Pão fica mais caro, mas gás e energia pesam mais que trigo no valor final

Consumidores podem optar por outros tipos de alimentos com preços mais acessíveis

Postado em: 18-06-2022 às 08h05
Por: Daniell Alves
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Consumidores podem optar por outros tipos de alimentos com preços mais acessíveis | Foto: Reprodução

A dona de casa Da guia Nunes, 51 anos, conta que percebeu um aumento no valor, já que na casa dela há bastante consumo de pães francês, principalmente na parte da manhã. “Temos comprado a mesma quantidade, mas eu aproveito para fazer torradas, fazemos cachorro quente para não desperdiçar”, aponta. Com uma variação de 265% em 2019, a energia elétrica e o gás foram os principais vilões para o tradicional pãozinho francês. Embutida nos bens e serviços consumidos, esses dois itens têm um peso maior no preço do pão do que o próprio trigo, segundo pesquisa da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace).

Nunes afirma que tem intercalado com outros tipos de alimentos, como bolos e saladas de frutas para substituir o pão nesse momento de alta. “O pão francês é insubstituível, porém sempre estamos tentando comer outros tipos de alimentos até por uma questão de saúde também”, avalia. 

De acordo com a pesquisa, o pãozinho de cada dia é um dos itens que mais sentem o peso do aumento das contas de energia – assim que sai do forno, 31% do preço final do pão é a energia e o gás usados em todo o processo de produção. Também aponta que 14,24% do preço final do produto vem do trigo, mesmo com as altas do grão ainda mais tensionado com a guerra na Ucrânia, um dos principais exportadores. 

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Já a energia e o gás são responsáveis por 31% do custo nos últimos 2 meses. O pãozinho de cada dia é um dos itens que mais sentem o peso do aumento das contas de energia – assim que sai do forno, 31% do preço final do pão é a energia e o gás usados em todo o processo de produção. Um repasse inevitável a cada alta do insumo. O leite sente um impacto ainda maior – 31,3% do preço final é energia. Manteiga, queijo e iogurte, 26,2%. 

Assim como Daguia, a vendedora Eduarda Soares, 21 anos, também tem evitado comer pão todos os dias. Ela comprava no trabalho, mas com o preço elevado tem preferido fazer o café da manhã em casa. “Um pão só passado com manteiga na chapa está R$ 3. Se comprar todos os dias não sobra nada”, aponta. 

Consumidor pode optar por biscoitos ou tapioca 

A variação no preço do alimento é um acúmulo de muitas questões. Aumento do custo de mão de obra, da energia elétrica, transporte e gás. É o que aponta o mestre em Economia, Luiz Carlos Ongaratto. “Envolve o curso sistêmico de toda a economia. Tudo vai ajustando e tem um efeito cascata em cima do produto, com um agravante da escassez de trigo no mercado ou o fim de algumas parcerias, como a Rússia não ter negociado”, aponta. 

Com isso, os preços internacionais mudam e tem ofertas menores. “Como alternativa as pessoas podem consumir outros produtos. Temos o polvilho, biscoitos, tapioca. Alimentos que possam substituir o café da manhã, observando outras formas de preparo”, orienta. 

Energia e gás 

A pesquisa feita pela Abrace revela como mudanças nos preços da energia elétrica, ou do gás natural interferem na produção. “Como toda atividade econômica requer energia, e em alguns setores o uso de energia é bastante intenso, o nível de preços da energia é crítico na determinação de custos e de preços das mercadorias”, explica. 

Por isso, quando há um aumento do custo unitário de uma fonte energética qualquer, esperam-se duas reações possíveis das empresas: o repasse dos aumentos de custo para os preços ou a substituição da fonte de energia.

Todo esse cenário tem impactado no bolso do consumidor. “Hoje, mais da metade da conta [de luz] que o consumidor paga é composta por subsídios, encargos, taxas, impostos. Há muito espaço para melhorar e trazer mais competição para o setor”, pontua Paulo Pedrosa, presidente da Abrace.

Fontes alternativas 

O estudo aponta que, quando a fonte de energia pode ser substituída, é possível a busca de fontes alternativas e mais econômicas de energia. “Se for possível a substituição e se houver disponibilidade de uma fonte de energia mais barata, um produtor pode optar por substituir a fonte que ficou relativamente mais cara, evitando assim o aumento de custo da empresa”.

Entre 2000 e 2019, a tarifa residencial de energia elétrica acumulou variação de 276,7% e o custo do gás de botijão cresceu 260,7%, enquanto que a massa de rendimentos das famílias brasileiras elevou-se em 534,1%. “Essa evolução das contas de luz e de gás abaixo do aumento da renda parece indicar que houve redução do peso da energia nas despesas dos brasileiros, com consequentes ganhos de bem-estar. Mas, na verdade, as elevações dos custos com energia elétrica e gás natural em todos os segmentos de mercado acarretam perda de bem-estar para as famílias brasileiras”.

País não é autossuficiente na produção de trigo, aponta especialista 

O país não é autossuficiente no trigo e depende do produto importado para atender a demanda, de acordo com o coordenador institucional do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Leonardo Machado. 

“Principalmente importações vindas do Mercosul, na Argentina, que fornece trigo para o Brasil. Mesmo assim, esse trigo importado vem no preço de uma commodity precificada internacionalmente. Qualquer problema de fornecimento causa elevação dos preços. Chamo atenção para Rússia e Ucrânia, principais exportadores de trigo. Como estão em conflito, o valor subiu bastante”, avalia. 

Além disso, ele cita a alta cambial do dólar que encarece o produto importado. Isto faz com que o preço do trigo aumente. “Não há previsão de mudança porque o conflito ainda está ocorrendo na Ucrânia e os países não têm conseguido fazer as exportações, tudo isso tem dificultado”, finaliza. 

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam que a produção goiana de trigo deve crescer 35,7% em 2022 e chegar a 175,5 mil toneladas. As informações constam na edição de junho do Agro em Dados, boletim mensal da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).

O documento deste mês apresenta também análises e números sobre bovinos, suínos, frangos, lácteos, soja e milho. O milho, por exemplo, teve, de janeiro a abril, aumento de 74,1% (em valor) nas exportações goianas em comparação com o mesmo período do ano passado.

“Com estimativa de bater recorde na produção de grãos e de alcançar o terceiro melhor resultado nacional em produtividade, o agronegócio goiano se mostra cada vez mais forte”, avalia o secretário estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tiago Mendonça.

Além disso, o levantamento traz um capítulo especial sobre as Centrais de Abastecimento de Goiás (Ceasa). O entreposto registrou R$ 1,1 bilhão em negócios no primeiro quadrimestre de 2022, alta de 26,7% em relação aos quatro primeiros meses de 2021. Os principais produtos comercializados foram aves e ovos, hortaliças e frutas.

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