Vendas do comércio recuam e não respondem a estímulos

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 08 de outubro de 2022

O comércio em agosto acumulou o terceiro mês consecutivos de perdas, seja no seu conceito mais restrito, considerando estabelecimentos tipicamente varejistas, seja no chamado “comércio varejista ampliado”, que inclui lojas que realizam vendas no setor atacadista, na classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desempenho recente consolida uma tendência negativa desde os meses finais do primeiro semestre, como mostra a série de dados da pesquisa mensal do comércio. Entre maio e agosto deste ano, o volume de vendas experimentou queda de 2,5% no varejo tradicional e baixa de 3,3% para o varejo ampliado.

Ambos indicadores, que excluem fatores sazonais (quer dizer, que ocorrem em épocas determinadas do ano e poderiam criar distorções numa comparação mês a mês), parecem confirmar que o pacote de medidas de caráter nitidamente eleitoreiro lançadas pelo desgoverno desde Brasília não surtiu os efeitos esperados sobre a demanda. Pelo menos até aqui. Há perspectiva de mudança nesse cenário? As incertezas observadas até aqui, por conta das turbulências acirradas nesse período eleitoral e da perspectiva de piora no cenário global na esteira da guerra entre Rússia e Ucrânia, recomendam cautela.

“A despeito de todas as ações que o governo vem tomando para estimular o consumo das famílias em 2022, como liberação extraordinária do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), antecipação de 13º salário de aposentados e pensionistas, e mais recentemente, aumento para até R$ 600 do valor do Auxílio Brasil, vale gás, vale caminhoneiro e vale taxista, bem como os cortes no Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), as vendas do comércio varejista, por ora, seguem no vermelho”, reforça o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

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Perdas no Estado

Em Goiás, os resultados do setor não têm sido muito melhores. Nos últimos seis meses até agosto, as vendas ficaram no vermelho em quatro meses e desde março encolheram 6,5% no varejo ampliado e caíram 5,2% no setor varejista convencional. Na comparação com julho, o varejo tradicional sofreu recuo de 1,3% depois de um avanço de 0,7% em julho na comparação com junho deste ano, quando a queda havia sido de 1,2% frente a maio – mês em que o setor havia anotado baixa de 1,6%. No setor varejista ampliado, que acrescenta concessionárias de veículos e motos, lojas de autopeças e de materiais de construção, também na comparação com o mês imediatamente anterior, as vendas caíram 3,5% em abril, tiveram outra baixa em maio, de 1,8%, avançaram 1,4% em junho, mas registraram recuos de 0,9% e de 1,8% em julho e agosto, respectivamente.

Balanço

  • Considerando o mesmo mês de 2021, ainda em Goiás, as vendas do varejo restrito em termos reais não saíram do lugar, com variação zero, depois cair 2,1% em junho e anotar um tombo de 5,5% em julho. Foi o quarto mês consecutivo sem crescimento na comparação com igual período do ano passado, o que levou a um recuo de 0,6% no acumulado entre janeiro e agosto diante dos mesmos oito meses de 2021.
  • O varejo ampliado, por conta do desempenho do setor de veículos, motos e autopeças, avançou 1,7% em agosto frente ao mesmo mês do ano passado, mas não conseguiu recuperar as perdas de 2,3% realizadas em julho. No acumulado até agosto, de toda forma, registrou-se elevação de 3,4%, com salto de 14,1% no setor de veículos e retrocesso de 13,0% para os materiais de construção.
  • Esse desempenho elevou o nível das vendas no varejo ampliado em 7,8% na comparação entre agosto deste ano e fevereiro de 2020, antes da pandemia. O comércio varejista tradicional, no entanto, ainda acumula redução de 4,4% na mesma comparação.
  • Olhando para os anos anteriores, o comércio, em suas duas vertentes consideradas pelo IBGE, ainda tem um longo caminho a percorrer. O varejo convencional ainda terá que recuperar uma perda de quase 30,0% registrada desde maio de 2014, quando o segmento registrou seu melhor desempenho na série histórica. Em uma década, o varejo ampliado acusa retrocesso de 24,7% na comparação entre agosto deste ano e igual mês de 2012, período de desempenho recorde para o segmento.
  • No País como um todo, os percentuais se invertem quando se toma fevereiro de 2020 como base. O varejo tradicional chegou a crescer 1,1% quando considerados os resultados de agosto deste ano. Mas o comércio varejista ampliado recuou 3,0%. As perdas em relação aos melhores períodos para cada um daqueles segmentos têm sido menos intensas do que em Goiás. O nível de vendas no varejo restrito, por exemplo, encontra-se 5,2% abaixo daquele alcançado em outubro de 2020. No varejo ampliado, que atingiu sua melhor marca em agosto de 2012, a perda chega a 8,7%.
  • No curto prazo, as vendas do varejo restrito baixaram 1,9%, 0,5% e 0,1% em junho, julho e agosto, em relação aos meses imediatamente anteriores. A sequência de quedas é a mesma no varejo ampliado, embora com intensidade mais acentuada, com perdas de 2,0%, de 0,8% e de 0,6% na mesma ordem.
  • Comparado ao mesmo mês de 2021, o avanço de 1,6% realizado pelo comércio varejista restrito não recompõe as perdas de 5,3% observadas em julho. No varejo ampliado, o volume de vendas recuou 0,7% em agosto, na quarta retração mensal consecutiva. O crescimento foi influenciado pelo avanço acelerado das vendas de combustíveis, refletindo a queda nos preços naquele setor por efeito da redução do ICMS. Houve um salto de 30,2% frente a agosto do ano passado. Excluído os postos, as vendas nos demais setores do varejo restrito recuaram 1,2%, com redução de 2,6% para o varejo ampliado.