Primeira da família na universidade: quem era a jovem morta após violência sexual em calourada na UFPI

O corpo de Janaína da Silva Bezerra, jovem morta durante uma festa de estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI), foi velado na tarde de domingo (29/1), na Zona Norte de Teresina. Segundo a polícia, a estudante teve o pescoço quebrado após ser estuprada em um prédio do Centro de Ciências da Natureza (CCN) da universidade.

Amigos e familiares se emocionaram durante a despedida. Ao portal G1, a cunhada Andreza Almeida contou que Janaína era uma pessoa estudiosa e foi a primeira da família a ingressar no ensino superior.

“Era muito estudiosa. Só vivia pra estudar. Gostava muito de ler, falava que um dia iria escrever um livro. Assim que entrou na universidade, precisava muito de um computador e, sem ter condições, começou a fazer bolos no pote pra vender e conseguir comprar”, contou.

A jovem ingressou no curso de Jornalismo da UFPI no segundo semestre de 2020 e já estava juntando dinheiro para pagar a formatura. “A mãe dela fazia de tudo pra ajudar. A mãe saia de um lado, Janaína pra outro pra vender os bolos. Até que conseguiu juntar o dinheiro e comprar o tão sonhado computador. Falava que só ia estudar pra tirar a mãe dela da vida de miséria”, relembrou Andreza.

Entenda

Janaína da Silva Bezerra morreu no sábado (28/1) após ter o pescoço quebrado em um possível estupro. Um laudo preliminar do Instituto de Medicina Legal de Teresina (IML) confirmou violência sexual contra a jovem. O crime ocorreu em uma sala do Programa de Pós-Graduação em Matemática.

Um homem, aluno do pós-graduando em Matemática, estava com a vítima durante a festa e foi visto por um vigilante saindo com ela nos braços, desacordada, com as roupas sujas de sangue. Ele foi preso suspeito de feminicídio e estupro.

De acordo com a médica legista responsável pela necropsia, a lesão pode ter sido causada por pancada, que teria torcido ou traumatizado a coluna vertebral. Uma das possibilidades investigadas é a ação das mãos no pescoço da vítima “com intuito de matar ou fazer asfixia, queda, luta, dentre outras possibilidades que estão sendo analisadas”.

Em depoimento à Polícia Civil, o suspeito afirmou que conhecia a vítima e que já teriam se relacionado em outros momentos. Ele disse ainda que ambos estavam na festa e que, por volta das 2h, teria convidado a jovem para ir a um corredor. Em seguida, foram a uma das salas de aula onde, segundo depoimento do suspeito, “praticaram sexo consensual e que após a prática sexual a vítima teria ficado desacordada”.

O diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Francisco Baretta, afirma se tratar de estupro. A Polícia Civil pediu a prisão preventiva do suspeito. Segundo o DHPP, o inquérito policial será concluído em até dez dias.

Festa sem autorização

A UFPI publicou uma nota lamentando a morte. No documento, a instituição também informou que o evento não tinha autorização para ocorrer. A universidade disse, ainda, que o reitor determinou a instauração de um processo administrativo para a apuração dos fatos.

Confira a nota da UFPI

Com imenso pesar, a Universidade Federal do Piauí (UFPI) comunica e lamenta profundamente que, na manhã de hoje (28), a Coordenadoria de Segurança e Vigilância da Instituição encontrou, no espaço da sede do Diretório Central dos Estudantes (DCE), no Campus de Teresina, uma jovem desacordada, que foi urgentemente levada, por equipe de seguranças da Universidade, para o Hospital da Primavera.

Até o momento da elaboração desta nota, não há identificação formal da vítima e divulgação de laudo pericial pelo órgão responsável. Todas as providências para colaborar com as investigações das autoridades policiais, como isolamento da referida área no campus e boletim de ocorrência, foram adotadas imediatamente pela UFPI. Além disso, a Universidade está efetuando o levantamento de todas as imagens captadas por câmeras de segurança.

O fato aconteceu em festa promovida pelo DCE, nas instalações do próprio Diretório, sediado no prédio do Centro de Ciências da Natureza (CCN), sem autorização de qualquer autoridade da Universidade.

A UFPI desaprova quaisquer eventos que adotem condutas que coloquem em risco a comunidade acadêmica, e preza pela segurança e bem estar de estudantes, professores e servidores técnico-administrativos, com a adoção de diversas estratégias constantemente divulgadas à comunidade.

As primeiras informações apontam para a ligação do fato a um suspeito já detido pelas autoridades policiais, após condução do mesmo por seguranças da UFPI. A Administração Superior continuará acompanhando as informações oficiais sobre o fato e se une à sociedade no desejo por justiça.

Na manhã deste sábado (28), o Reitor da UFPI determinou a imediata instauração de processo administrativo para apuração dos fatos, bem como a responsabilização dos envolvidos e disponibilizará todo o apoio que possa auxiliar no trabalho das autoridades policiais.

Este é um momento de grande dor e tristeza, que deixa consternada toda a comunidade ufpiana. A UFPI se solidariza com familiares e amigos da vítima, e se coloca à disposição para apoio e providências. Manifesta as mais sinceras condolências diante do triste acontecimento.