Maioria dos brasileiros têm a percepção que saúde piorou devido a Covid-19
Cerca de 70% das mortes são causadas por consequências das doenças crônicas
A pandemia da Covid-19 gerou vários impactos no âmbito social, sejam eles econômicos, na educação, no saneamento básico, na política, no mercado de trabalho, mas principalmente na saúde dos brasileiros. Segundo uma pesquisa do Covitel, inquérito de vigilância sobre doenças crônicas não transmissíveis, entre o período pré-pandemia (2019) e o primeiro trimestre de 2022, a quantidade de brasileiros que avaliam negativamente o próprio estado de saúde aumentou 91,8%, o avaliando como ruim ou muito ruim.
A saúde está interligada com vários outros fatores como bons hábitos alimentares, prática de exercícios físicos e cuidados mentais. Em relação ao consumo de legumes e verduras, houve queda de 12,5% na população em geral, e a prática de atividade física sofreu redução de 21,4% na proporção de pessoas que cumprem o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), conforme o levantamento.
Um fator fortemente impactado em decorrência da pandemia foi a saúde mental. Foi observado pela pesquisa que a Covid-19 gerou um aumento no diagnóstico de depressão entre os adultos brasileiros. Além disso, paralelamente ao aumento de casos de depressão, foi observada a estagnação de índices que vinham melhorando nos últimos anos, como por exemplo o tabagismo.
A pesquisa aponta no indicador de saúde mental que, entre o período analisado, o diagnóstico médico de depressão aumentou 41%, sendo que, entre mulheres, houve aumento de 39,3%, e em pessoas com maior escolaridade, ou seja, 12 anos ou mais de estudo, sofreu crescimento de 53,8%.
No que se refere a doenças crônicas, o levantamento aponta que, no Brasil, cerca de 70% das mortes são causadas por consequências das doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) e seus agravos. De acordo com Pedro Hallal, professor titular da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e um dos coordenadores da pesquisa, o inquérito mostrou que a pandemia atrapalhou no enfrentamento dessas doenças, aumentando comportamentos de risco, citando como exemplo a inatividade física.
A problemática apontada por Hallal está atrelada à diminuição da prática de atividade física e à piora de hábitos alimentares. “A redução da prática de pelo menos 150 minutos de atividade de intensidade moderada por semana aconteceu ao mesmo tempo em que os hábitos alimentares pioraram, com a diminuição do consumo de verduras e legumes, por exemplo. O único destaque positivo com relação a alimentação foi a redução de consumo de refrigerantes e sucos artificiais, que caiu 25,4% no Brasil”, afirma.
Apesar de não terem sofrido aumento estatisticamente significativo, os indicadores da prevalência de diagnóstico médico confirmado para hipertensão e diabetes chamam atenção. De acordo com a análise de Luciana Sardinha, Assessora Técnica de Saúde Pública e Epidemiologia da Vital Stategies e uma das coordenadoras do estudo, a estabilidade pode estar vinculada ao menor acesso a diagnóstico médico no período de isolamento social, “quando as pessoas deixaram de procurar os serviços de saúde, prejudicando, consequentemente, os tratamentos oportunos para essas importantes questões de saúde.
De acordo com Pedro de Paula, Diretor Executivo da Vital Strategies, as doenças crônicas não transmissíveis podem ser evitadas. O diretor explica que, dados como os trazidos pelo Covitel são fundamentais para a vigilância em saúde, “orientando as prioridades, o planejamento e ações relacionadas às políticas públicas de saúde”
Desigualdades em saúde
O inquérito avaliou ainda indicativos de como a pandemia agravou as desigualdades em saúde, conforme publicado, apontando que o grupo de pessoas que perdeu o trabalho durante a pandemia teve o pior resultado em oito dos doze indicadores que tiveram mudanças significativas estatisticamente, no Brasil.
Em relação ao esquema vacinal, no primeiro trimestre de 2022, haviam completado o esquema vacinal 94,4% das pessoas com maior escolaridade, enquanto apenas 76,9% daqueles com menor escolaridade, ou seja, de 0 a 8 anos de estudo, haviam recebido todas as doses recomendadas. Segundo Pedro de Paula, é necessário que haja investimento em “uma agenda baseada em dados, trabalho conjunto, enfrentamento de desigualdades e, claro, combate às doenças crônicas não transmissíveis”. Além disso, ele explica que, com inteligência em saúde pública, “prevenimos doenças, promovemos a qualidade de vida e, principalmente, salvamos vidas”, sendo benéfico uma vez que, “ao mesmo tempo que otimizamos recursos, reduzimos os custos destinados a tratamentos e consequências da perda da produtividade de uma população adoecida”, afirma o diretor executivo.