluem exportações de soja em grão eventualmente realizadas pelo setor industrial.
  • As demais exportações da indústria de transformação, excluídas as esmagadoras de soja, anotaram recuo de 0,69% entre os dois quadrimestres, saindo de US$ 1,598 bilhão para US$ 1,587 bilhão em números arredondados.
  • Entre janeiro e outubro deste ano, o superávit comercial do setor de transformação registrou tombo de 46,54%, encolhendo de US$ 796,559 milhões para pouco menos do que US$ 425,866 milhões, numa perda de US$ 370,694 milhões na comparação com os primeiros dez meses do ano passado. Nos dados do Ministério da Economia, exportações e importações no setor foram os mais elevados na série histórica iniciada em 2011, mas a diferença entre aquelas duas variáveis se estreitou neste ano por conta do avanço mais acelerado das compras externas, ainda sob a liderança dos desembarques de adubos e fertilizantes.
  • Ainda no acumulado entre janeiro e outubro, as exportações da indústria apontaram elevação de 25,31%, avançando de US$ 4,312 bilhões para US$ 5,404 bilhões. Mas sua participação nas vendas externas totais baixou de 54,03% para 44,27%. As importações, por conta das compras de adubos a preços médios duas vezes mais elevados, acumularam alta de 41,59%, de US$ 3,516 bilhões para US$ 4,978 bilhões.
  • Entre as vendas externas, considerados apenas os dez principais itens da pauta, responsáveis por 90,1% do total exportado por Goiás, pouco mais de dois terços dos produtos têm origem na agropecuária, destacando-se farelo e óleo de soja, carne bovina e de aves, açúcar e couros. Considerando essa meia dúzia de itens, as exportações no ano subiram de US$ 2,863 bilhões (66,39% do total) para US$ 3,581 bilhões (66,27% do total), variando 25,09% e respondendo por 65,81% do crescimento observado para as vendas externas de todo o Estado nos dez primeiros meses deste ano.