Com o retorno das exportações para China e Rússia, preço da carne bovina volta a subir

O quilo da arroba deve sair de R$ 300 para no mínimo R$ 320, dizem especialistas

Postado em: 29-11-2021 às 08h14
Por: Redação
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O quilo da arroba deve sair de R$ 300 para no mínimo R$ 320, dizem especialistas | Foto: Jota Eurípedes

Por Alzenar Abreu

O mercado da carne no Brasil e em Goiás recebeu na última semana notícias auspiciosas de que a China e a Rússia voltarão a comprar a comercializar o produto de nossos pastos. Bom para empresários do ramo e ruim para consumidores porque nos próximos dias, segundo especialistas, a previsão de aumento da carne – que é paixão brasileira – deve passar dos atuais R$ 300 para R$ 320, o valor da arroba.

O churrasco vai ficar mais caro além de outro aditivo: o maior número de encomendas para as festas de fim de ano. O Brasil é o maior exportador de carne do mundo e o segundo em produção. Para dar entrada no país asiático, será necessário apresentar certificado sanitário antes de setembro de 2021, quando houve o embargo.

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Em setembro deste ano a China deixou de comprar gado do Brasil porque foram diagnosticados dois casos isolados de animais com uma patologia – que não era vaca louca – apesar dos sintomas serem os mesmos.

Depois de esclarecido que o boi doente não tinha sido acometido pela temida doença, a China anuncia a retomada das negociações. O país deixou de comprar do Brasil de setembro a novembro. Nesse período houve uma queda irrisória do preço da carne em 0,55%. Imperceptível aos olhos do consumidor.

De acordo com a dona de casa Lourenza Ferreira, é frustrante comparar os preços das carnes bovinas de hoje, com relação ao mesmo corte computado em 2019. Ela, que acostumava a comprar o quilo do coxão mole por R$ 19, agora, compra por R$ 33. “E ainda dizem que é promoção”, ironiza.

Para o comerciante César Marques, preço mais barato de carne bovina, só em dia de promoção. Eu costumava comprar peças de primeira por R$ 22 o quilo e, agora, chega a mais de R$ 40. Tem de comprar mais [carne] de segunda, né?”, diz, conformado.

Exportação

Para o analista de mercado na área de pecuária da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Marcelo Penha Silva, 56% da produção brasileira vai para China. Ou seja, U$ 3,9 bilhões, sendo o Brasil o maior produtor do mundo.

Marcelo explica que a escalada da carne, desde 2019, aconteceu porque na China houve um surto de peste suína. Que à época, era o tipo de carne mais consumida naquele país. Desde então, o país começou a adquirir a carne brasileira que acabou por estimular o desejo mais avantajado pelo produto nacional. “Principalmente, a classe média na China que é composta por milhões de pessoas, tendo em vista o comparativo populacional”.

Esse grupo passou a consumir de 5kg ao ano a 12 kg de carne brasileira, e tendem a consumir ainda mais. Em 2020, mesmo durante a pandemia, eles continuaram comprando muito e como eles pagam melhor pelo produto, o produtor e abatedor dão prioridade a esse mercado.

Apesar do mercado interno consumir mais de 80% de toda produção nacional. Os países exportadores pagam mais pelo produto e sobram para os brasileiros, a carga do preço mais alto, equilibrado pelo que se vende lá fora.

Mas como o brasileiro compra por quantidade determinada, com maior procura pelo produto no exterior, os preços acabam por ser balizados para cima. E, a segunda alta, após o anúncio da retomada de negócios com a China, tem por explicação, que, para voltar a atender ao mercado gigantesco é preciso gastar mais com adubo (para acelerar o crescimento das pastagens); aumentar de oferta de proteína ao gado confinado (para adiantar a engorda); e manter a qualidade do animal para abate mesmo na estiagem; o que demandará um custo maior de energia para transferir a água dos reservatórios para os bebedouros.

Brasil voltará a vender para Rússia

A Rússia, que havia embargado a compra de carne brasileira pelo uso de um produto aditivo utilizado na nutrição de suínos em fase de terminação para abate, a ractopamina, voltará a comprar em 2022 porque o País não usa mais esse produto nos animais. “ E ainda fez encomenda já agendada de 200 mil toneladas por ano, sem cobrar impostos do Brasil”, adianta Marcelo. Segundo ele, outras negociações estão adiantadas com Japão, Coréia do Sul e Canadá.

Para cair o preço do delicioso item tão raro, infelizmente, na dieta brasileira há alguns anos restam apenas duas soluções: um boicote geral do país contra o produto – opção quase inexistente- ou consumir cada vez mais a carne de aves e peixes. (Especial para O Hoje)

Brasil lidera produtividade agropecuária entre 187 países

Desde os anos 2000, o Brasil tem liderado a produtividade agropecuária mundial entre 187 países. É o que mostra um estudo do Economic Research Service, órgão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês), divulgado em outubro.

De acordo com a pesquisa, o produto da agricultura brasileira cresceu, no período de 1961 a 2019, 3,75% ao ano, abaixo apenas da China com 4,41% a.a. O produto inclui 162 lavouras, 30 tipos de produtos animais e insetos e oito produtos da aquicultura. Os insumos são terra, trabalho, capital e materiais.

Quando a comparação é feita a partir dos anos mais recentes, 2000 a 2019, a produtividade da agropecuária brasileira aumentou 3,18% ao ano, a maior taxa entre os países selecionados.

Diversos fatores explicam como o agro nacional chegou a tal patamar. De acordo com o coordenador-geral de Avaliação de Políticas e Informação, da Secretaria de Política Agrícola (SPA) do Mapa, José Gasques, nos últimos anos, o Brasil fez várias reformas no sistema de financiamento, política de preços, corte dos subsídios, seguro rural e outras medidas que impactaram na produtividade agropecuária. “Entre elas, aumento de recursos, com ênfase no crédito de investimento, e várias linhas de financiamento foram criadas para a agricultura comercial e familiar”, explica o pesquisador, que analisou os dados do USDA.

Entre 2000 e 2018, por exemplo, o volume de recursos para o crédito rural (custeio, investimento e comercialização) subiu 298% em valores reais, conforme o Banco Central.

Investimentos em pesquisa, adoção de práticas da agricultura de baixa emissão de carbono, como plantio direto e sistemas de integração entre lavouras, pecuária e florestas, também impactaram no ganho de produtividade. Há pesquisas que apontam que o plantio direto pode aumentar a produtividade de uma lavoura de milho em até 30%. “Esses sistemas trouxeram acentuados ganhos de produtividade da agricultura”, conclui.

A análise teve a participação da Secretaria de Política Agrícola do Mapa, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), com uso de dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. (MAPA)

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