IPCA deve voltar a subir por mero “efeito estatístico”

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 12 de julho de 2023

Como já esperado por 10 entre cada 10 analistas e consultores, incluindo o relatório Focus, aquele utilizado pelo Banco Central (BC) para aferir os humores do mercado financeiro, a inflação oficial do País entrou em terreno negativo em junho, fechando o mês em franca desaceleração em relação ao ritmo observado na primeira metade do período. A taxa inflacionária esperada para julho tende a apresentar variação positiva, com as apostas mirando algo como 0,21% para este mês. A inflação acumulada em 12 meses deve elevar-se de 3,16% até junho para algo em torno de 4,10% em julho, mas por mero “efeito estatístico” – e se confirmada a inflação de 0,21% esperada pelo mercado.

O índice continuaria dentro da “faixa de tolerância” admitida pelo regime de metas inflacionárias e sua elevação ocorreria especificamente por conta dos efeitos sobre a inflação de julho a setembro do ano passado das medidas eleitoreiras adotadas na época para tentar frear artificialmente o avanço dos preços. Como se recorda, houve reduções de impostos e contribuições incidentes sobre combustíveis, energia e comunicações, gerando deflação de 0,68% em julho, de 0,36% em agosto e de 0,29% em setembro, com baixa acumulada de 1,32% ao longo do trimestre.

Olhando o comportamento mais recente dos preços e, mais especificamente, as taxas acumuladas em 30 dias entre a primeira e a segunda quinzenas de junho, a tendência é de desaceleração ampla dos preços. O índice de difusão dos preços, que mostra o percentual de produtos em alta em determinado período, experimentou redução de 19,34 pontos percentuais entre a primeira quinzena de junho do ano passado e a segunda quinzena do mesmo mês deste ano (sempre considerando períodos quadrissemanais), saindo de 68,94% para 49,60% no acompanhamento realizado pelo Itaú BBA. Apenas para reforçar a tendência, até as quatro semanas encerradas em 14 de junho, o indicador mostrava 50,68% dos preços em alta.

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Curto prazo

Entre a primeira e a segunda quinzena de junho, portanto, os preços dos alimentos aceleram a queda, houve uma ajuda extra e momentânea dos preços dos automóveis novos – reflexo do programa do governo destinado a dar algum fôlego ao mercado do setor –, continuidade da redução dos preços dos combustíveis e ainda baixas nos setores de artigos para residências e de comunicação. Ao mesmo tempo, os principais focos de alta, que haviam pressionado o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na quadrissemana terminada na segunda semana de junho, perderam fôlego na quinzena seguinte. Na medição realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para aferir o IPCA-15 (cobrindo o período entre as duas semanas finais de maio e as duas primeiras de junho), os grupos habitação, vestuário, saúde e cuidados pessoais e despesas pessoais haviam apresentado, respectivamente, altas de 0,96%, de 0,79%, de 0,19% e de 0,52%. Na mesma ordem, no fechamento de junho, aqueles grupos passaram a registrar variações de 0,69%, de 0,35%, de apenas 0,11% e de 0,36%. O índice geral, que já havia despencado de 0,61% em abril para 0,04% até o final da primeira quinzena de junho, passou a recuar 0,08% no encerramento do mês passado.

Balanço

  • A despeito desse movimento quase generalizado de “desinflação” (mais precisamente, de perda de velocidade na alta dos preços), o setor de serviços, na configuração apresentada pela equipe de macroeconomia do Itaú, surge como exceção quase única. Os preços médios cobrados pelo setor, que chegaram a recuar 0,06% em maio, retomaram a tendência de alta em junho, com elevação de 0,56% nos 30 dias encerrados ao final da segunda semana daquele mês e de 0,62% na comparação entre os 30 dias de junho e igual período de maio. Mesmo aqui, observa-se algum desaquecimento, já que a variação acumulada em 12 meses pelos preços dos serviços saiu de 8,9% em julho do ano passado para 6,2% em junho deste ano (o que se compara com 7,8% em fevereiro passado).
  • Os preços dos alimentos, sob influência principalmente das quedas nos preços da soja, milho e boi gordo, têm sido puxados para baixo pelas quedas do óleo de soja, leite e, claro, das carnes. O setor assume nas últimas semanas tendência inversa àquela observada nos mesmos períodos do ano passado, quando ajudou a pressionar par o alto o IPCA. A “inflação dos alimentos” havia recuado de 2,42% em março de 2022 para 0,25% nos 30 dias concluídos na primeira quinzena de junho daquele ano. Mas entrou em escalada, atingindo taxa mensal de 1,30% em julho.
  • Neste ano, os preços dos alimentos alcançaram sua maior alta até aqui nas quatro semanas terminadas em 15 de maio, com elevação de 0,94%. Já na segunda metade do mesmo mês, a “inflação dos alimentos” havia cedido para 0,16% (confirmando forte desaceleração e queda nos preços ao longo daquelas duas semanas finais de maio). A tendência baixista seria refirmada ao longo de junho, com deflação de 0,51% até o final da primeira quinzena, seguida de mais uma queda, agora de 0,66%, na quinzena seguinte. Como as taxas cobrem períodos de quatro semanas e consideram a comparação entre preços médios, o aprofundamento da deflação no setor, mais recentemente, sugere uma continuidade da tendência de redução, a se refletir ao menos sobre os preços das primeiras semanas de julho.
  • O fim dos descontos de impostos e contribuições sobre os preços dos combustíveis deve gerar alguma pressão de alta neste mês, mas a tendência poderá compensada por novos cortes de preços nas refinarias pela Petrobrás, favorecidos pelo bom comportamento dos preços internacionais do petróleo. Como ponto de atenção, o período de estiagem e de temperaturas mais baixas, nesta época do ano, pode afetar a oferta de hortaliças e folhas, levando a aumentos pontuais de preços – o que não constituiria, de toda forma, uma ameaça relevante no horizonte e não teria fôlego suficiente para gerar uma escalada desordenada dos preços em geral.