Pão francês e preço da carne de frango assusta consumidor

Alta no preço dos derivados do trigo está ligada com a subida do dólar e o aumento da inflação.

Postado em: 14-10-2021 às 08h20
Por: Redação
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Alta no preço dos derivados do trigo está ligada com a subida do dólar e o aumento da inflação. | Foto: Reprodução

Por Alzenar Abreu (especial para O Hoje)

O pão francês, um dos protagonistas no café da manhã, está mais caro em Goiânia. De acordo com pesquisa de órgãos de defesa do consumidor, o preço do quilo do pão francês pode ser encontrado de R$ 5,99 a até R$ 15,99. Uma variação chegou a 166,94%. A alta tem sido impulsionada pelas matérias-primas do alimento como o trigo. Em algumas panificadoras e mercados em Goiânia a reportagem de O Hoje verificou a paridade do preço médio cobrado pelo pão francês na Capital com a carne de frango, por exemplo. Em um determinado estabelecimento, no setor Marista, os valores dos dois alimentos foram exatamente iguais: R$ 12,90.

De acordo com o economista, José Luíz Ongarato, essa paridade pode ser explicada em princípio, pelo preço do trigo que aumentou – haja vista que o quilo é contabilizado em dólar – e o Brasil importa o produto. E o do frango, porque houve ‘grande aumento’ da exportação dessa carne nos últimos meses. O consumidor goiano compra mais caro porque quem produz prefere exportar e a demanda interna fica em demérito e, por isso, o preço aumento pela escassez do mesmo por aqui.

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Pão mais caro

A proprietária de uma panificadora que fica no bairro Parque Amazônia, Euza Fátima Sila Damasio, tem sentido o peso do aumento de insumos para produzir os pães, quitandas variadas, bolos e doces. “Tenho uma boa clientela que gosta dos nossos produtos. Isso porque exigimos qualidade na execução. Mas não teve como deixar de repassar, o mínimo possível, para o meu consumidor final. Mas eles compreendem. Sabem que é um ciclo que preciso ajustar. Mas não perdi consumidores. Porque tenho muito cuidado para colocar preços justos nas minhas produções. E, tenho conseguido equilibrar-me. Acredito que este é o segredo de estar sempre bem movimentado por aqui”, diz Euza.

Para outro comerciante do mesmo segmento, Edsom Jair, a padaria ajustou-se à oferta de almoços por encomenda. “Diversifiquei a modalidade de vendas na loja e equipamos e organizamos os espaços para dividir a produção. Deu certo e as vendas não param. Mas tenho de admitir. Meu lucro encolheu com a crise. Tudo está mais caro. A farinha de trigo, os frios, leite e ovos, são alguns dos exemplos”, exemplifica.

De acordo com pesquisa do Procon-GO, o preço do quilo do pão francês pode ser encontrado de R$ 5,99, no Jardim Guanabara, até R$ 15,99, em um hipermercado no Setor Marista. Com a pandemia, até mesmo as embalagens não ficaram de fora dos aumentos verificados. O impacto do reajuste do aluguel e a alta do combustível nos custos do produto encarecem o custo que vai desde a produção a plantação da matéria-prima até o custo da receita necessária para a fabricação, não só em Goiás, como no Brasil.

Com a desvalorização do real frente ao dólar e a dependência brasileira de trigo importado (em geral da Argentina), a tendência é que produto continue em patamares altos nos próximos meses. Segundo especialistas, o aumento da produção interna é o que pode contribuir para a redução do custo da commodity, tão presente na mesa do brasileiro.

Nosso trigo

Para acabar com a dependência brasileira do trigo importado a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) já tem desenvolvido a produção do trigo brasileiro em Goiás, Minas Gerais, Distrito Federal e Bahia. De acordo com o especialista da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Leonardo Machado, o Brasil já tem um trigo próprio desenvolvido para o clima mais quente.

Em Goiás, há produções em Cristalina, São João da Aliança, Silvânia e Vianópolis. “A produção já atende o mercado interno, inclusive em Goiás, mais ainda não trouxe a autossuficiência desejada. “Estamos empenhados nisso, nós da Faeg, a Embrapa e as cooperativas que compõem toda a cadeia que envolvem a produção do pão”, diz.

Aumento do Frango e do derivado, o ovo

Com a crise e o preço da carne em patamares insustentáveis, o brasileiro corre atrás do frango e do ovo para complementar dieta alimentar que carece de proteína. “A ingestão de ovos aumentou muito. Do início do ano até agora os valores foram elevados, também, 14% até abril e, em julho, houve mais um acréscimo de 7%.

Diante do aumento do preço da carne bovina, o frango costumava ser a via alternativa para economizar no supermercado. Diante da alta da inflação, até mesmo essa proteína tida como uma opção mais em conta está pesando no bolso dos brasileiros.

De acordo com dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), do IBGE, o frango inteiro já acumula alta de 25,94% nos últimos 12 meses. O frango em pedaços tem variação de 25% e os ovos de galinha, de 14,26%.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, esses insumos representam entre 70% e 80% dos custos e a alta deles se soma a um aumento no preço de embalagens, energia elétrica e diesel. 

O aumento expressivo no mercado tem relação ao aumento dos custos de produção dos avicultores.  Em grande parte motivado pela subida do preço do milho e do farelo de soja no mercado interno e externo. A Associação estima que os produtores tiveram um aumento de 50,62% nos custos de produção de frangos no último ano, o dobro do que foi repassado aos consumidores. (Especial para O Hoje)

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