Goiás está em 6º lugar no ranking de roubo de gado

Dados apontam o Estado como um dos mais vulneráveis na prática desse tipo de crime

Postado em: 22-09-2021 às 08h39
Por: Redação
Imagem Ilustrando a Notícia: Goiás está em 6º lugar no ranking de roubo de gado
Dados apontam o Estado como um dos mais vulneráveis na prática desse tipo de crime | Foto: Reprodução

Por Alzenar Abreu

Dentre os maiores estados em criação de gado no Brasil, Goiás é apontado como um dos mais vulneráveis aos ataques de quadrilhas especializadas em roubo ou furto de rebanhos bovinos. Os dados são do Observatório de Segurança Rural do Conselho Nacional de Agricultura (CNA). Estão no topo da lista com maior número de crimes os estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Paraná, Mato Grosso, Minas Gerais e, na sequência, Goiás.

De acordo com dados da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), somente este ano foram registrados 10 casos de furto de gado de grandes proporções que foram solucionados. O destaque para os pequenos furtos é que eles não entram nas estatísticas da Polícia Militar. Isso pelo volume muito pequeno de animais que são levados, em muitos casos, para abatedouros clandestinos ou para consumo isolado.

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Regiões fronteiriças

De acordo com o assessor técnico do Observatório do CNA, Alan Ribeiro, os maiores índices da prática devem-se, primordialmente, aos estados em regiões fronteiriças como Rio Grande Sul e Mato Grosso do Sul, por exemplo. “Os assaltantes escoam a carga via fluvial, pela Bacia do Rio Paraná e, não podem prender os bandidos, mesmo que os avistem, caso estejam do outro lado da fronteira dos países vizinhos como Argentina, Paraguai e Uruguai”, explica.

O perfil das quadrilhas de fronteira é diferente das demais. Isso porque os grupos não possuem mais de 30 componentes com forte esquema de falsificação de documentos para revenda dos animais. Outra questão preocupante é que o inverso também acontece com a entrada de animais ilegais desses países que, desprotegidos contra zoonoses (doenças) podem afetar o rebanho brasileiro sadio.

Os oito estados que têm o maior rebanho de gado no Brasil, por ordem, são Mato Grosso, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio Grande do Sul, Rondônia, Paraná e Bahia. Goiás possui mais de 60 mil propriedades que atuam com criação de gado. O País é o segundo maior exportador de carne bovina no mundo e perde, apenas, para os Estados Unidos.

Rodovias dificultam crimes

Os demais estados, longe das fronteiras, dificultam a criminalidade já que nas estradas, o patrulhamento é maior, tanto pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) ou por núcleos específicos como o Centro de Comando Integrado do Batalhão Rural da Polícia Militar de Goiás, criado em 2019. De acordo com o tenente-coronel, chefe do Centro de Comando e Controle Integrado da Polícia Militar de Goiás, André Luiz de Carvalho, houve aumento de 44% no número de quadrilhas presas em Goiás.

Uma carga de gado roubada foi recuperada no último dia 14, em uma estrada vicinal, no município de Campos Verdes onde duas pessoas foram presas com 10 animais. Por sorte, no momento do assalto, não havia ninguém na fazenda. O rebanho foi fechado no pasto e levado ao caminhão pelos bandidos.

Segundo André, os criminosos agem em parceria com informantes. Em geral, pessoas que foram funcionárias das fazendas, observadores que têm conhecimento da região nas cidades e até vizinhos. A recomendação da polícia é buscar informações bem apuradas para contratar trabalhadores rurais e, quando possível, contratar um segurança armada para patrulhar a fazenda.

Rede de proteção

O entorno de Goiás tem sido um dos maiores alvos das quadrilhas. No Estado, os furtos chegam a ser pequenos; em oposto aos crimes cometidos mais ao Sul do País com ações violentas de bandos maiores. Para se proteger é importante que o pecuarista se mantenha informado e tenha uma rede boa de contados de outros fazendeiros.

Nos últimos meses, as fazendas da região do Vale do São Patrício estavam na mira das quadrilhas. Mas, segundo, André, essa rede criminosa, já foi desbaratada.

De acordo com a delegada titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Rurais, Rafaela Azzi, o mais recomendado é que os donos das propriedades estejam com maior frequência nas fazendas. “As [propriedades] pouco visitadas são o atrativo ideal para a bandidagem”, diz.

“Outra dica muito importante é deixar para adquirir insumos agrícolas quando estiver na época de uso e não manter estoques que ficam em fácil exposição. “ É um chamariz para os criminosos”, frisou. Pelo valor elevado desses produtos é preciso garantir esse cuidado”, completou.

Patrulha Rural

De acordo com dados da Patrulha Rural do Centro de Comando e Controle Integrado da Polícia Militar de Goiás, até o momento, 40 mil produtores já foram cadastrados pela polícia e as propriedades são monitoradas por efetivos locais distribuídas conforme a necessidade georreferenciada (mapeada via satélite) do trabalho.

Segundo o assessor técnico da Faeg, Augusto César de Andrade, o produtor cadastrado recebe uma visita da patrulha na fazenda. Produtos, insumos e animais que podem potencialmente atrair bandidos são cadastrados.

O efetivo trabalha com 300 homens em Goiás divididos em áreas estratégicas. Eles ficam no campo e possuem grupos de celular com números específicos para cada área atendida. “Qualquer fazendeiro em Goiás pode ter o número da polícia que atende a área específica. Mas é preciso procurar o Sindicato Rural da cidade para fazer parte do projeto e ter acesso ao número do celular de emergência”, diz.

O trabalho da patrulha conta com doações de fazendeiros e Sindicatos Rurais. Para esse mês serão adquiridos dezenas de fuzis para fortalecer o armamento dos policiais. “Todos procuram ser solidários caso avistem alguma atividade suspeita, um carro desconhecido ou caminhão circulando entre as propriedades”, explica. Assim se comunicam e fazem o contato com as patrulhas.

Em geral, os roubos e furtos acontecem à noite ou pela madrugada e em casos de maior gravidade podem trazer não só prejuízos financeiros, mas colocar em risco a vida das famílias. “Por isso é importante que todos os produtores se esforcem para fazer parte deste cadastro. E assim terão o melhor monitoramento da sua propriedade”, alerta.

Rebanho no País ultrapassa número de pessoas

O rebanho bovino brasileiro alcançou 214,7 milhões de animais, uma alta de 0,4%, o primeiro avanço depois de dois anos de quedas. Os dados são da Produção da Pecuária Municipal, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  “A pecuária brasileira foi influenciada, entre outros fatores, pelo contexto internacional. Com baixa no estoque de carne suína, consequência da peste que acometeu a espécie, e um mercado interno em expansão, a China precisou suprir a sua demanda interna por meio da importação de proteína animal. Somente do Brasil, esse país adquiriu 497,7 mil toneladas de carne bovina, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior – Secex, representando uma alta de 54,4% em relação ao ano anterior, e a sua importação de carne suína aumentou em 61,7%, o que fez o Brasil alcançar a marca de 244,1 mil toneladas exportadas dessa commodity”, justificou o IBGE.

O Brasil tinha o segundo maior rebanho bovino do mundo no ano passado, sendo o principal exportador e o segundo maior produtor, de acordo com informações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês).

“O ano foi marcado pela alta do preço do boi gordo no último trimestre. O recorde de exportação da carne bovina, explicado, especialmente, pela demanda chinesa, refletiu-se nos preços de toda a cadeia, do bezerro ao consumidor final. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior – Secex, foram exportadas 1,5 milhão de toneladas de carne, com alta de 17,0% em relação ao ano anterior”, completou o IBGE.

O Estado de Mato Grosso manteve a liderança na criação de gado, com 31,7 milhões de cabeças, o equivalente a 14,8% do rebanho nacional. O município com a maior quantidade de bovinos foi São Félix do Xingu, no Pará, com 2,2 milhões de animais. Corumbá, no Mato Grosso do Sul, figurou em segundo lugar, com 1,8 milhão de cabeças, seguido por Vila Bela da Santíssima Trindade, em Mato Grosso, com 1,2 milhão de bovinos.

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