Colégio de Aparecida é condenado por transferir indevidamente aluna com depressão

O pai da aluna foi surpreendido em dezembro de 2018 com uma Declaração de Transferência Escolar, na qual a escola alegava que não iria mais acompanhar os estudos da aluna em decorrência de seus problemas psicológicos.

Postado em: 22-10-2021 às 08h44
Por: Redação
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O pai da aluna foi surpreendido em dezembro de 2018 com uma Declaração de Transferência Escolar, na qual a escola alegava que não iria mais acompanhar os estudos da aluna em decorrência de seus problemas psicológicos | Foto: Reprodução

Um colégio localizado no Município de Aparecida de Goiânia foi condenado a pagar indenização por danos morais ao pai de uma estudante que foi surpreendida com declaração de transferência escolar em decorrência de problemas psicológicos.

O pai da garota, que estudava no Colégio Delos, no Setor Tropical, sustentou que no dia 10 de dezembro de 2018, sua filha foi surpreendida com a Declaração de Transferência Escolar sob alegação de que não iria acompanhar os estudos em decorrência de problemas psicológicos.

Contou que a filha se sentiu discriminada, já que possuía boas notas e que não solicitou a transferência, não tendo dado causa à rescisão contratual. Também salientou que efetuou o pagamento da matrícula do ano de 2019 em agosto de 2018, não justificando a carta de transferência da escola, sem qualquer pedido seu.

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A unidade escolar defendeu não existir erro de conduta na transferência, alegando que a estudante foi identificada com depressão em 2016 , quando o pai foi orientado a procurar um profissional, mas que se furtou de tal obrigação e que em 2018 a aluna apresentou um quadro depressivo mais acentuado e teve diversas faltas. Alegou que comunicou novamente o fato ao autor da ação para que procurasse ajuda profissional, mas que ele se recusou a assinar o termo de comprometimento com a unidade educacional e solicitou a transferência da filha. Contudo, não conseguiu comprovar essa afirmação.

A sentença condenatória foi dada pelo juiz Eduardo Walmory Sanches, do 2º Juizado Especial Cível da comarca de Aparecida de Goiânia, que fixou o montante em R$ 3 mil. O juiz entendeu que a transferência da aluna por problemas psiquiátricos não poderá representar para ela uma punição, uma vez tratar-se de a circunstância biológica que foge ao seu controle.

Para o magistrado, “neste momento, a adolescente necessita ainda mais do apoio da escola a fim de que esta demonstre, por meio de todo o seu arsenal pedagógico, a inserção da jovem na comunidade escolar, garantindo-lhe acesso com igualdade e não simplesmente colocá-la à margem, decretando a sua transferência”.

“Se livrar do problema”

Para o magistrado, não é recomendável que as escolas procurem se “livrar do problema”, obrigando o aluno com complicações psicológicas a se matricular em outra instituição de ensino. “Pelo contrário, pelo papel social que as escolas exercem, elas têm a obrigação de propiciar um tratamento adequado que busque o desenvolvimento psicossocial do adolescente”, pontuou.

O juiz Eduardo Walmory observou que o aluno que tem sua “transferência educativa” acaba desenvolvendo um sentimento de rejeição e anormalidade, interferindo em sua capacidade de aprendizagem. Para ele, o papel da escola é de acolhimento e ensino. Se um adolescente se encontra em um estado depressivo, e se vê rejeitado de alguma forma, acaba agravando seu estado psíquico. No presente caso, não restou demonstrada qualquer conduta repreensível da aluna, ou dos seus genitores, motivando a transferência compulsória”.

O magistrado pontuou que as escolas têm o direito e o dever de impor limites e criar obrigações, porém, impor limites não significa determinar medidas autoritárias, abusivas e, acima de tudo, ilegais. Especificamente quando tem sua transferência compulsória efetivada pela escola.

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