Pequena e médias empresas goianas adotam modelos mais sustentáveis
Desde biojoias a mercado imobiliário, empreendedores têm voltado a atenção para ideias mais sustentáveis
Madeira, raízes, galhos, ossos, chifres e entre outros materiais o que aparentemente não serve para nada Alda Assis soube inovar e usou como fonte de renda e hoje até ministra aulas de como fazer dinheiro por meio de materiais sustentáveis para produzir biojoias.
Em Goiás, algumas empresas e incorporadoras procuraram adotar o modelo mais sustentável, como é o caso da microempreendedora Alda, que trabalha com biojoias há 11 anos na Filhas de Marias Biojoias. Segundo ela explica, as biojoias são acessórios que tem como matéria prima orgânicos de qualidade que são de origem do Cerrado como como madeira, raízes, galhos, ossos, chifres e entre outros materiais. A loja da Alda tem como carro chefe colares, brincos, pulseiras e anéis.
Mas, o início dessa história foi pela necessidade. “Eu era casada e tinha uma empresa com meu marido, mas quando nos separamos eu saí com uma mão na frente e outra atrás e tive que me reinventar porque também pensei que não teria oportunidade no mercado de trabalho. Mas acabei me envolvendo com o artesanato e busquei me evoluir”.
Ela resolveu inovar em um mercado voltado para joias bem diferente do convencional. “De jóias normais o mercado já está saturado e eu também procurei algo voltado para a sustentabilidade”. Para Alda a maior dificuldade de quando começou foi lidar com o público. “Lidar com vendas foi o mais desafiador. Eu não tinha muita comunicação para lidar com os clientes. E com relação ao investimento eu tive que ir atrás de matérias primas de qualidade”.
Alda acredita que pelo fato da sua loja ser sustentável ela consegue atrair mais clientes do que se tivesse loja de produtos tradicionais. “Tenho muitos clientes porque hoje em dia o mundo valoriza mais esse lado, o que é sustentável e natural”.
Estudo da empresa de logística UPS divulgado no início desta semana aponta que cerca de 65% das pequenas e médias empresas (PMEs) se consideram sustentáveis. Olhando o outro lado da moeda, 7% das empresas analisadas não se consideram sustentáveis de nenhuma forma. A pesquisa mostra ainda que 28% das PMEs se consideram “muito sustentáveis”, 37% “um pouco sustentáveis” e 22% “não muito sustentáveis”. Um terço das 103 PMEs que participaram do estudo no Brasil relataram ter planos para tornar suas empresas ainda mais sustentáveis.
De aprendiz a instrutora
Alda assim como todo empresário que resolve começar um negócio do zero teve as suas dificuldades, mas isso não a impediu de progredir. Ela vai ministrar até o próximo dia 2 de julho o curso para ensinar a confecção de biojoias de forma artesanal, aos moradores do bairro Residencial Goiânia Viva e setores adjacentes à região Oeste de Goiânia. A participação da oficina é gratuita e contará com a oferta de 30 vagas.
“Acreditamos que é possível transformar algumas realidades econômicas, sociais e emocionais por meio de uma formação e capacitação com o artesanato. Assim como aconteceu comigo, outras pessoas podem encontrar nessa profissão novos caminhos para se sustentar, a si e aos filhos, numa vida com mais perspectivas econômicas, autonomia, autoestima e qualidade de trabalho. O artesanato pode ser pensado e encarado como essa alternativa real de autonomia econômica”, aposta a artesã.
O curso de formação em biojoias é iniciativa do Projeto Travessia: o artesanato como instrumento de transformação do indivíduo e fomentador da economia local e o principal objetivo segundo a artesã é proporcionar uma possibilidade de renda para famílias de baixa renda já que quando ela começou enfrentou o problema da falta de qualificação profissional.
Mercado imobiliário sustentável
Uma prática que tem se popularizado em Goiás é a ESG (Environment, Social e Governance que significa Governança Ambiental, Social e Corporativa, em tradução livre). “O mundo está mais sensível a essas questões após perceber o mal que provocou à natureza durante muito tempo. Agora, as empresas começam a dar atenção a essas práticas, alinhando o crescimento com o caminho mais sustentável, pensando em boas práticas sociais, ambientais e governança”, explica Maurício Vono, planejador financeiro pessoal e CEO da YUNO, empresa de gestão de investimentos.
Agora é mais necessário do que nunca que empresas se preocupem em estar regularizadas no quesito ambiental. O Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), por exemplo, possui uma série de regulamentações e cobra das incorporadoras a adoção de medidas para a diminuição do impacto da construção no meio ambiente, como a coleta seletiva e a logística reversa.
Sócio da GPL Incorporadora, Guilherme Pinheiro de Lima acredita que a adoção de medidas socioambientais pelas empresas contribuem para impactar e mobilizar todo o setor a adotar medidas semelhantes. “Essa é uma busca antiga que está sendo impulsionada com o avanço de tecnologias e materiais que buscam proporcionar um setor mais sustentável. Isso mexe com toda a estrutura, já que os parceiros dessas empresas também passam a ser pressionadas para adotar medidas mais sustentáveis e que proporcionem um aproveitamento correto de todos os materiais e o correto descarte dos resíduos da construção”, destaca.
Para ele, além do mercado investidor, o consumidor final também está cada vez mais atento às questões ambientais e sociais na hora de sua decisão de compra. “As pessoas têm pesquisado mais e visto as atitudes e o que as empresas têm feito além dos seus serviços principais. Dessa forma, elas não estão buscando apenas companhias que fazem casas e apartamentos, mas estão avaliando o comportamento e as ações voltadas para as ações socioambientais”, completa Guilherme.
Ela lembra que as práticas de ESG envolvem também as pessoas. “Um dos nossos selos é o social que destina um percentual do VGV (Valor Geral de Vendas) para projetos sociais desenvolvidos pelo nosso setor de RSA. Esse investimento, por exemplo, é aplicado na escola da obra, onde colaboradores podem fazer cursos para completar a escolaridade ou formações técnicas. No final, todos ganham: a sociedade, a natureza quando reduzimos impactos, os colaboradores, os clientes com as economias, facilidades e a empresa”, conta a gerente da Consciente, que já ganhou certificados como uma das Melhores Empresas para se Trabalhar no Brasil, o Prêmio Chico Mendes de Sustentabilidade, entre outros.
No mundo todo estima-se que cerca de US$ 30 trilhões em ativos estão sob gestão de fundos que aplicam recursos em negócios e empresas com práticas sustentáveis. Marcelo Vono aponta que as empresas que se preocupam em usar ESG têm preferência na escolha quando se trata de investimentos já que correm menos riscos regulatórios por seguirem as leis e os regulamentos ambientais.
No Brasil, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Ambima), existem 25.488 fundos de investimento em geral em operação, com patrimônio líquido total perto de R$ 7 trilhões. Desse total, apenas R$ 1,07 bilhões são referentes a fundos enquadrados na categoria sustentabilidade e governança, segundo dados de fevereiro de 2021.
O volume ainda não é o ideal, contudo os números de fevereiro de 2021 foram o dobro do quantitativo do ano anterior. Segundo a Ambima, houve um crescimento nos últimos cinco anos de aproximadamente 50% no número de fundos que se apresentam de alguma maneira como sustentáveis, e de quase 300% em seus ativos sob gestão.