Goiânia consome quase um terço da água do Estado

Diante do cenário de secas, Saneago alerta para consumo consciente do recurso

Postado em: 30-08-2021 às 07h43
Por: Maiara Dal Bosco
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Diante do cenário de secas, Saneago alerta para consumo consciente do recurso | Foto: Reprodução

Concentrando cerca de 20% da população de Goiás, Goiânia representa 28,95% do consumo de água de todo o Estado. Isso significa que, no mês de julho, o volume faturado em Goiânia foi de mais de 6 milhões de metros cúbicos de água, enquanto o volume faturado em Goiás (Saneago) marcou mais de 23 milhões de metros cúbicos. Os dados são da Companhia Saneamento de Goiás e apontam ainda que nos dois meses anteriores – maio e junho – a média se manteve na mesma faixa: 30,28% e 29,2%, respectivamente.

Desta forma, na Capital, no mês passado, o volume médio de água consumido por economia – que equivale a uma unidade usuária com ponto de abastecimento, podendo ser residência, comércio, indústria, área verde, entre outros – foi de 9,91 metros cúbicos. Em Goiás, esse número marcou 9,33 metros cúbicos. Em junho, o mesmo dado para a Capital atingiu 10,41 metros cúbicos, ao passo que para o Estado foram 9,73 metros cúbicos. Já no mês de maio, os volumes médios para Goiânia e Goiás ficaram, respectivamente, em: 10,34 e 9,33 metros cúbicos.

Conscientização

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Diante do cenário de secas e da necessidade de alertar à população sobre o uso responsável da água, a Saneago iniciou, em junho de 2021, uma campanha para incentivar o uso consciente do recurso natural. Segundo a Companhia, a campanha conta com novos vídeos e novas histórias.

Neste momento, a Companhia, que está presente em 226 dos 246 municípios goianos – atendendo mais de 6 milhões de pessoas em todo o estado de Goiás com água tratada, sendo 1,5 milhão somente em Goiânia, afirmou que os mananciais de abastecimento estão com disponibilidade hídrica suficiente para assegurar a estabilidade no fornecimento de água tratada e descarta um possível desabastecimento na Região Metropolitana. No entanto, o período de estiagem demanda cautela e consumo consciente.

Ernesto Augustus Araújo é diretor financeiro do Instituto Plantadores de Água, uma organização da sociedade civil brasileira, apartidária e sem fins lucrativos que trabalha em defesa da vida. Ele explicou que grande parte das cidades, principalmente as capitais, se desenvolveram ao longo de cursos d’água. O motivo é que o ser humano utiliza água para praticamente todas suas atividades, além do que ela é essencial a nossa vida.

“Infelizmente, nossa relação com a água, apesar de nossa total dependência, nunca foi das melhores. Temos sistematicamente destruído, por ignorância ou não, as nossas matas, e, para quem não sabe, as árvores, arbustos e capins nativos têm estreita ligação com a recarga do lençol freático e dos aquíferos. Também temos poluído nossas fontes de água, com esgotos industriais ou residenciais, além de agrotóxicos oriundos da agricultura. Perdemos com isso em quantidade e qualidade, reduzindo ainda mais a disponibilidade hídrica para nosso consumo e outras atividades. Portanto, preservar a água é garantir a nossa própria sobrevivência, é permitir que continuemos desenvolvendo, é manter a população com saúde e com maior qualidade de vida”, explicou o diretor.

Responsabilidade

Ao jornal O Hoje, a Saneago pontuou que, da mesma forma que solicita à população o uso consciente da água, a Saneago também tem feito o seu papel, atuando com firmeza no combate às perdas na distribuição, o que tem gerado resultados significativos. Enquanto a média nacional de perdas atinge 39%, os índices específicos da Saneago estão em 26,9% para Goiás e 18,76% para Goiânia.

A Saneago explicou ainda que as ações de combate a perdas são fundamentais para a preservação dos recursos hídricos, uma vez que, quanto menor a perda de água, menor será o volume retirado dos mananciais e, por consequência, maior será o aumento de disponibilidade hídrica para a população. “A Companhia continuará a intensificar os esforços para reduzir, cada vez mais, os índices de perdas. E intensificando a campanha de consumo consciente para que a população faça o uso moderado de água tratada”, diz o comunicado.

Tarifa

Questionada se estudam mudar a cobrança pelo uso da água, a Saneago informou que a cobrança é realizada de acordo com o consumo da água no imóvel, ou seja, a quantidade de metros cúbicos consumidos por mês. A Companhia frisou ainda que a estrutura tarifária vigente é de julho de 2019, e que, assim, não houve alteração nos últimos dois anos. Além disso, destacou que a definição das metodologias de cálculo é atribuição das agências reguladoras.

Chuvas só em outubro

Após 77 dias sem chuva em Goiânia, o Rio Meia Ponte segue em nível crítico 2, de acordo com o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas do Estado de Goiás (Cihmego). O Meia Ponte já se encontra no nível crítico 2 – que é alcançado quando a vazão de escoamento é menor ou igual a 4 mil L/s, desde o último dia 18. Também neste mês, o Rio já havia deixado o estado de alerta e atingido o nível crítico 1. Para se ter uma ideia, o monitoramento feito pelo Cihmego no último dia (26), apontou que a vazão média diária era de 3.547 litros por segundo (L/s).

Devido ao nível crítico, a Secretaria de Meio Ambiente (Semad) fez alertas e ressalta providências a serem adotadas em Goiânia e no Estado. Entre as medidas, está a redução em 25% da captação de água no Rio Meia Ponte por parte de empresários e produtores rurais para todas as finalidades de usos, exceto para abastecimento público e dessedentação animal. Diante desse cenário, a Companhia Saneamento de Goiás (Saneago) também solicita aos moradores que, devido ao período de estiagem, façam uso consciente das reservas domiciliares de água tratada, o que inclui evitar desperdícios e informar à Companhia caso verifique vazamentos nas ruas e calçadas, para que os técnicos possam efetuar os reparos o mais rápido possível. 

Outubro

Segundo o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas (Cimehgo), o Meia Ponte deve permanecer em nível crítico até outubro. A previsão é de que as chuvas só sejam registradas a partir da segunda quinzena do mês. De acordo com a Companhia, em 2019 e 2020, mesmo com a estiagem prolongada, aumento do consumo e contexto da pandemia, o abastecimento foi regular, devido ao conjunto de ações executadas. A Capital é atendida por dois sistemas produtores: Meia Ponte e Mauro Borges. Cada um deles abastece determinadas regiões da cidade.

Plano de Recursos Hídricos

Em junho, o Plano de Recursos Hídricos das Unidades de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos do Estado de Goiás Afluentes ao Rio Meia Ponte propôs a redução da água captada. A ação engloba os elementos estratégicos para gestão de recursos hídricos considerando a capacidade de intervenção e governabilidade do setor público na condição de mediador e executor de ações. Neste panorama, o Plano de Ação preliminar, no que cabe aos aspectos socioeconômicos não interferem na dinâmica de desenvolvimento local ou regional, mas apontam para a necessidade, cada vez mais atual de melhoria dos sistemas de mediação tanto entre Governos-Estados e Sociedade Civil, quanto de diálogo interfederativo.

O documento preliminar é ainda dividido em Prognóstico, atuação do Comitê de Bacia, e matriz preliminar do Plano de Ação. Para a indústria, por exemplo, propõe-se uma redução de 50% da vazão captada, com incentivo a medidas como reuso de água, captação e água de chuva, que poderiam diminuir significativamente a quantidade de água necessária. (Especial para O Hoje)

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