Crise eleva devolução de imóveis e renegociação do crédito imobiliário

A porcentagem de desistências de imóveis aumentou 16% em 2022 puxada pela inflação e juro alto

Postado em: 12-09-2022 às 09h13
Por: Sabrina Vilela
Imagem Ilustrando a Notícia: Crise eleva devolução de imóveis e renegociação do crédito imobiliário
Além dos financiamentos com juros fixos, os bancos passaram a oferecer opções com juros pré-fixados atrelados à inflação | Foto: Wagner Pereira

Revendedor de peças, Rivonaldo Regis de Souza possui o sonho que outros 87% dos brasileiros têm: conseguir a casa própria. Com o objetivo em mente, Rivonaldo, conhecido como Baiano, deu início a compra de um lote na cidade de Brazabrantes – há mais de 42 quilômetros de Goiânia. Contudo, em 2021 ele teve que deixar de pagar o lote. 

Ele atrasou uma parcela do carnê, depois de ter o dinheiro em mãos ele tentou pagar, mas a imobiliária não conseguiu ter acesso ao boleto atrasado. Com isso as dívidas junto à imobiliária se tornaram uma “bola de neve”, com oito meses de atraso. Por fim, ele resolveu desistir do empreendimento, mas como não conseguiu devolver para a imobiliária sem adquirir prejuízos financeiros, ele vendeu o ágio do lote para um amigo que pagou as parcelas atrasadas e o que ele já tinha pago. Dessa forma ele recuperou o dinheiro investido. 

Antes o revendedor morava no setor São Judas, região Norte de Goiânia, mas quando conseguiu o lote ele mudou para a cidade de Brazabrantes para começar a construir. Ele comprou todos os materiais necessários e deixou em um depósito até iniciar, mas ele nem chegou a usá-los. Portanto, assim como o lote ele vendeu os materiais aos poucos. 

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Foto: Divulgação

Mais comum do que se imagina

Desistir de ter a casa própria e devolver o imóvel se tornou mais comum nos últimos dois anos devido à pandemia.  A porcentagem de desistências de imóveis aumentou 16% em 2022 segundo segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), com dados do sistema Indicadores Abrainc/Fipe. Pandemia, inflação e juros altos foram os principais motivos para as devoluções. A taxa básica de juros (Selic) esteve no patamar histórico mais baixo, com 2% ao ano e isso favoreceu linhas de crédito imobiliário com juros em torno de 8% ao ano. 

Além dos financiamentos com juros fixos e Taxa Referencial (TR) em sistemas de amortização SAC ou Price, os bancos passaram a oferecer opções com juros pré-fixados atrelados à inflação, que em 2021 começou com 4,5% em 12 meses. Esse fato contribuiu para que a inflação saltasse e chegasse a 13,75%. Já a média de juros fixos está na média de 10%.

De acordo com Abecip, a quantidade de pessoas que compram imóveis na planta que desistem, chamada de distrato, teve elevação para 16% entre janeiro e maio de 2022.  

Distratos

Superintendente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), Felipe Melazzo explica que em 2022 houve fatores que contribuíram para as desistências como o incremento de mais de 40% no volume das vendas. Outro fator apontado pelo especialista é a pandemia, onde algumas pessoas tiveram maior impacto em suas vidas. Nesse período elas perderam renda, emprego e até mesmo a vida. “É natural que haja o aumento dos distratos, tendo ocorrido um incremento significativo nas vendas. Mas o ponto é que o volume de distratos, mesmo tendo um pequeno aumento, não apresenta níveis de preocupação para o Setor”.

A principal recomendação para quem quer dar o pontapé inicial para comprar a casa dos sonhos é obter um imóvel que comprometa além do necessário o orçamento do adquirente. Esse é um dos principais motivos que podem causar o aumento dos distratos, conforme aponta Melazzo. Ele afirma ainda que o Adquirente precisa ter conhecimento de que deve-se comprar um imóvel que esteja regularmente registrado perante ao Cartório de Registros de Imóveis competente, além de ter em mãos as certidões da vendedora. “Quando se adquire um imóvel na planta, esses documentos podem ser solicitados à incorporadora ou solicitados junto ao cartório de registro de imóveis competente”.

Diretor comercial da construtora EBM, esclarece  que para que não haja tantos distratos, eles fazem uma análise de crédito. “A gente trabalha com retenção, temos vários processos dentro da empresa para evitar esse tipo de coisa. Mas, acontece”. Ele conta também que quando as parcelas estão em atraso eles se preocupam em preservar o negócio ao máximo, por isso eles contam com um departamento específico para conseguir segurar o cliente.

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