Mercado de biofertilizantes tende a manter crescimento de dois dígitos

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 11 de julho de 2023

O mercado brasileiro de biofertilizantes cresceu a taxas anuais próximas a 20% num período mais recente e tende a avançar em torno de 10% ao ano daqui em diante, estima Mikael Djanian, sócio da McKinsey & Company. “A depender do cenário no setor do agronegócio, esse crescimento pode se manter ao redor de 20%”, sugere ainda. A edição de 2022 do trabalho Global Farmer Insights, realizado globalmente pela McKinsey, coloca a agricultura brasileira como líder em práticas sustentáveis no mundo, com uso amplo de plantio direto, maiores taxas de utilização de controle biológico de pragas assim como de biofertilizantes em substituição a fontes químicas e minerais. Segundo a pesquisa, 83% dos produtores adotam o plantio direto, frente à média mundial de 42%. Além disso, 55% dos agricultores brasileiros já recorrem ao controle biológico e outros 6% planejam fazê-lo. Os biofertilizantes conquistaram 32% dos produtores no país, frente a apenas 18% no mundo todo e apenas 12% nos Estados Unidos.

A presença de solos mais ácidos, que demandam mais corretivos, e o clima tropical, que favorece a incidência de pragas, explicam parcialmente o avanço dos biofertilizantes, aponta Djanian. Além daqueles fatores, prossegue ele, “o agricultor brasileiro é antenado e percebeu nos biofertilizantes uma oportunidade para melhorar a produtividade e a qualidade dos cultivos, cm ganhos econômicos e ambientais”. A disparada dos preços dos fertilizantes convencionais no ano passado, acrescenta Djanian, também contribuiu para acelerar o crescimento do setor, numa tendência que deve persistir daqui em diante mesmo com a recente queda e acomodação nos preços dos adubos químicos, consolidando uma participação mais relevante no setor.

Soluções sustentáveis

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A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) registrou uma escalada nos recursos investidos em projetos de biofertilizantes apoiados pela entidade. Segundo Igor Nazareth, presidente interino do organismo, no ano passado, os investimentos somaram R$ 22,0 milhões, num aumento de 57% em relação aos R$ 14,0 milhões investidos em 2021. Neste ano, apenas nos quatro primeiros meses, os recursos saltaram para R$ 20,4 milhões, aproximadamente. A evolução, conforme ele, reflete a demanda crescente das empresas por tecnologias que “possam gerar menor impacto (ambiental) ou que revertam impactos negativos”.

Balanço

  • Desde março do ano passado, a Embrapii ampliou sua participação em projetos de biofertilizantes para 50%, frente a uma fatia que tradicionalmente atinge 33% no apoio a projetos de desenvolvimento e inovação. A organização definiu ainda um novo instrumento – o Basic Funding Alliance (BFA) – para fomento a tecnologias disruptivas, de maior custo e risco mais elevado, que contempla participação de até 90% da Embrapii. O maior projeto contratado nessa modalidade, no valor de R$ 15,2 milhões, dos quais R$ 13,7 milhões da Embrapii, envolve duas empresas, três startups e os centros de pesquisa ISI Biossintéticos (RJ) e ISI Biomassa (MS), credenciados pela Embrapii. A pesquisa vai testar a possibilidade de uso de algas brasileiras na produção de biodefensivos e biofertilizantes.
  • Depois de mais de 18 anos de pesquisa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) chegou ao BiomaPhos, um de seus produtos mais disruptivos, na descrição da pesquisadora e microbiologista Christiane Paiva, da Embrapa Milho e Sorgo. O produto reúne duas bactérias do gênero Bacillus, altamente eficientes na solubilização do fósforo presente no solo, ajudando a planta a absorver o nutriente.
  • Desenvolvido em parceria com a brasileira Simbiose e com a multinacional Corteva, o produto foi utilizado em 800 mil hectares em seu primeiro ano no mercado, cobertura ampliada para 2,0 milhões de hectares no ano seguinte, alcançando mais de 5,0 milhões no ciclo 2022/23. “A meta par a safra 2023/24 é chegarmos a 10,0 milhões de hectares”, antecipa ela. O BiomaPhos, em fase de registro nos mercados dos Estados Unidos, Argetina, México, Paraguai e Uruguai, detalha Christiane, aumenta em 19% a taxa de absorção de fosfato pela soja e pelo milho, gerando economia de 10% a 20% na adubação, a depender do tipo de solo, do sistema de manejo e da cultivar adotada pelo produtor, além de aumentar a produtividade entre 6% e 10%.
  • Os avanços recentes no campo tecnológico, com surgimento de técnicas de aplicação localizada e automação dos sistemas de aspersão, observa Rogério Bremm, diretor agrícola da BP Bunge Bioenergia, permitiram o uso mais eficiente da vinhaça como biofertilizante. “Hoje temos 86% da nossa área tratada com vinhaça e nosso plano é chegar a 94% em 2025”, projeta ele. A aplicação do biofertilizante permitiu substituir integralmente o cloreto de potássio e 30% do nitrogênio, sob a forma de ureia ou nitrato de amônia, demandado pela cana. Ao aumentar a carga de matéria orgânica no solo, trazendo maior fertilidade, a vinhaça aumentou a longevidade do canavial, ampliando o ciclo de cortes de cinco para sete, em média, com ganho em torno de 10% em produtividade.