Brasileiro enche o tanque, mas carrinho de compra está mais vazio

Somente os combustíveis registraram alta, reflexo do recuo dos preços da gasolina

Postado em: 10-10-2022 às 07h30
Por: Alexandre Paes
Imagem Ilustrando a Notícia: Brasileiro enche o tanque, mas carrinho de compra está mais vazio
Somente os combustíveis registraram alta, reflexo do recuo dos preços da gasolina | Foto: reprodução

As vendas do comércio frustraram as expectativas e recuaram pelo terceiro mês seguido, caindo 0,8% em julho, levando o setor para o patamar próximo do período pré-pandemia, de fevereiro de 2020. É o que aponta a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados mostram que o brasileiro esvaziou o carrinho de compras, mas, ao mesmo tempo, encheu o tanque do carro, pois o setor de combustíveis foi o único segmento a apresentar queda nos preços e alta nas vendas.

De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor do IBGE, os preços no atacado acumulam alta de 18% em doze meses, o que exige repasse de custos por parte dos varejistas. O crédito mais caro já cobra seu preço sobre as vendas dos setores de eletrodomésticos e veículos, por exemplo.

Em meio a tanta inflação, o brasileiro tem criado diversos métodos para tentar economizar na hora de colocar os alimentos no carrinho de compras. A dona de casa Sara Costa, 41, diz se assustar todas as vezes que vai até o mercado, e isso é devido ao constante aumento nos preços de alimentos básicos.

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“Ultimamente nem ando indo ao supermercado, porque nunca vemos anúncios de desconto ou diminuição no preço das coisas. Antes enchia meu carrinho e a comida durava cerca de 30 dias. Hoje eu saio do mercado com menos da metade do carrinho completa. Não tem durado nem 15 dias”, relata Sara.

Seu José Mendonça, 36, trabalha como motorista de aplicativo. Para ele, tem sido mais fácil rodar pela cidade depois da queda no preço do combustível. Porém, todo lucro mensal tem sido deixado no caixa dos supermercados. 

“Como o litro do combustível diminuiu consideravelmente, encher o tanque ficou mais fácil, e o pouco lucro que temos com as viagens passou a render. Só que quando vamos fazer compras, mais da metade do que lucramos rodando em uma semana fica todo no caixa do mercado. Essa semana mesmo gastei mais de R$ 285,00 so com alguns legumes na feira e outros alimentos da cesta básica”, desabafa.

O economista Luiz Carlos Ongaratto explica que diante da redução da capacidade de consumo atual, o brasileiro tem feito escolhas na hora de consumir. “O fato de ter aumento de preços influencia na decisão de consumo. O consumidor pode tomar a decisão de gastar mais em serviços e economizar no supermercado, por exemplo”, pontua o especialista.

Auxílios não contribuem com a renda do consumidor

Os setores que mais contribuíram para os números negativos na economia goiana foram os de artigos de uso pessoal e doméstico (-31,0%); tecidos, vestuário e calçados (-11,9%); Móveis e eletrodomésticos (-5,7%); e Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-3,7%).

No entanto, o também economista Diego Dias avalia que benefícios federais como o Auxílio Brasil no valor de R$ 600, o vale-gás e o voucher de R$ 1 mil para caminhoneiros autônomos, não ofereceram tanta ajuda no desempenho de consumo do Brasileiro.

“Uma renda extra aliviou o bolso daqueles brasileiros que estão superendividados. Isso não aumenta o poder aquisitivo, pelo contrário, faz com que o consumidor priorize algumas demandas. A maior delas, depois da pandemia, foi manter seus veículos que parte das vezes se tornou o melhor meio de locomoção até o trabalho”

Combustível barato, tanque cheio 

Das dez atividades investigadas pela pesquisa, nove recuaram no mês de julho. Apenas a atividade de combustíveis e lubrificantes mostrou crescimento, com avanço de 12,2% em relação ao mês anterior.

Ongaratto justifica que houve uma queda de 14,15% nos preços, de acordo com dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) de julho, o que resultou na política de redução do preço dos combustíveis. 

“A Petrobras reduziu o preço da gasolina em julho, e o do diesel caiu logo no início de agosto, efeito do corte da alíquota do ICMS e da queda da cotação do petróleo”, explicou. 

“Quase todo goiano está aproveitando a baixa no preço do combustível pra andar de tanque cheio e ainda viajar. Fato que também pode explicar a diminuição no consumo de produtos básicos dos supermercados”, pontuou Diego Dias.

Perspectivas

A perspectiva dos analistas econômicos para o comércio não é animadora neste fim de ano.  Luiz Carlos Ongaratto reforça que, embora mais otimistas, o aumento da confiança não tem se refletido nas avaliações sobre o presente, já que pelo segundo mês consecutivo os indicadores que medem a demanda seguem em queda.

“Para os próximos meses ainda é possível imaginar resultados positivos, mas é necessária cautela considerando o ambiente macroeconômico ainda frágil e com alguma oscilação devido à proximidade do segundo turno das eleições”, destaca o economista.

“O setor lida com a escalada dos juros, o que encarece o crédito, ou melhor dizendo, o parcelamento no famigerado cartão na hora da compra de presentes durante as festividades”, finaliza Diego Dias. (Especial para O Hoje)

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