Goiás registra queda em casos de HIV nos últimos 3 anos e falar sobre o assunto se mostra importante

O Dia Mundial de Combate a Aids é marcado pela importância da prevenção contra a doença

Postado em: 01-12-2021 às 09h51
Por: Carlos Nathan Sampaio
Imagem Ilustrando a Notícia: Goiás registra queda em casos de HIV nos últimos 3 anos e falar sobre o assunto se mostra importante
O Dia Mundial de Combate a Aids é marcado pela importância da prevenção contra a doença | Foto: Jota Eurípedes

Desde os últimos anos o Brasil já tem registrado queda no número de casos de infecção por Aids. Desde 2012, há diminuição na taxa de detecção da doença no país, que passou de 21,9/100 mil habitantes em 2012 para 17,8/100 mil habitantes em 2019, representando um decréscimo de 18,7%. Seguindo essa linha, Goiás, a Secretária de Estado de Saúde (SES-GO) também tem apresentado queda. Apesar de 2017 (1.618 casos), em relação a 2016 (1.472), ter apresentado aumento nos números de diagnósticos e se estagnado entre 2018 (1.673) e 2019 (1.650), em 2020 e 2021, até então, foram registrados números menores, respectivamente, 1.365 e 959. Dados preliminares, ou seja, sob avaliação.

Ainda de acordo com a SES-GO, dados preliminares indicam o registro de 12.436 pessoas infectadas que vivem com o vírus HIV/Aids em Goiás atualmente. A pasta informou também que o boletim completo deve ser divulgado hoje, 1º de dezembro, data em que se constitui o Dia Mundial de Combate a Aids. A reportagem também pediu os mesmos números para Secretaria Municipal de Saúde e para a Prefeitura de Goiânia, porém não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

Apesar da redução, é importante reforçar a relevância da continuidade das campanhas de prevenção. Em entrevista ao O Hoje, o corretor imobiliário e estudante de psicologia, Matheus Rodrigues Bueno, de 25 anos, e que foi diagnosticado com HIV em julho de 2017, falou sobre sua história, como é viver com o vírus e como ele lida falando abertamente sobre o assunto para estimular as pessoas tanto na prevenção, quanto em cuidar da saúde sempre procurando por médicos em casos de suspeita.

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“Quando fui diagnosticado não tive uma das melhores reações, claro, pois nunca esperamos receber uma notícia como essa. Querendo ou não é algo que você terá que conviver pelo resto da sua vida, até que surgir uma cura, então ali passa todo um filme na mente sobre como poderia ter sido evitado. Mas uma vez detectado o vírus, é busca tratamento e o máximo informação sobre o assunto”, revelou Matheus.

O estudante de psicologia afirmou, também, que na época em que recebeu o diagnóstico, não teve o suporte de uma pessoa próxima que também tivesse diagnosticada com HIV e possuísse informações necessárias para o ajudar a prosseguir. “É muito difícil ver alguém se posicionando sobre o tema, ainda mais para falar abertamente e as campanhas de conscientização feitas muitas vezes, são muito especificas em determinada época do ano. Então, acabou que por conta própria, fui tentando saber e entender como funcionava as coisas, como eram os processos a serem seguidos e falando abertamente sobre isso na internet. Não vou dizer que foi fácil, pois não foi, porém me serviu de aprendizado para a vida. E isso me tornou mais forte, independente e mais confiante sobre o tratamento”, disse.

“Hoje, com meu tratamento de quase três anos, me tornei indetectável, ou seja, não transmito o vírus e me exponho publicamente em minhas redes sociais sobre a minha sorologia exatamente para poder ajudar as pessoas, por meio da informação. Tento ajudar quem está passando pelo mesmo que passei na época que me descobri e, claro, lutando contra o preconceito que ainda existe”, completou Matheus, que diz fazer acompanhamento psicológico e academia para reforçar a saúde física e mental.

Respeito à privacidade

O corretor lembra, também, que quem ninguém é obrigado a contar sobre sua sorologia e a pessoa diagnosticada com HIV é assegurada por lei sobre sua condição. “Existem diversas pessoas que vive com HIV, e ninguém sabe, e não há problema nenhum nisso. Temos que respeitar o posicionamento de cada um sobre isso. Cada pessoa vai reagir de determinada maneira a sua vivencia com o HIV e se expor ou não é a pessoa quem vai decidir”.

Matheus reforça sobre quem teme pelo diagnóstico ou que acabou de descobrir que tem o vírus. “Primeiro, se previna ao máximo possível, temos todas as ferramentas para isso e de forma gratuita no Brasil. Segundo, para você que descobriu recentemente sobre seu diagnóstico, tenha calma, eu sei que no momento a gente pensa em mil coisas, como por exemplo ‘minha vida vai acabar’, ‘vou ficar sozinho’ ou ‘eu vou morrer’, mas te digo que isso não é verdade, você vai viver o oposto de tudo isso. Só vai depender de você”, afirma ele, concluindo e lembrando que hoje há o tratamento disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pela rede privada também. “Não permita um diagnóstico te definir. Se ame, se cuide, se valorize”.

Ações também ajudam na redução de casos

Em busca da redução máxima de infecção pelo HIV, a SES-GO, por meio da Superintendência de Atenção Integral à Saúde (SAIS), afirmou que distribui, anualmente, cerca de 8 milhões de preservativos masculinos e 85 mil preservativos femininos, além de 200 mil testes rápidos de HIV para todos os 246 municípios goianos. Além disso, o Estado conta com 14 Serviços de Assistência Especializada (SAE) voltados para o tratamento de pessoas vivendo com HIV e 19 Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) que realizam testagem rápida para a população.

Em 2020, a Saúde começou a distribuir o autoteste de HIV nos Serviços de Assistência Especializada, voltado para populações com pouco acesso ao serviço de saúde, como forma de ampliar o diagnóstico na população vulnerável. Uma outra forma de prevenção ofertada é a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) que consiste no uso preventivo de medicamentos antes da exposição ao HIV, reduzindo a probabilidade da pessoa se infectar com o vírus sendo, portanto, usada exclusivamente por pessoas não infectadas pelo HIV.

Para ser elegível à PrEP, são avaliados fatores como múltiplas parcerias, uso inconstante de preservativo nas relações sexuais, práticas sexuais desprotegidas (como sexo sem preservativo), dentre outros, e é encontrada nos Serviços de Assistência Especializada (SAE). É importante esclarecer que a PrEP não substitui o preservativo, pois ela não protege contra outras Infecções Sexualmente Transmissíveis.

Além da PrEP, é disponibilizada a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) à infecção pelo HIV, Infecções Sexualmente Transmissíveis e Hepatites Virais, que consiste no uso de medicamentos antirretrovirais por pessoas após terem tido um possível contato com o vírus HIV em situações como: violência sexual; relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com rompimento da camisinha) e acidente ocupacional (com instrumentos perfuro cortantes ou em contato direto com material biológico).

Para ter eficácia, a PEP deve ser iniciada logo após a exposição de risco (de preferência nas primeiras 2 horas e em até 72 horas) e deve ser tomada por 28 dias. A pessoa deve procurar imediatamente um serviço de saúde que realize atendimento de PEP assim que julgar ter estado em uma situação de contato com o HIV. Por ser um medicamento emergencial, geralmente está disponibilizado em unidade de saúde 24 horas, como por exemplo, CAIS (Centro de Atenção Integrada à Saúde) ou UPA (Unidade de Pronto Atendimento).

A Coordenação de Assistência às IST, Aids e Hepatites Virais realiza capacitações sobre PrEP e PEP para os profissionais da SES-GO, como forma de constante aperfeiçoamento no atendimento ao usuário dos serviços de saúde, além de realização de campanhas de prevenção, palestras e testagens extramuros como forma de divulgação, prevenção e diagnóstico. (Especial para O Hoje)

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