Falta gestão de tráfego nos horários de pico na Capital

Cidade tem pontos intransitáveis no horário de movimento. Especialista aponta possíveis mudanças

Postado em: 22-06-2021 às 09h05
Por: João Paulo
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Cidade tem pontos intransitáveis no horário de movimento. Especialista aponta possíveis mudanças | Foto: Reprodução

Goiânia tem 87 anos e é uma das capitais mais jovens do Brasil, mas já sofre com problemas de “gente grande”, principalmente no quesito de mobilidade. A cidade conta com diversos pontos de estrangulamento no trânsito no horário de pico. Alguns deles não sofreram nenhum tipo de intervenção, mas outros já contaram com construções de complexos viários na tentativa de melhorar o tráfego nesses lugares.

Uma saída para isso, segundo o especialista em trânsito, Marcos Rothen, poderia ser a conversão de sentidos de algumas ruas na cidade. Porém, ele destaca a importância da gestão diante disso. “Em Goiânia, [as mudanças] poderiam ser em ruas mais estreitas. Mas isso exige uma boa administração do trânsito, com muita sinalização e agentes para controlar as mudanças”, destaca.

Ele explica que as mudanças de sentido nas faixas devem ser integradas a obras físicas. Atualmente, isso é difícil de ver pela cidade, que sofre com muita lentidão. O viaduto João Alves de Queiroz, mais conhecido como viaduto na Avenida T-63, é um bom exemplo disso. A obra, que foi construída no cruzamento da Avenida 85 com o objetivo de retirar a rótula da chamada Praça do Chafariz. O complexo contou a construção de um viaduto, alças laterais e uma e trincheira, tida como inédita até então em Goiânia. A obra custou R$ 18 milhões aos cofres públicos e foi inaugurada em dezembro de 2008. Após quase 13 anos, o local é um ponto onde longos engarrafamentos se formam todo fim de tarde.

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Marcos Rothen destaca que o complexo foi construído sem levar em consideração todos os movimentos que ali passariam. “É normal o viaduto da T-63 ficar congestionado, com carros parando em cima do viaduto e em baixo também é confuso. Isso acontece por não ter sido feito um projeto correto considerando todos os movimentos. Também existem muitos problemas na programação semafórica. Quem vai da Serrinha para Centro pela Avenida 85 fica parado no sinal que tem em frente ao campo do Goiás. Lá, o tempo de vermelho para quem vem nesse sentido é maior do que o para quem sobe [A SMM alega que é por causa do tráfego à frente, o que não é verdade], assim os congestionamentos chegam até depois da Praça do Chafariz, isso atrapalha toda a fluidez de quem vem no corredor da S1/85”, conta.

E, segundo ele, essas análises ainda persistem nas obras mais atuais. “O sistema viário de Goiânia foi construído naturalmente, sem um correto plano geométrico para que, principalmente, as avenidas tivessem uma fluidez. Seriam vias sempre com a mesma largura que permitiriam uma melhor fluidez. As obras feitas, de modo geral, são tratadas de forma isolada sem considerar o corredor todo. Por exemplo, o viaduto da Jamel Cecílio não foi projetado em conjunto com a trincheira da Avenida 90, assim a prefeitura fez um grande investimento e o resultado é pequeno”, pontua.

Rótulas, viadutos e sinaleiros

Goiânia praticamente conta com investimento em três funcionalidades para tentar melhorar o fluxo no trânsito: rótulas, viadutos e sinaleiros. Marcos pontua que a funcionalidade dos três é bacana, mas deve ser levado em questão o volume de tráfego. Ele cita as existentes na Avenida Pedro Ludovico, no Parque Oeste Industrial. A via que se transforma na BR-060 acaba se tornando ponto de engarrafamento para aqueles que saem do viaduto da Vila Canaã.

“As rótulas têm uma boa aplicação em cruzamentos com um baixo ou médio volume de carros e pedestres. Mas, à medida que os volumes sobem, as rotatórias se tornam inadequadas, como por exemplo aquelas para quem vem de Guapó. Outra dificuldade é que em Goiânia quem está na rotatória tem sempre a preferência, mesmo que os volumes desses carros sejam menores. A rotatória em outros locais nem sempre dá essa prioridade, no mesmo exemplo anterior, um volume grande de tráfego para a passagem de apenas um carro. Para cada tipo de cruzamento temos que estudar qual a melhor alternativa e isso vai mudando a medida que aumentam os volumes de veículos”, reforça.

A construção de novos viadutos em perímetros urbanos não têm sido uma escolha assertiva, segundo Marcos. “Os viadutos normalmente não são mais construídos nas áreas urbanas mais concentradas. Criam um obstáculo urbanístico e apresentam baixos retornos, como dito, você passa pelo viaduto e é obrigado a parar em um cruzamento a diante. Eles podem ser construídos sobre rodovias, por exemplo.”

Sobre os sinaleiros, o especialista diz ser de extrema importância obedecer uma sincronização entre eles para que haja a fluidez do tráfego. “Goiânia precisaria melhorar o controle dos semáforos com a implantação de detectores e um controle centralizado. São o que aqui chamam de semáforos inteligentes. Mas para isso é necessário um investimento na contratação de engenheiros para aplicar essa melhoria. A equipe da SMM é reduzida e os problemas são muitos. Uma cidade inteligente começa por uma sinalização semafórica inteligente. Goiânia tem muitos equipamentos, mas poucas pessoas para que eles sejam bem aproveitados. Com um controle semafórico mais inteligente a mobilidade seria muito facilitada”, destaca.

Transporte coletivo

Uma saída para fugir desses congestionamentos seria o investimento em um transporte coletivo mais digno para todos os usuários. O que não acontece nos dias atuais. Diariamente, cenas de pessoas aglomeradas em terminais ganharam ainda mais destaque nos noticiários. O problema não é atual, mas nota-se uma maior preocupação com a disseminação do novo coronavírus.

“Um bom transporte coletivo sem dúvida facilitaria em muito a mobilidade das pessoas, poderia ser uma opção para quem pode optar entre o uso do carro e o coletivo. Com um bom sistema coletivo muitas pessoas optam por esse modo. Precisaria em primeiro caso ônibus de melhor qualidade e mais informação. Essa cidade inteligente também passa por um sistema de transporte coletivo inteligente, com prioridade para os ônibus, o que aumentaria a sua velocidade. Por exemplo, na Avenida  T-2, em frente a Rosa Mística, os ônibus têm que fazer o loop de quadra, o que aumenta o tempo de viagem, numa cidade inteligente os ônibus poderiam convergir à esquerda e ganhar tempo”, reforça.

O estacionamento também é outro fator que leva a contribuição de pontos de estrangulamentos em Goiânia. “A facilidade de estacionamento em diversos polos da cidade, por exemplo, também contribui com o uso do carro. Qualquer pessoa pode estacionar e deixar o carro o dia inteiro na Praça Cívica, isso acontece também em diversos outros lugares, como o Bueno, Campinas, etc. Em qualquer outra cidade do porte de Goiânia as pessoas têm que pagar para estacionar nas áreas mais centrais. A facilidade de estacionamento desincentiva o uso do transporte coletivo”, pontua.

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