Atraso na entrega da Praça do Trabalhador prejudica feirantes

Entidades representativas sentem que retorno próximo ao final do ano pode atrapalhar as vendas na época mais movimentada

Postado em: 30-07-2021 às 07h47
Por: João Paulo
Imagem Ilustrando a Notícia: Atraso na entrega da Praça do Trabalhador prejudica feirantes
Entidades representativas sentem que retorno próximo ao final do ano pode atrapalhar as vendas na época mais movimentada | Foto: Jota Eurípedes

Feirantes da Feira Hippie reclamam de mais um adiamento na entrega da Praça do Trabalhador, que está passando por um processo de revitalização desde junho de 2019. De acordo com a Secretaria Municipal de Planejamento e Habitação (Seplanh), a previsão é que a reforma no local seja concluída até outubro deste ano. Por outro lado, os feirantes destacam que a inauguração justamente no final do ano pode atrapalhar as vendas em uma das épocas de maior movimentação do comércio.

O presidente da Associação da Feira Hippie, Waldivino da Silva, destaca que, com a reforma da praça, algumas quadras não conseguiram ser montadas até o momento. “A gente espera que as obras sejam concluídas o mais rápido possível. Já tivemos muitos prejuízos por causa da pandemia e perdemos muitos clientes por causa do atraso dessa obra”, destaca. 

Waldivino destaca que vários feirantes sofrem com a poeira e outros problemas que assolam o local. O presidente diz que vê interesse da prefeitura em resolver a situação, mas reforça que, caso um novo adiamento seja colocado em evidência, se tornará inviável fazer a mudança dos feirantes para o espaço neste ano. “A gente já tem um levantamento nominal realizado desde 2017 pela Associação. Então, queremos estar na frente de quando acontecer a mudança para evitar que haja injustiça”, pontua. 

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Waldivino pontua que há encontros sendo realizados com membros do Paço para discutir mais detalhes sobre a dinâmica de retorno, modelos de barracas e outros assuntos relacionados à feira. Ainda de acordo com Waldivino, um movimento tímido é notado no local.

A vice-presidente da associação e também feirante, Letícia Marianne Pereira da Silva, destaca que o novo adiamento não é favorável para os feirantes. “A gente precisa do espaço para dar mais conforto para os clientes. A gente tá indo pois precisa trabalhar e adquirir um dinheiro para tentar melhorar a situação que já foi tão massacrada nesta pandemia. Mas muitos feirantes reclamam da situação como está a feira hoje”, destaca. 

Atualmente, a Feira Hippie funciona a partir da madrugada de sábado e vai até às 14 horas de domingo. Para Letícia, a conclusão dessa obra trará um benefício enorme para feirantes e clientes. “Será um espaço mais aconchegante, uma feira mais limpa. Fará com que os clientes queiram retornar aos espaço. Hoje, muitos se afastaram, não querem mais ir lá. É tudo bagunçado, sujo. Em tempos de chuva, alguns locais criam poças de água e muito barro”, reforça

Na visão de Letícia, um novo adiamento pode causar o afastamento geral de clientes em uma época de extrema importância para tentar recuperar um pouco do prejuízo causado pela pandemia da Covid-19. 

Feira da Madrugada 

Como o nome já diz, a feira é montada todos os dias de madrugada e os feirantes ficam até às 18 horas. A presidente da Feira da Madrugada, Patrícia Mendes Ribeiro, o espaço que eles estão alocados no momento – que é a Viela da Rua 44 -, está comportando as necessidades dos feirantes. E, por isso, se põe contra um possível retorno dos trabalhadores para a Praça do Trabalhador depois de setembro.

“Não tem possibilidade nenhuma deles [prefeitura] terminarem os serviços em agosto e se a gente não conseguir fazer a mudança em setembro, é melhor deixar para mudar após o final de ano. A Feira da Madrugada está excelente da forma que está. A mudança até setembro era para evitar que tumultos se formem e que levem prejuízos aos feirantes”, destaca. 

Patrícia reforça que a alocação da feira até o momento trouxe uma melhoria para os feirantes que nela trabalham. “Hoje temos 540 bancas na Feira da Madrugada que tiveram algumas melhorias nas vendas após passar para cá já que os clientes se familiarizaram com os locais que elas estão. Uma nova mudança necessita de uma nova adaptação ao cliente e ele pode não ter paciência para encontrar e, com isso, é mais perda de venda das mercadorias.”

Patrícia, que também participa dos encontros entre representantes e a prefeitura, destaca que acompanha todas as tratativas relacionadas à mudança dos feirantes. “Sabemos que vai mudar o modelo de barraca, por exemplo, e isso vai causar mais um custo. A gente busca saber se teremos alguma forma de incentivo, forma de financiamento, pois há muitos feirantes que estão com dificuldades financeiras e não vão ter condições de fazer isso de imediato”, pontua. 

Um lojista que sente isso na pele é Arnaldo Pinto Gomes, que atua na Feira da Madrugada. Segundo ele, a expectativa era que a obra fosse concluída em seis meses e já se passaram dois anos sem nenhuma conclusão. A incerteza, de acordo com ele, é quando a obra vai sair e onde ele vai ficar. 

Arnaldo ainda pontua que concorda que, caso a obra não saia antes de setembro, a mudança só ocorra no ano que vem. “O cliente vem sabendo onde é sua barraca. Com uma mudança novamente, o cliente não vai ter paciência de procurar e, se ele não encontrar, ele vai para as galerias”, reforça. 

Segundo ele, o atual local fez com que as vendas melhorem, mas a nova praça pode trazer mais dignidade e conforto para clientes e os próprios feirantes. O feirante pontua que, antes da reforma, até rato era encontrado no espaço das bancas, além de não ter nenhuma estrutura para receber os feirantes. 

Empresa alega dificuldades financeiras causadas pela pandemia

O Hoje procurou Flávio Máximo, coordenador executivo do Programa Urbano Ambiental Macambira Anicuns (Puama). Segundo ele, a previsão de entrega realmente era para agosto, mas as obras não vão poder ser concluídas devido à empresa que está à frente da obra alegar dificuldades financeiras agravadas por causa da pandemia. Para evitar trâmites burocráticos sobre um possível distrato, a prefeitura decidiu manter o contrato para que as obras sejam entregues no final de outubro. 

Segundo ele, as obras no local estão com 76% concluídas. “Falta terminar o calçamento da Praça, finalizar os prédios administrativos e colocar os acabamentos nos banheiros, como esquadrias, granito, revestimento e a parte elétrica”, pontua Flávio. O coordenador do Puama foi questionado sobre a garantia em que a empresa, que já alega dificuldades financeiras, deu para concluir a obra. Ele afirma que no contrato assinado é válida algumas penalidades. “Em caso de descumprimento, a gente pode imputar multa que varia até R$ 250 mil, além de outras sanções previstas em lei. A gente decidiu continuar com o contrato já que a obra está bem adiantada, mas isso pode ocorrer em caso de descumprimento”, reforça. 

O secretário executivo da Secretaria Municipal do Desenvolvimento e Economia Criativa (Sedec), Rafael Meirelles, explicou para o Hoje que o grupo de trabalho está discutindo a volta dos feirantes. Atualmente, o diálogo está baseado nos modelos de barracas que serão utilizadas no novo espaço. “Como vamos entregar um espaço diferente, modernizado e revitalizado, a intenção é que as bancas ganhem visibilidade com esse novo modelo. A barraca da lona azul já está ultrapassada. Essa mudança fará com que consigamos vender a feira para fora”, pontua. 
Apesar disso, segundo ele, ainda não foi tratada nenhuma normativa para possível incentivo da prefeitura para ajudar os feirantes a adquirirem esse novo modelo. “A gente entende a dificuldade de todos, mas vale lembrar que o Executivo poderia decidir isso de forma isolada, mas a prefeitura decidiu convocar todos os atores envolvidos para que todas as decisões ocorresse em consenso. Ainda não chegamos a abordar uma possível ajuda aos feirantes nesse sentido”, pontua. (Especial para O Hoje)

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