Falta de saneamento resultou em 13 mil internações em Goiás

Cerca de 43% dos goianos não tem coleta de esgoto; 11% vive sem acesso à água

Postado em: 11-10-2021 às 08h48
Por: Maiara Dal Bosco
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Cerca de 43% dos goianos não tem coleta de esgoto; 11% vive sem acesso à água | Foto: Reprodução

Apesar de essencial, o saneamento básico ainda não chegou para muitos goianos, o que interfere diretamente na qualidade de vida da população. Em Goiás, dados de 2019 do Instituto Trata Brasil dão conta de que a falta de saneamento básico no Estado resultou em 13.244 internações por doenças de veiculação hídrica amebíase, giardíase, gastroenterite, febres tifoide e paratifoide, hepatite infecciosa e cólera.

A partir do estudo desenvolvido em 2019, Rubens Filho, pesquisador do Instituto Trata Brasil destaca que Goiás é um Estado que ainda apresenta problemas diversos neste cenário. “Em Goiás aproximadamente 43% da população não tem coleta de esgoto. Isso significa que com uma população estimada em pouco mais de 7 milhões, mais de 3 milhões vivem sem coleta de esgoto”, afirma.

Já sem acesso à água, o Trata Brasil aponta que são 11% da população goiana. “Isso representa quase 1 milhão de pessoas sem esse acesso. Neste cenário, entendemos que se a água não está vindo por alguma empresa, as pessoas acabam buscando água por conta própria, então todos esses dados colocam um ponto de atenção, já que também são responsáveis por colocar as pessoas nos hospitais. São mais de 13 mil internações, é um índice alto”, afirma o pesquisador.

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Dados preliminares de 2020 apontam que foram 174 mil internações por doenças de veiculação hídrica (diarreicas, dengue, leptospirose, esquistossomose e malária) no Brasil, o que representa uma queda de 35% em comparação com 2019, mas segundo o pesquisador, isso se deu por conta da subnotificação atribuída a pandemia.

Água contaminada 

Dados da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO), no mesmo período do relatório da Trata Brasil, apontam que Goiás registrou, entre janeiro e setembro de 2019, 128 mil casos de Doença Diarreica Aguda (DDA). Os números foram registrados no Sistema de Vigilância Epidemiológica de Doenças Diarreicas Agudas (SIVEP-DDA). 

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a DDA constitui a segunda principal causa de morte em crianças menores de cinco anos. O mal tem relação direta com as precárias condições de vida e saúde dos indivíduos, em consequência da falta de saneamento básico, desnutrição crônica, entre outros fatores, como a ingestão de alimentos contaminados que levam às Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA).

Além disso, conforme a OMS, as DTHA podem ser causadas por toxinas, bactérias, vírus, parasitas e substâncias tóxicas, podendo acometer todas as faixas etária, no entanto ressalta-se sua importância no grupo etário de menores de cinco anos, nos imunodeprimidos e idosos.

No período entre janeiro a setembro de 2019 foram notificados 233 casos de Toxoplasmose; 89 casos de Rotavírus; seis casos de Hepatite A; 28 surtos de diarreia; e um caso suspeito de Febre Tifoide. Além disso, a falta de saneamento também pode causar hepatites, ascaridíase, tracoma, esquistossomose e várias outras doenças, que podem ser evitadas com o aumento da cobertura e a qualidade dos serviços de saneamento.

Marco Legal

Em 2020, foi aprovada a Lei nº 14.026/2020, que atualiza o marco legal do saneamento básico, a relação regulatória entre a Agência Nacional de Águas (ANA) e o setor de saneamento atingirá um novo patamar, já que a ANA e Saneamento Básico passarão a editar normas de referência. Para o pesquisador Rubens Filho, com a legislação, o cenário muda um pouco já que pressionará as autoridades públicas. “As cidades terão que ofertar água potável para 99% da população até o fim de 2033 além de ofertar a coleta de esgoto para 90% da população no mesmo prazo”, afirma.

Segundo ele, este prazo é desafiador. “O razoável é tentarmos chegar até 2040, no final da década do prazo, já que o saneamento básico é uma infraestrutura elementar. Toda pessoa quando nasce tem que ter acesso a agua, temos que pensar na saúde mas também na qualidade do meio ambiente”, destaca Rubens.

O pesquisador frisa ainda que a falta do saneamento impacta diretamente no meio ambiente, polui rios, praias, trabalhadores se ausentam porque ficam doentes, então resulta também na interferência na economia. “Quanto mais atentos estivermos e cobrarmos das autoridades, mais perto de cumprir com as obrigações de saneamento básico estaremos”, finalizou. (Especial para O Hoje)

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