Técnicas conservacionistas reduzem impacto ambiental e geram ganhos

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 13 de junho de 2024

O uso de técnicas conservacionistas na exploração de hortaliças pode contribuir para amenizar os impactos das alterações no regime de chuvas e do aumento das temperaturas médias observadas nos últimos anos, com ganhos de eficiência e redução de custos para o produtor. A tecnologia ganha relevância ainda maior num momento em que eventos climáticos extremos têm ocorrido com maior frequência, gerando estragos econômico e, muito mais grave, ceifado vidas como se observa na tragédia causada pela série de enchentes no Rio Grande do Sul e, não muito distante no tempo, pela seca severa que atingiu o Norte do País no ano passado.

As pesquisas realizadas nesta área desde 2007 pelo Instituto Agronômico (IAC), em parceria com a Agência Paulista de Tecnologias do Agronegócio (APTA), detalha Roberto Botelho Ferraz Branco, pesquisador do IAC, sugerem a possibilidade de redução média de 16% nos custos de produção em relação a sistemas convencionais de produção de produtos hortícolas, com ganhos de 20% nas despesas com irrigação e queda de 10% no consumo de diesel.

A implantação de sistemas conservacionistas, resume Branco, exige revolvimento mínimo da terra ou plantio direto, rotação de culturas e manutenção permanente de cobertura do solo com palhada de gramíneas ou leguminosas, a exemplo de milheto ou crotalária e mucuna nas culturas de verão e aveia ou tremoço, nos plantios de inverno. “O recomendável é sempre entrar com planta de cobertura depois de colhida a hortaliça, em sistema rotacionado”, indica o pesquisador.

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Cardápio de vantagens

Os ganhos econômicos vêm acompanhados de um cardápio de vantagens agrossistêmicas que dificilmente os plantios convencionais conseguem oferecer. As práticas conservacionistas, retoma Branco, tornam o cultivo mais resiliente a alterações climáticas e eventos extremos, reduzindo seu impacto sobre a cultura, com a palhada protegendo os solos contra insolação, chuvaradas e a ação dos ventos. Desde o início dos experimentos com hortaliças, o total de matéria orgânica nas áreas cultivadas cresceu de 2,3 para 3,5 gramas por quilo de solo, aumentando o sequestro de carbono, enquanto o volume de água retida no solo mostrou-se 20% a 25% maior em relação a práticas convencionais, o que, associado à menor evaporação, passou a exigir menos irrigação. “A temperatura no solo, ao mesmo tempo, ficou em média 10°C mais baixa do que em plantios realizados com solo exposto, aumentando o conforto térmico da planta”, acrescenta o pesquisador do IAC. O manejo conservacionista possibilitou ainda o aumento da atividade biológica nos solos, com crescimento da população de fungos e bactérias, possibilitando uma melhora na fisiologia e no sistema imunológico das plantas. O efeito direto foi a redução no uso de defensivos e mesmo a eliminação de herbicidas, conforme Branco, já que o sistema inibe o estabelecimento de plantas daninhas.

Balanço

  • Os produtores Adão do Carmo Jesus Comin e Leandro Barbieri observam no dia a dia as vantagens do sistema. Comin produz tomate, pepino e milho, além de vagem manteiga e abobrinha, em cinco hectares em Monte Alto, na região de Ribeirão Preto (SP), e decidiu migrar para o sistema conservacionista depois de ser multado pela fiscalização ambiental por estar “cuidando da terra de maneira errada”, como o próprio descreve.
  • Com assessoria do próprio IAC e da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), passou a usar milheto como planta de cobertura e adaptou uma plantadeira convencional para fazer o plantio na palha. Segundo ele, problemas com erosão foram praticamente eliminados e a qualidade do solo e dos produtos melhorou. “No caso do tomate rasteiro, o fruto tem menos contato com a terra, por exemplo. Como a palha retém a umidade (no solo) por maior tempo, foi possível reduzir a irrigação e baixar o gasto como energia em aproximadamente 15%. Mas a maio redução de custos foi com o diesel, de quase 50%”, detalha o produtor. 
  • Filho de produtor, Barbieri, um dos donos da Verduras Irmãos Barbieri, produz alface e outras hortaliças folhosas em 12 hectares implantados na região de Jaboticabal (SP). A área é dividida em lotes de seis hectares e explorada em sistema de rotação, com mudança de local a cada seis meses, o que permite a colheita de 600 mil pés de alface por ano. A produção em estufas, adotado inicialmente, foi substituído há 18 anos pela produção a campo, já em regime de rotação. O milheto tem sido utilizado para cobertura e formação da palhada, diante do custo relativamente mais baixa frente a outras forrageiras.
  • Ao longo do processo, Barbieri e seus irmãos desenvolveram um furador adaptado, construído a partir do motor de uma motosserra. “Depois de dessecada a palhada, o furador vai marcando no canteiro onde as mudas serão plantadas, fazendo furos num espaçamento de 25 centímetros”, relata o produtor. O plantio direto na palha melhorou a qualidade da alface e reduziu custos com mão de obra, ao causar a diminuição de plantas daninhas, exigindo menos capina, assim como baixou o gasto com energia e o consumo de água na irrigação. “A perda de adubo por lixiviação também ficou menor”, acrescenta Barbieri.
  • O “casamento” entre fertirrigação e horticultura conservacionista ajudaria a incrementar a eficiência do sistema, assegurando a adubação no volume e na frequência necessária para que a planta possa realizar seu potencial produtivo, sugere Wilson Goto, gerente de fertirrigação da Yara. 
  • Dois estudos conduzidos pela empresa durante a safra 2022/23, na região de Jales (SP), em parceria como IAC, mostraram um salto na produção por hectare de 80 para 140 toneladas com uso da fertirrigação em laranjais, em comparação com áreas que receberam adubação convencional.
  • Embora a tecnologia seja milenar, seu baixo índice de utilização no País está associado à “falta de conhecimento do produtor e à ausência de produtos e equipamentos exclusivos para a fertirrigação”, afirma Goto. Em 2022, a companhia lançou sua linha de fertilizantes YaraRega, específica para fertirrigação, e espera trazer para o país em breve um equipamento desenvolvido para dissolver, filtrar e aplicar nutrientes na lavoura, com recursos digitais que permitem ao produtor acompanhar a aplicação por celular.