Superávit recorde, mas com tombo na importação e recuo na exportação

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 13 de julho de 2023

Apesar de ter alcançado valores recordes para o período, a diferença entre exportações e importações no Estado praticamente não saiu do lugar, atingindo US$ 4,493 bilhões nos primeiros seis meses deste ano diante de um superávit de US$ 4,463 bilhões no semestre inicial o ano passado, numa variação de apenas 0,68%. Os valores históricos foram produzidos principalmente por um tombo de 20,6% no total das importações destinadas a Goiás, com as compras externas baixando de US$ 3,129 bilhões para pouco mais de US$ 2,484 bilhões entre a primeira metade de 2022 e idêntico intervalo deste ano – uma redução de US$ 644,675 milhões.

No outro prato da balança, as vendas realizadas a partir do Estado para mercados no exterior anotaram baixa de 8,09%, saindo de US$ 7,592 bilhões para US$ 6,978 bilhões, o segundo melhor resultado na série histórica da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). A queda resultou numa perda de receitas cambiais de aproximadamente US$ 614,327 milhões. Nitidamente, as perdas mais intensas no lado das importações explicam a modestíssima variação do superávit comercial.

Há uma diferença igualmente evidente nas tendências observadas nos dois lados. O preço médio dos produtos importados, que chegou a despencar pouco mais de 19,0% nos primeiros dois meses deste ano, reverteu a tendência e passou a acumular elevação de 4,58% no semestre, sempre em relação aos preços registrados em igual período de 2022. Mas os volumes importados, que caíam a uma taxa de 8,4%, registraram retração de 24,08% no primeiro semestre, caindo de 2,096 milhões para 1,591 milhão de toneladas.

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Reversão

As exportações reverteram a baixa de quase 5,0% nos volumes embarcados nos dois primeiros meses deste ano e anotaram elevação de 6,96% no semestre, com os volumes somando 10,301 milhões de toneladas frente a 9,631 milhões de toneladas na primeira metade do ano passado. Mas os preços médios mantiveram-se em queda, ainda que apenas levemente menos intensa do que no começo do ano. No semestre, as exportações ficaram, na média, perto de 13,35% mais “baratas”. Essa diferença de comportamento derrubou os chamados “termos de troca” – a relação entre os valores médios gastos por tonelada de produtos importações e mesmo volume de bens exportados. Literalmente, ficou mais caro importar mercadorias, gerando custos adicionais nessa operação não cobertos pelas exportações. Esse encarecimento relativo obrigou o Estado a exportar volumes muito maiores para alcançar praticamente o mesmo resultado líquido acumulado nos seis meses iniciais do ano passado.

Balanço

  • Colocado de outra forma, essa piora nos “termos de troca” obrigou a economia a realizar um esforço maior para cobrir os custos de importação, gerando um “empobrecimento” relativo, com maior transferência de recursos (e de renda) para países produtores de insumos e fabricantes de bens importados pelo Estado.
  • O preço médio dos bens importados, na média registrada no primeiro semestre do ano passado, havia sido 90,97% mais elevado do que o valor médio obtido pelo Estado a cada tonelada exportada. Neste ano, também até junho, o “custo” médio de cada tonelada de bens importados foi mais de duas vezes maior do que a “receita” média anotada com a exportação de uma tonelada de produtos fabricados ou processados no Estado. A diferença avançou para 130,49%.
  • Em outra forma de analisar esses números, cada unidade de bem exportado pelas empresas instaladas no Estado “cobriu” apenas 43,4% do “custo” de cada unidade importada, relação que havia sido de 52,4% – quer dizer, igualmente desfavorável, indicando que Goiás continua fornecendo ao restante do mundo matérias-primas e bens de baixo valor agregado em troca de produtos mais elaborados e maior conteúdo tecnológico. Nessa comparação, os “termos de troca” teriam sofrido queda de praticamente 17,2% no primeiro semestre.
  • A dependência do Estado em relação ao mercado chinês continuou sustentada por números expressivos. Em torno de 54,07% de todas as vendas externas realizadas a partir de Goiás no primeiro semestre deste ano tiveram a China como destino, somando pouco menos de US$ 3,773 bilhões. A participação chinesa na pauta goiana de exportações havia sido de 51,99% em idêntico período do ano passado, quando os chineses compraram US$ 3,947 bilhões em produtos goianos.
  • A participação chinesa avançou porque o recuo de 4,42% observado para as exportações goianas destinadas àquele mercado foi quase a metade da queda anotada para o total das vendas externas goianas. Ao mesmo tempo, as importações de produtos chineses desabaram 27,50%, encolhendo de US$ 509,90 milhões para US$ 369,70 milhões.
  • Em consequência, o superávit comercial entre Goiás e China recuou apenas ligeiramente, saindo de US$ 3,437 bilhões para US$ 3,403 bilhões (ou seja, quase 1,0% a menos). O mercado chinês continuou respondendo por uma fatia importante do saldo comercial total de Goiás, já que sua fatia recuou de 77,02% para 75,74%
  • Mais grave, a soja em grão respondeu por algo em torno de 84% de tudo o que a China comprou de Goiás. Ao mesmo tempo, o mercado chinês absorveu 94,0% de toda a soja exportada no primeiro semestre deste ano, algo como US$ 3,175 bilhões. Houve queda de 4,29% frente aos US$ 3,318 bilhões exportados no mesmo período de 2022. A queda explica perto de 75,6% de toda a redução acumulada entre os dois períodos pelas exportações totais de soja, que recuaram 4,86%, de US$ 3,878 bilhões para quase US$ 3,690 bilhões.